Logo da Saudi Aramco (Kostas Tsironis/Bloomberg)
Redatora
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 07h04.
A Saudi Aramco reportou nesta terça-feira, 5, uma queda de 19% no lucro atribuído aos acionistas no segundo trimestre, para US$ 22,67 bilhões, diante da continuidade da queda nos preços do petróleo. Foi o décimo trimestre consecutivo de queda no lucro líquido da maior petroleira do mundo.
A companhia declarou ainda um lucro líquido ajustado de US$ 24,5 bilhões, acima da estimativa de US$ 23,7 bilhões fornecida pela própria empresa com base em projeções de analistas.
O faturamento caiu de 425,71 bilhões para 378,83 bilhões de riyals sauditas (cerca de US$ 101 bilhões), na comparação anual.
O desempenho financeiro reflete a queda no preço médio do petróleo no período. O barril de Brent, referência global, foi negociado por quase US$ 20 abaixo da média do segundo trimestre de 2024, ficando abaixo de US$ 69 na terça-feira — um patamar distante dos mais de US$ 90 que o Fundo Monetário Internacional estima como necessário para que a Arábia Saudita feche o orçamento de 2025 no azul.
O fluxo de caixa livre (free cash flow) caiu 20%, para US$ 15,2 bilhões, ficando abaixo do valor necessário para cobrir os dividendos do trimestre, que somaram US$ 21,36 bilhões.
Desse total, US$ 21,14 bilhões correspondem ao dividendo base e US$ 220 milhões à parcela atrelada à performance. Há um ano, o dividendo trimestral era de US$ 31 bilhões.
Com a queda nos lucros e a dificuldade em gerar caixa, a Aramco voltou a uma posição de dívida líquida no ano passado, e o valor continuou subindo no segundo trimestre.
O valor da dívida líquida subiu de US$ 24,7 bilhões para US$ 30,8 bilhões entre o fim do primeiro e do segundo trimestre de 2025. Já a alavancagem aumentou de 5,3% para 6,5%. Apesar da elevação, o nível ainda é inferior ao de concorrentes ocidentais como a Shell, cujo índice está em 19%.
A Aramco vem aumentando sua captação de recursos no mercado de dívida, ao mesmo tempo em que avalia desinvestimentos em ativos de menor retorno. Entre as alternativas estão ativos de infraestrutura e usinas térmicas a gás, que podem render até US$ 4 bilhões, segundo informações da Reuters. Em paralelo, negocia levantar até US$ 10 bilhões com um consórcio liderado pela BlackRock.
Em março, a Aramco anunciou que o total de dividendos pagos em 2025 será de US$ 85,4 bilhões, o que representa uma queda de 31% em relação aos US$ 124,2 bilhões distribuídos em 2024. A redução é atribuída principalmente ao corte no componente variável, que deve despencar 98% no ano, para US$ 900 milhões.
A menor distribuição pressiona as finanças do governo saudita, que controla 81,5% das ações da Aramco diretamente e outros 16% por meio do fundo soberano PIF.
Em 2024, o petróleo foi responsável por 62% da arrecadação do governo, e a diminuição no repasse de dividendos ocorre justamente quando o país intensifica sua agenda de investimentos no programa Vision 2030, liderado pelo príncipe Mohammed bin Salman para reduzir a dependência econômica do setor petrolífero.
Apesar do recuo no lucro, a Aramco segue aumentando a produção. A empresa integra o plano liderado pela Arábia Saudita dentro da Opep+ para reverter os cortes voluntários implementados nos últimos meses. Em junho, o país produziu cerca de 9,36 milhões de barris por dia, e deve atingir quase 10 milhões de barris diários até setembro.
O CEO da companhia, Amin Nasser, declarou que os fundamentos de mercado continuam sólidos e projetou uma alta de mais de 2 milhões de barris por dia na demanda global de petróleo na segunda metade de 2025, em relação ao primeiro semestre.
Ainda assim, analistas seguem cautelosos quanto ao equilíbrio entre oferta e demanda. A Agência Internacional de Energia (IEA) prevê um excedente de 2 milhões de barris por dia no quarto trimestre, diante do aumento da produção da Opep+, da desaceleração da economia chinesa e do crescimento das exportações nas Américas.
As ações da Aramco acumulam queda de cerca de 14,5% em 2025, desempenho inferior ao dos principais concorrentes ocidentais.
As norte-americanas ExxonMobil e Chevron superaram as expectativas de lucro no segundo trimestre com aumento de produção. Na Europa, a Shell também entregou números acima do esperado, enquanto a TotalEnergies ficou abaixo das projeções.