Paul Bulcke: presidente do conselho da Nestlé deixará o cargo em abril de 2026, um ano antes de sua aposentadoria. (FABRICE COFFRINI/AFP/Getty Images)
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Publicado em 8 de julho de 2025 às 08h48.
O anúncio de que Paul Bulcke deixará a presidência do conselho da Nestlé em abril de 2026 ocorre em meio a insatisfações crescentes de investidores sobre os rumos da companhia. Segundo fontes ouvidas em reportagem exclusiva da Reuters, preocupações com o desempenho fraco das ações, a gestão do ex-CEO Mark Schneider e um modelo de governança considerado ultrapassado pesaram para a decisão.
As ações da Nestlé caíram 42% entre 2022 e 2024, enquanto rivais como a Unilever e a Danone avançaram 15% e 19%, respectivamente, no período. Além disso, o endividamento aumentou, atingindo 2,9 vezes o Ebitda ajustado no fim de 2024, ante 2,5 vezes no fim de 2023.
“A Nestlé não está em modo de crise, mas é o momento certo para uma mudança”, afirmou Ingo Speich, chefe de sustentabilidade e governança corporativa da Deka Investment, um dos 30 maiores investidores da empresa, que votou contra Bulcke na assembleia-geral de abril.
Speich criticou o fato de Bulcke estar há mais de uma década no conselho, o que, segundo ele, retira a independência do cargo.
Bulcke, de 70 anos, presidia o conselho desde 2017 e estava previsto para se aposentar apenas em 2027. A decisão surpreendeu parte do mercado, considerando que o executivo havia sido reeleito para mais um mandato em abril, ainda que com apoio menor do que em anos anteriores - 84,8% dos votos, contra quase 96% na eleição em 2017.
“Isso foi um sinal claro de que muitos investidores não o apreciavam mais”, disse um acionista que preferiu não se identificar. “Ele nunca deveria ter sido presidente - não gostamos de ver CEOs virando presidentes sem um período de afastamento.”
Entre as críticas, também foi citado a manutenção do ex-CEO no comando em meio à queda no desempenho após 2022. A Nestlé enfrentou problemas como o uso de métodos proibidos para purificar água na França e gargalos na cadeia de suprimentos nos Estados Unidos.
“Os acionistas só querem uma coisa: retorno. E, se ele não vem, as pessoas ficam insatisfeitas”, afirmou um investidor à Reuters.
Pablo Isla, ex-CEO da Inditex, dona da Zara, assumirá a presidência em 2026. Investidores veem com bons olhos a chegada de Isla, apostando em uma gestão mais ágil e moderna para a companhia.
“Precisamos de uma execução melhor na Nestlé”, disse Simon Jaeger, gestor na Flossbach von Storch, investidora da empresa. “Por isso, é bom ter um sopro de novidade na posição de presidente do conselho.”