Idealizadora e diretora-presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário
Publicado em 15 de novembro de 2025 às 08h00.
Em meio à COP30, o mercado imobiliário brasileiro se vê diante de uma transição inevitável — e promissora. Se o setor da construção é responsável por cerca de 38% das emissões globais, ele também é um dos que mais podem contribuir para reverter o cenário climático, seja pela industrialização, pela eficiência energética ou por políticas que tornem nossas cidades mais resilientes.
Essa foi a tônica do encontro promovido pelo Comitê Esmeralda do Instituto Mulheres do Imobiliário (MI), coliderado por Luíza Junqueira, sócia e co-fundadora da StraubJunqueira, que acaba de assumir também a vice-presidência do IMI. O evento reuniu especialistas de referência da indústria e das finanças para discutir os caminhos da descarbonização da construção civil — um dos cinco eixos prioritários da COP30.
Segundo Luíza, o desafio é transformar compromisso em competitividade. “O setor imobiliário tem um papel fundamental na transição climática, mas precisa falar a língua do mercado. Sustentabilidade não é mais discurso — é dado, é investimento e é valor”, afirma.
Durante o debate, ficou claro que o Brasil vive um momento de inflexão. De um lado, a taxonomia sustentável brasileira, em diálogo com a europeia, começa a criar parâmetros mais claros sobre o que é, de fato, verde — conectando edificações, crédito e políticas públicas. De outro, a industrialização da construção ganha força, com iniciativas que já incluem o financiamento de imóveis ainda na fase de pré-fabricação, como vem sendo estudado pela Caixa Econômica Federal.
Esses avanços apontam para uma transformação estrutural: a sustentabilidade deixa de ser um diferencial e passa a ser condição de competitividade. E, na prática, isso significa traduzir métricas ambientais em indicadores financeiros.
“Projetos mais eficientes vendem mais rápido, têm menor risco de crédito e valorizam melhor no longo prazo”, explica Luíza. “O mercado precisa entender que sustentabilidade é sinônimo de estabilidade — tanto para o investidor quanto para quem habita a cidade.”
O Brasil chega à COP30 com um diferencial: emite menos carbono que países desenvolvidos e tem matriz energética majoritariamente limpa. A oportunidade, portanto, está em transformar essa vantagem em estratégia.
O Comitê Esmeralda, que integra o ecossistema do IMI, vem atuando nesse sentido ao promover diálogos que conectam indústria, inovação e impacto social. Essa atuação se soma à do próprio Instituto Mulheres do Imobiliário, signatário do CCD – Centro de Cidades em Transição para Carbono Neutro, projeto liderado pelo IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, com apoio da FAPESP e parceiro de iniciativas como o 1 Teto 1 TETO, que une o setor à construção de moradias emergenciais junto à ONG TETO, e o Advocacy Feminino, que forma lideranças com visão de sustentabilidade e propósito público.
“Descarbonizar é repensar o modo como vivemos”, resume Luíza. “É garantir que as cidades cresçam com responsabilidade, com menos desperdício, mais eficiência e mais inclusão.”
Na COP30, a construção civil será um dos temas centrais — e o Brasil tem a chance de mostrar que desenvolvimento e sustentabilidade podem caminhar juntos. O desafio é construir não apenas prédios mais verdes, mas também cidades mais humanas e negócios mais conscientes.
A transição climática exige uma mudança de rota urgente — e o mercado imobiliário brasileiro está na encruzilhada dessa decisão. Não se trata mais de escolher entre crescer ou preservar, mas de entender que um não existe sem o outro. O que construímos hoje define mais do que a paisagem urbana, mas a viabilidade econômica e social das próximas décadas. E esse futuro se constrói agora, com a decisão de quem pensa em cada projeto, financiamento e, sobretudo, no poder de decisão de quem compra.