(Real Sports Photos /Shutterstock)
Colunista
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 12h03.
Existem momentos em que o negócio está fluindo bem. Os resultados chegam, o time responde, os indicadores fazem sentido. É justamente nesse ponto, quando tudo parece estar sob controle, que muitos líderes sentem o chamado por um próximo nível. Essa inquietação é legítima, e até necessária, em mercados de alta velocidade, mas a forma como ela é endereçada costuma ser o início de um problema silencioso.
Ao perceberem esse desejo de avanço, é comum que líderes tentem “subir a régua” impondo novas metas, apertando prazos, reforçando discursos de excelência. O movimento, embora bem-intencionado, muitas vezes ignora uma premissa básica: não se constrói um novo patamar com os mesmos comportamentos que sustentaram o anterior. Quando a régua sobe apenas no discurso, mas não na prática de quem lidera, o que se gera não é alta performance — é desalinhamento, frustração e perda de confiança.
Ron Carucci, especialista em liderança e autor do artigo “When Setting the Standard for Your Team, Avoid This Common Mistake”, publicado na Harvard Business Review, chama atenção exatamente para esse ponto. Ele alerta que muitos líderes, ao tentar elevar os padrões de seus times, caem na armadilha de projetar expectativas sem antes construir contexto, clareza ou coerência. Segundo Carucci, a consequência mais comum dessa abordagem é o surgimento de um “vácuo de alinhamento”, onde as pessoas sentem a pressão da mudança sem compreender o motivo ou enxergar o exemplo no alto da cadeia.
E essa dissonância começa, quase sempre, nas crenças silenciosas que moldam o comportamento de quem lidera. Marshall Goldsmith já dizia que “o que te trouxe até aqui não é o que vai te levar adiante”, mas aceitar isso exige coragem e autocrítica. Muitos líderes ainda operam sob premissas como: “eu conquistei meu espaço assim, por quê mudar agora?”, ou “o time precisa evoluir, eu já fiz a minha parte.” Essas ideias não são ditas em voz alta, mas direcionam decisões, moldam culturas e limitam o potencial do coletivo.
Mobilizar um time para um novo patamar exige mais do que retórica. Exige consciência de onde estamos e coragem para admitir onde ainda não chegamos. A verdade é que existem sim organizações no mundo que operam em outro nível de liderança, cultura e entrega. Equipes que têm clareza estratégica, segurança psicológica e autonomia real porque seus líderes tiveram coragem de rever o próprio modelo mental antes de cobrar qualquer mudança do time.
Essa maturidade não se constrói com pressão, mas com consistência. Não nasce de frases prontas, mas de conversas difíceis. Começa com a revisão do que o próprio líder tolera, reforça e representa — e se expande à medida que o time percebe espaço, direção e confiança para crescer junto.
Subir a régua é um ato de compromisso com algo maior. E o primeiro passo é sempre o mais difícil: encarar o próprio reflexo com honestidade e decidir evoluir. Não por vaidade, mas por responsabilidade com o impacto que se quer deixar.