Golpes com Pix: prejuízo médio por golpe no primeiro semestre de 2025 foi 21% acima do mesmo período de 2024 (Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 28 de outubro de 2025 às 12h30.
Quem caiu em um golpe do Pix pode recuperar o dinheiro de volta através do Mecanismo Especial de Devolução (MED) criado pelo Banco Central (BC). Ele pode ser acionado dentro do próprio aplicativo da instituição financeira por onde a transferência foi feita. Entretanto, o caso passa por uma série de análises para que valores sejam devolvidos. E os critérios estão mais rígidos, ao passo em que os criminosos também estão ficando mais sofisticados. Recuperar os valores não é tão fácil assim.
A pesquisa "Golpes com Pix", da Silveguard, empresa de inteligência contra golpes financeiros, aponta que o número de pedidos de ressarcimento subiu, mas o de recusas também.
Para se ter uma ideia, em 2022, 73% das 2,24 milhões de reinvindicações abertas no MED foram atendidas e os recursos foram devolvidos pelas instituições financeiras. Esse percentual caiu para 24% agora em 2025. Por outro lado, os pedidos de ressarcimento foram bem maiores, chegando 16,04 milhões no ano, até agora. O gráfico abaixo mostra a evolução desses números ao longo do tempo.

O estudo da Silveguard avaliou mais de 12 mil denúncias de vítimas atendidas pela Central SOS Golpe, dados do Banco Central e entrevistas com especialistas do setor antifraude.
Os analistas da empresa de inteligência projetam que mais de R$ 7 bilhões em infrações sejam reconhecidas pelo mecanismo do BC. Mas apenas R$ 522 milhões devem ser ressarcidos. Isso implica em uma taxa de devolução de 6,8% — menor que os 7,2% do ano passado.

“É importante destacar que o mecanismo foi criado pelo BC, mas a devolução depende dos bancos, desde que o golpe seja confirmado e haja saldo retido.”
Apesar dos números crescentes, muita gente ainda não conhece o MED. Na pesquisa da Silverguard, 59,4% dos entrevistados responderam não saber da existência de um mecanismo de devolução de Pix que pode ser acionado em caso de golpes.
Black Friday: veja 6 golpes mais comuns e como se proteger na hora das comprasQuando o dinheiro desviado em golpes do PIX ia parar em contas de pessoa física (PF) era mais fácil fazer a devolução. Agora, em 65% dos casos, a transferência ocorre para um titular pessoa jurídica, como empresas limitadas (LTDA), contas de microempreendedores individuais (MEI) e até sociedades anônimas (S.A).
“O uso predominante de contas PJ indica uma estrutura criminosa mais sofisticada, com aluguel de empresas e intermediação profissionalizada. Alugar uma conta empresarial é mais caro – exige maior capital de operação – e envolve “laranjas” especializados. Esse modelo dificulta bloqueios automáticos e transforma o golpe em uma operação empresarial, e não mais em uma ação isolada e amadora”, comenta Netto.
Na prática, muitos golpistas não recebem o Pix diretamente na própria conta, e sim por meio de intermediários. São empresas que processam o pagamento, como um market place, por exemplo, e repassam o dinheiro ao verdadeiro recebedor. É o nome desse intermediário que aparece no comprovante do Pix, não o do golpista.
“Como hoje grande parte dos golpes passa por intermediários de pagamento legítimos, as instituições evitam aceitar para não prejudicar um cliente comercial que pode estar operando corretamente. O sistema não enxerga quem está por trás, e isso explica a queda contínua na taxa de devolução”, explica a CEO.
Neste ano, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima perdas da ordem de R$ 51 bilhões com os chamados crimes de engenharia social, nos quais os criminosos se passam por outras pessoas para fazer a vítima realizar pagamentos. Os golpes com Pix se encaixam nessa categoria.
É mais do que o valor previsto para fraudes com cartão de crédito (R$ 23 bilhões) e em contas-corrente e poupança (R$ 38 bilhões). As cifras somadas ultrapassam os R$ 100 bilhões. O montante chega quase ao valor de mercado de um banco do porte do Santander Brasil.
A cada minuto, 107 brasileiros foram vítimas de golpes ou fraudes digitais. Em um período de 12 meses (de julho de 2024 a junho de 2025), foram 56 milhões de vítimas, um quarto da nossa população, de acordo com a "Pesquisa de vitimização e percepção sobre violência e segurança pública 2025", da Datafolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Layla Vallias, CSMO da Silverguard, elencou algumas dicas de como evitar cair nos golpes financeiros digitais. A primeira e mais importante é desconfiar em primeiro lugar. Como golpistas trabalham com pressão e urgência para fazer a pessoa agir antes de pensar, frases como “é agora ou nunca” ou “oportunidade imperdível” são muito usadas.
“Também é comum usarem promessas boas demais para ser verdade: produtos muito baratos, lucro fácil, investimento com ganho garantido”, aponta.
Caso seja um pedido de transferência de um “parente”, também desconfie e peça para fazer uma chamada de vídeo antes — ou espere para confirmar pessoalmente. Inclusive, priorize o contato pessoal, já que mensagem de áudio e vídeo podem ser clonados com aplicativos deepfakes (de inteligência artificial).
Antes de comprar de uma loja desconhecida, pesquise a reputação no Reclame Aqui e nos comentários das redes sociais. Antes de pagar, confirme se o nome da razão social/CNPJ bate com o da loja.
Sites seguros começam com "https" e um cadeado. “Se não tiver, pare imediatamente mesmo que o site pareça 'idêntico' ao oficial”, explica Vallias. “Viu um famoso fazendo propaganda? Se não reconhecer a marca (e às vezes mesmo se reconhecer), desconfie. Pode ser um vídeo falso feito com deepfake.”
Confira o passo a pass para acionar o MED, segundo Vallias:
Entre em contato com o seu banco o mais rápido possível: pelo telefone, chat do app ou direto na área de extrato do Pix, clicando no botão "Contestar Pix". Quanto antes melhor. Acionar o mecanismo no mesmo dia triplica a chance de recuperar o dinheiro. Importante: não espere ir à agência física, o gerente de agência não consegue acionar o MED.
Explique que você foi vítima de um golpe com Pix. Peça a devolução do dinheiro enviado e informe os dados da conta do golpista. Importante: o MED só vale para golpes e fraudes, não para Pix feito por engano. Dica: alguns atendentes não conhecem o termo “MED”. Peça: “Quero solicitar a devolução do Pix porque fui vítima de golpe.”
Seu banco vai registrar uma notificação de infração no Banco Central. O banco do golpista vai bloquear imediatamente o dinheiro total ou parcialmente, se houver saldo.
Guarde o número do protocolo do atendimento. Você pode precisar dele depois como prova do pedido de devolução.
As instituições (banco de origem e destino) têm até 7 dias corridos para analisar o caso. Se for confirmado golpe, o valor bloqueado será devolvido automaticamente em até 96 horas. Aproximadamente o processo todo pode demorar 11 dias.