Europa: continente busca força própria em meio a tensões globais e avanços tecnológicos. (AFP/AFP)
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Publicado em 30 de julho de 2025 às 16h18.
A longa história da Europa com os Estados Unidos, caracterizada por décadas de cooperação e interesses semelhantes, está passando por um período de mudança. O aumento das tarifas, preocupações com o futuro da OTAN e a crescente retórica assertiva da administração norte-americana sob a liderança atual a tornaram transacional. No entanto, vários analistas acreditam que esta situação represente não apenas a principal ameaça enfrentada pelo continente, mas também uma oportunidade.
A Europa aproveitará a ocasião para tornar-se autônoma e forte como ator independente no palco mundial?
Quanto à China, o país exerce uma influência ambivalente no cenário europeu. Por um lado, é o mercado mais valioso para produtos e serviços do continente. Por outro lado, seu crescimento econômico e tecnológico ultrarrápido, bem como suas ambições geopolíticas constituem um grande problema. A interdependência é óbvia, porém, surgem questões sobre a possibilidade de beneficiarem-se mutuamente ou de se separarem em termos de interesses a longo prazo.
A postura da Rússia no leste europeu representa outra grande ameaça. As recentes ações militares e turbulências suscitam receios de novas ameaças aos Estados Bálticos e outros vizinhos. Há dúvidas persistentes sobre a possibilidade de a Europa equilibrar o diálogo com o país e garantir a segurança coletiva.
Por fim, a inteligência artificial é um grande ponto preocupante, há receios de que o excesso de regras determinadas pela União Europeia acabe por dificultar que a Europa tenha protagonismo nessa tecnologia estratégica. Como resultado, a Europa ainda será uma região que usa inovações alheias em vez de se tornar um polo de inovação relevante para o crescimento genuíno.
Embora seja otimista em relação à Europa e à sua capacidade de superar desafios, o fator demográfico ainda representa uma ameaça. A população está envelhecendo, o que significa que a UE deverá lidar com as questões estruturais de maneira significativa para se manter sustentável nos próximos anos.
Dentro deste contexto de incertezas e redefinições, o acordo entre a União Europeia e o Mercosul é um símbolo da encruzilhada. Por um lado, ele carrega a oportunidade de a Europa diversificar parcerias, fortalecer laços com economias emergentes e afirmar sua posição no comércio global; por outro, evidencia as tensões e os dilemas internos do continente.
A maneira como a Europa abordará este acordo poderá se transformar em um sinal de sua capacidade de renascer como ator global relevante, conciliando abertura ao mundo e defesa dos seus valores.