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A 'nova' JBS na bolsa: Com valorização de 30% na mira, bancos dão compra para BDRs

Com ações listadas na NYSE, companhia busca reduzir desconto de valuation frente a pares americanos e ganhar flexibilidade para novas aquisições

As ações JBSS3 sobem 1,93% na B3, enquanto os papéis JBSAY, listados em Nova York, avançam 2,78% (JBS/Divulgação)

As ações JBSS3 sobem 1,93% na B3, enquanto os papéis JBSAY, listados em Nova York, avançam 2,78% (JBS/Divulgação)

Publicado em 17 de junho de 2025 às 06h19.

A estreia da JBS na Bolsa de Valores de Nova York marca o início de uma nova fase, mais ambiciosa.  

Após anos de planos adiados, a empresa concluiu na semana passada sua dupla listagem, dando um passo importante para ampliar sua base de investidores e tentar fechar o gap de valuation em relação aos concorrentes listados nos Estados Unidos.

Além disso, a companhia pretende aumentar sua flexibilidade estratégica, com uma estrutura de super voto que permite à família Batista fazer novas aquisições dando ações em troca, em perder o controle da companhia. 

Mas quanto valem as ‘novas’ ações da JBS? BTG (do mesmo grupo de controle de Exame), Safra e Goldman Sachs divulgaram suas previsões tanto para as ações listadas nos Estados Unidos, quanto para os BDRs negociados na B3, todos com recomendação de compra.  

O Goldman vê um preço-alvo de US$ 19,50 para as ações listadas nos Estados Unidos nos próximos 12 meses, enquanto o BTG e o Safra estimam um preço-justo de US$ 19 no mesmo período – altas de cerca de 25% sobre a cotação de fechamento de ontem.

Já os BDRs (JBSS32) listados na B3 são avaliados em R$111,40,  R$110 e R$ 112, respectivamente, um potencial de alta na casa dos 30%.

Conforme os analistas do Goldman Sachs, a previsão de crescimento global da população é um vento de cauda estrutural para a JBS, já que a demanda por proteínas deve continuar em alta.  Além da demanda, a empresa também tem uma sólida geração de fluxo de caixa livre (FCF), estimada em 24% nos próximos três anos. 

Mais sobre re-rating...

Nas contas do BTG, a valorização das ações da JBS desde o acordo entre J&F e o BNDES que destravou o processo de listagem já uma antecipação do re-rating – e fez a companhia fechar parte do gap em relação aos pares internacionais.

Com isso, o desconto frente à Pilgrim’s Pride (PPC), subsidiária da JBS nos EUA, foi eliminado — e hoje a holding brasileira negocia com leve prêmio sobre a operação americana.

Porém, o desconto em relação à Tyson Foods ainda persiste, embora em patamar mais baixo: a diferença no múltiplo EV/EBIT caiu de 5,3 vezes para 3,9 vezes.

Para 2025, o banco estima um EBITDA de R$ 22 bilhões, já desconsiderando a participação minoritária na PPC. Se o gap com a Tyson for totalmente fechado, isso poderia destravar cerca de R$ 86 bilhões em valor de mercado, ou quase 100% de potencial de valorização para os papéis da JBS.

Apesar disso, os analistas avaliam que esse re-rating será gradual. A inclusão da JBS em índices americanos relevantes, como o Russell, prevista para meados de 2025, e uma mudança na percepção de investidores globais devem servir de catalisadores para essa nova etapa de convergência de valuation, aponta a equipe liderada por Thiago Duarte.

Segundo o analista, o mercado ainda não compreende bem o perfil de resultados da empresa e atribui um desconto aparentemente indevido em relação à Tyson por conta da maior participação de alimentos processados da concorrente americana.

A Tyson passou por uma reprecificação relevante no mercado após adquirir a Hillshire, dobrando sua exposição ao segmento de alimentos processados. O múltiplo EV/EBITDA da companhia saltou de 5 a 6 vezes para 8 a 9 vezes, sustentado pela estabilidade de margens e maior poder de precificação dessa linha de produtos.

Entre 2018 e 2024, os processados representaram 19% da receita da Tyson, mas 37% de seu EBIT, com a menor volatilidade de margem entre todas as divisões. 

A exposição da JBS ao segmento de alimentos processados é estimada em 10 a 15% de sua receita, e a empresa obteve uma margem EBIT média de 6,1% nesse período, um pouco acima dos 5,9% da Tyson -- e com volatilidade semelhante.

Em outras palavras: “Apesar da menor participação no setor de alimentos processados, o perfil de lucros da JBS tem se mostrado igualmente sólido, provavelmente devido à sua diversificação global”, aponta o BTG.

“À medida que o mercado entender melhor essa dinâmica, juntamente com a execução comprovada da JBS, que muitas vezes resulta em margens mais altas em seus segmentos de frango, carne bovina e suína, acreditamos que essa parte da diferença de avaliação com a Tyson vai diminuir.”

... Menos sobre o momento de lucros

Se por um lado, a exposição à bolsa americana pode destravar um re-rating de múltiplos de avaliação, o BTG vê um potencial menor para revisões positivas de lucros neste ano e no próximo.

Ao longo de 2024, um ciclo positivo para os principais negócios, principalmente o de frango tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, ajudou bastante o negócio, com grande parte da valorização das ações, de mais de 60% sendo explicada pela melhora do perfil de resultados.

“2025 deve ser um ano sólido para a companhia”, dizem os analistas. “Mas, dito isso, não antecipamos espaço para uma surpresa positiva significativa desta vez.”

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