Shein: desempenho no Reino Unido ajuda a sustentar planos de abrir capital fora da China (YUICHI YAMAZAKI/AFP via Getty Images/Getty Images)
Redatora
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 07h39.
A Shein teve um ano de crescimento acelerado no Reino Unido em 2024, às vésperas de sua aguardada oferta pública de ações (IPO) em Londres.
Segundo relatório publicado no último dia 13 de agosto, a varejista de moda aumentou sua receita em 32%, alcançando £2,05 bilhões (cerca de R$ 13,3 bilhões), e elevou o lucro anual em 56,6%, de £24,4 milhões para £38,3 milhões (aproximadamente R$ 249 milhões) no último ano.
Com sede em Singapura, a Shein considera o Reino Unido como seu terceiro maior mercado global, atrás apenas dos Estados Unidos e da Europa. O país ganhou peso como vitrine internacional para os planos da empresa de abrir capital fora da China.
Em abril de 2024, a Shein submeteu um prospecto à autoridade reguladora do Reino Unido (FCA), como parte dos planos para abrir capital em Londres. O documento chegou a ser aprovado pelo órgão britânico, mas o processo foi travado após a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC) negar o aval necessário para uma listagem internacional.
Meses depois, a varejista entrou com um pedido confidencial de IPO em Hong Kong, em uma tentativa de acelerar a oferta e ao mesmo tempo pressionar os reguladores britânicos a flexibilizar suas exigências.
Segundo o jornal Financial Times, as negociações travaram por divergências entre reguladores britânicos e chineses sobre a linguagem da seção de riscos, especialmente sobre a cadeia de suprimentos e Xinjiang — alvo de denúncias internacionais de violações de direitos humanos.
Apesar dos entraves, Londres segue como a opção preferida da Shein. Mesmo que o IPO em Hong Kong avance primeiro, há expectativa de uma eventual listagem dupla ou secundária na capital britânica.
Além da alta nas vendas e no lucro, a Shein também triplicou sua equipe no Reino Unido. Ao fim de 2024, a empresa contava com 91 funcionários, ante 33 no encerramento de 2023. As contratações se concentraram nas áreas de marketing, vendas e administração, com foco em adaptar a marca ao mercado local.
Segundo o relatório, 68 dos 91 funcionários eram mulheres e 23, homens — um nível de detalhamento incomum para divulgações corporativas privadas.
A varejista também destacou iniciativas promocionais no país, como a abertura de escritórios em King’s Cross e Manchester, uma loja pop-up em Liverpool e um tour de Natal com ônibus por 12 cidades britânicas.
Apesar do avanço financeiro e operacional, a Shein segue sob pressão regulatória. Em maio de 2024, a Comissão Europeia anunciou uma investigação sobre práticas consideradas em desacordo com a legislação da União Europeia, incluindo o uso de descontos falsos, rotulagem enganosa e alegações ambientais questionáveis.
Nos Estados Unidos, a operação também enfrentou obstáculos após o presidente Donald Trump acabar com a isenção para pacotes de até US$ 800. A medida forçou a Shein a aumentar preços no mercado americano para compensar as novas tarifas de importação.
A companhia também listou riscos como a possibilidade de atrasos na cadeia de suprimentos, flutuações cambiais, aumento de custos logísticos, falhas de sistemas e mudanças regulatórias no Reino Unido.
A Shein enfrenta pressões de investidores e assessores para concluir o processo iniciado há quase três anos. Goldman Sachs, Morgan Stanley e JPMorgan lideram a operação, que já passou por Nova York, Londres e agora Hong Kong.