Setor alimentício: alta nos custos e pressão por ESG desafiam toda a cadeia produtiva.
Colunista
Publicado em 4 de julho de 2025 às 11h00.
O setor alimentício vive uma tempestade perfeita: inflação, aumento dos custos logísticos, valorização das commodities, instabilidade climática e mudanças no comportamento do consumidor. Ao mesmo tempo, cresce a pressão por práticas ESG autênticas — exigidas por consumidores, investidores e pela sociedade. Essa combinação cria um cenário de pressão sem precedentes que se estende por toda a cadeia produtiva, da aquisição de insumos à entrega do produto final à mesa do consumidor.
Nesse contexto desafiador, as lideranças empresariais enfrentam um dilema estratégico: como equilibrar a necessidade urgente de controle de custos com o avanço das agendas de sustentabilidade?
Em momentos de crise, é tentador tratar o ESG como um custo a ser reduzido. Mas esse é um erro estratégico. Cortar investimentos em sustentabilidade pode aliviar margens no curto prazo, mas compromete a perenidade do negócio. Vivemos uma era de transparência radical, em que o público espera coerência entre discurso e prática — mesmo sob pressão.
Uma pesquisa da Sodexo mostra que 89% dos brasileiros consideram urgente a sustentabilidade na alimentação. Ignorar essa demanda arranha reputações construídas com esforço, compromete a aceitação da sociedade para que a empresa atue e enfraquece sua resiliência. O verdadeiro risco não está em investir em ESG, mas em não conseguir integrar propósito e performance.
Sustentabilidade e eficiência não são opostas, são complementares. Empresas que integram ESG à estratégia colhem ganhos reais: menor uso de energia e água, logística mais eficiente, embalagens sustentáveis e menos perdas.
Tecnologias como cozimento a vapor com baixo consumo energético, embalagens renováveis e parcerias com fornecedores locais já demonstram impacto positivo. Essas soluções reduzem custos operacionais e o impacto ambiental, gerando valor compartilhado em toda a cadeia.
Fortalecer a cadeia de suprimentos local, por exemplo, reduz a dependência de fretes longos, aumenta o controle logístico e promove o desenvolvimento das comunidades no entorno. A inovação em materiais recicláveis ou de fontes renováveis responde à demanda do consumidor consciente e contribui para ganhos logísticos e financeiros.
A agenda ESG não deve ser vista como um fardo, mas como um ativo estratégico. Empresas com práticas ambientais, sociais e de governança bem integradas demonstram maior capacidade de adaptação, diferenciação e perpetuidade.
Uma governança corporativa forte é ainda mais crucial nesses tempos, garantindo que decisões táticas de curto prazo não prejudiquem o legado estratégico. Mesmo em cenários adversos, o setor alimentício continua crescendo, como demonstra o segmento de foodservice, com alta recente de 16,1%, segundo a Associação Nacional de Restaurantes. Isso reforça sua responsabilidade e oportunidade de liderar pelo exemplo.
ESG não é mais opcional. É diferencial competitivo. Empresas que alinham propósito e performance conquistam mercado, confiança e longevidade. Em vez de escolher entre custo ou consciência, líderes do setor devem enxergar o ESG como o caminho para inovar, crescer de forma sustentável e deixar um legado positivo.