Powell e Trump: confronto público sobre a política monetária dos EUA (Getty Images)
Repórter
Publicado em 3 de julho de 2025 às 06h56.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou a pressão sobre o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, nesta quarta-feira, 3, exigindo sua renúncia imediata. Trump, que nomeou Powell para o cargo em 2018, tem se mostrado cada vez mais frustrado com a postura do atual presidente do Fed, especialmente em relação à política de juros, que ele considera um obstáculo ao crescimento econômico.
Em uma postagem em seu perfil na rede social Truth Social, Trump atacou Powell, referindo-se ao presidente do Fed como "o Lerdão", e declarou: “Ele deveria renunciar imediatamente!”. A declaração veio após críticas do diretor da Agência Federal de Financiamento de Habitação (FHFA), Bill Pulte, que acusou Powell de mentir durante sua última audiência no Senado sobre as renovações do prédio do Fed.
A relação entre Trump e Powell já estava tensa há meses, especialmente devido à recusa de Powell em baixar os juros. Trump tem pressionado o Fed para que reduza a taxa de juros de referência, atualmente em 4,25% a 4,5%, alegando que esse patamar impede o crescimento da economia americana. Powell, por sua vez, tem defendido a postura do Fed, afirmando que suas decisões são baseadas em análises econômicas e não políticas. Na terça-feira, Powell afirmou que o impacto das tarifas impostas pela Casa Branca ainda não havia sido suficientemente analisado, mas que poderia haver um corte de juros em julho, dependendo da situação.
Segundo Neil Dutta, chefe de pesquisa econômica da Renaissance Macro, a frustração de Trump com Powell é clara. "Trump quer um Fed que trabalhe para seus objetivos de curto-prazismo, mas Powell tem seguido uma abordagem mais cautelosa, o que gerou uma tensão crescente entre os dois", explicou ele à Bloomberg. O presidente dos EUA vê a política monetária como um ponto essencial para estimular a economia, especialmente em um período de incerteza, causado em parte pelas suas próprias políticas, como as tarifas sobre importações. Trump, que busca manter a economia em crescimento, acredita que uma redução nas taxas de juros pode ajudar a acelerar esse processo.
A postura de Powell, que se manteve firme em sua posição, gerou frustração no governo Trump, que vê a política monetária como um ponto crucial para impulsionar sua agenda econômica. Trump, que é conhecido por suas críticas públicas, não economizou nas palavras, repetidamente sugerindo que o presidente do Fed estava "atrasado" e "não sabia o que estava fazendo". A retórica agressiva e os ataques pessoais não são novidades: Trump chamou Powell de "terrível", "muito burro" e "um perdedor", além de acusá-lo de "fazer política".
No entanto, Powell e outros membros do Fed têm alertado que a redução das taxas de juros poderia abrir portas para o aumento da inflação, algo que poderia ser ainda mais prejudicial a longo prazo. "A postura de Powell é uma questão de responsabilidade. Ele está tentando garantir que a economia continue em equilíbrio, enquanto Trump quer uma ação mais imediata, que poderia ter efeitos adversos a longo prazo", afirmou David Kelly, estrategista-chefe da JPMorgan Funds, à Bloomberg.
Apesar das frequentes críticas, Powell tem se mantido em seu posto e, ao longo dos meses, tem reafirmado a independência do Fed, argumentando que o banco central deve agir de acordo com as metas estabelecidas pelo Congresso, e não com as pressões políticas do governo. “Estou muito focado em apenas fazer meu trabalho”, disse ele recentemente.
A pressão sobre Powell aumentou ainda mais nesta semana, com novas acusações e um pedido de investigação de sua conduta. Trump, por sua vez, seguiu insistindo que Powell deveria sair do cargo, e alguns aliados do presidente chegaram a sugerir que ele poderia tentar a remoção de Powell, algo sem precedentes devido à independência do Fed, garantida por lei.
"O que Trump não aceita é a postura de Powell, que tem se mantido firme em sua independência e se recusado a ceder às pressões políticas", disse Christopher Waller, um dos atuais governadores do Fed, segundo a Bloomberg.
O presidente do Fed não pode ser demitido pelo presidente dos Estados Unidos sem a comprovação de justa causa, como estabelece a legislação americana. A independência do banco central é protegida por lei e pela Constituição, o que impede que um presidente dispense o chairman por discordâncias políticas ou decisões sobre a política monetária.
A lei americana permite a demissão de membros do conselho do Fed apenas em casos de má conduta, impropriedade ou ineficiência — e não por divergências em relação à taxa de juros ou à condução da economia. Powell, indicado por Donald Trump em 2017 e reconduzido por Joe Biden, tem mandato até 2026 e já afirmou publicamente que não renunciaria ao cargo, mesmo que fosse pressionado a fazê-lo.
O mandato de Jerome Powell à frente do Fed vai até maio de 2026, mas a pressão política e as críticas de Trump levantam dúvidas sobre seu futuro. Se Powell decidir continuar no cargo, ele poderá influenciar as decisões políticas do banco central até o fim de sua nomeação. No entanto, a relação tensa entre Trump e Powell continua a ser um dos maiores desafios da administração, especialmente à medida que o presidente busca alinhar a política monetária às suas metas econômicas.
Para Michelle Weaver, analista do Morgan Stanley, a pressão de Trump em relação ao Fed é "parte de uma tentativa mais ampla de controlar a política monetária para atender aos seus objetivos eleitorais." "Ele está buscando um banco central mais submisso à sua agenda", disse ela à Bloomberg.
A remoção de Powell, no entanto, seria um movimento sem precedentes e representaria um desafio direto à independência do Fed, algo que é garantido por lei desde a sua criação em 1913. Se Trump tentasse demitir Powell, isso poderia gerar uma crise institucional, afetando a confiança do mercado e a estabilidade financeira.
Trump, que frequentemente criticou Powell por aumentos nos juros e chegou a chamá-lo de "inimigo", já cogitou removê-lo da presidência do conselho do Fed e nomear outro para a função. No entanto, essa substituição exigiria o aval da maioria dos demais membros do comitê, o que hoje parece improvável, dado o perfil dos atuais integrantes.