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Santander: 'Empresas estão com o maior custo da dívida em 20 anos, pelo menos', diz CEO

Aumento do IOF se somou à Selic no seu maior patamar em anos e teve efeito direto sobre a carteira de crédito, especialmente em PMEs, disse Mario Leão

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 30 de julho de 2025 às 12h59.

Última atualização em 30 de julho de 2025 às 13h10.

O recente aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pegou de surpresa o setor bancário, gerando diversas interações com o Ministério da Fazenda para expor as preocupações do mercado.

De acordo com o CEO do Santander (SANB11), Mario Leão, o impacto do aumento foi mais significativo para as empresas, que já enfrentam os desafios impostos pela taxa Selic elevada, de 15%. "As empresas estão pagando o custo da dívida mais alto dos últimos 20 anos, pelo menos", afirmou Leão em coletiva com os jornalistas nesta quarta-feira, 30.

A combinação teve um efeito direto sobre as empresas mais alavancadas e no portfólio de Pequenas e Médias Empresas (PMEs), afirmou o executivo.

O setor financeiro já vinha defendendo que operações como o risco sacado não deveriam ser tributadas pelo IOF, pois se tratam de operações de cessão sem coobrigação e, portanto, não configuram crédito, na visão do mercado.

Mas, durante o período de debate sobre o aumento do imposto, a demanda por essas operações foi reduzida de forma significativa, com uma retração substancial durante semanas, impactando diretamente as operações de financiamento de cadeia e as operações ligadas à cadeia de fornecedores.

De acordo com o banco, a redução nas carteiras de grandes empresas (-5,8%) foi influenciada por dois fatores: a variação cambial e a diminuição da demanda nas operações de risco sacado devido ao aumento do IOF. Excluindo esses fatores, a carteira de grandes empresas teria diminuído apenas 0,8% no trimestre, e a carteira total teria permanecido estável.

"Esperamos que o risco sacado volte a se normalizar no próximo trimestre, com alguma recuperação sazonal", comentou Leão.

Impacto do Tarifaço

Em relação às tarifas impostas pelos Estados Unidos, Leão manifestou esperança de um acordo entre o governo brasileiro e o governo americano nas próximas semanas.

"É fundamental que o governo brasileiro continue tentando encontrar um caminho, principalmente para os setores mais afetados", afirmou o CEO.

Independentemente do cenário geopolítico, Leão destacou que o papel dos bancos é estar próximos das empresas, apoiando-as em todas as necessidades, seja com capital de giro ou extensão de prazos. "Se a empresa precisar encontrar novos mercados ou, em casos extremos, diminuir de tamanho ou montar operações nos Estados Unidos, nosso papel é estar perto e ajudá-las a encontrar uma saída", afirmou.

Setor agropecuário enfrenta desafios com juros altos

O portfólio agropecuário, que representa 10% do total do Santander Brasil, enfrentou desafios significativos devido à dinâmica negativa dos preços das commodities, especialmente grãos como soja e milho.

"O agro tem enfrentado um desequilíbrio entre receitas e despesas, com custos em reais bem mais altos que as receitas da commodity", explicou Leão.

O impacto foi especialmente severo para os produtores, que enfrentaram uma perda de margem considerável. O banco observou um aumento significativo nas recuperações judiciais no setor agropecuário.

"Nosso papel tem sido estar próximos dos clientes, ajudando-os neste momento de restauração", disse. Segundo ele, o Santander está no momento mais difícil deste ciclo do agro, com um acúmulo de provisões e processos de recuperação judicial.

No entanto, Leão acredita que, entre a segunda metade deste ano e o próximo, o banco estará em um período de recuperação dos créditos, e a linha de recuperação começará a diminuir, aliviando o impacto sobre os resultados.

"Com esses juros altos, ainda esperamos que alguns setores enfrentem desafios, mas a deterioração não será para sempre. Estamos mirando um ROE de 20% no longo prazo", concluiu Mario Leão. O banco fechou o segundo trimestre com um retorno sobre patrimônio de 16,4%, 0,8 ponto percentual maior que o de período equivalente de 2024.

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