Ellen Pompeo durante o Dreamforce 2025, em São Francisco, onde falou sobre propósito, diversidade e o papel das emoções na criação de histórias (Reprodução/YouTube)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 20h21.
Última atualização em 16 de outubro de 2025 às 20h24.
SÃO FRANCISCO - Ellen Pompeo construiu uma das carreiras mais longas da televisão americana. Por 19 temporadas, interpretou Meredith Grey, médica protagonista de Grey’s Anatomy, série criada por Shonda Rhimes e exibida desde 2005 pela ABC. O programa se tornou um fenômeno global e transformou Pompeo em uma das atrizes mais reconhecidas e bem pagas de Hollywood.
“Grey’s Anatomy é um sucesso estrondoso porque atrai muitas pessoas. Havia uma gama tão ampla de personagens na série que todos conseguiam se identificar. Você pode não gostar de mim, mas gosta daquela outra pessoa. Isso simplesmente abriu o mundo e o público de forma exponencial”, disse Pompeo no Dreamforce 2025, conferência global da Salesforce em São Francisco, nos Estados Unidos.
Segundo ela, “faz muito mais sentido ser inclusivo nos negócios — você amplia o número de clientes e de público, entende? É disso que nascem os grandes sucessos.”
A atriz chegou a ganhar cerca de US$ 575 mil por episódio, com salário anual em torno de US$ 20 milhões. O patrimônio líquido de Pompeo se deve quase inteiramente às 19 temporadas de Grey’s Anatomy. Em entrevista ao The Hollywood Reporter, em 2018, ela afirmou que a série “gerou quase US$ 3 bilhões para a Disney”, controladora da ABC.
Fora das telas, Pompeo se tornou produtora e passou a discutir temas como escuta, liderança e inclusão na indústria. No palco do Moscone Center, refletiu sobre como propósito, representatividade e viabilidade de negócio se tornaram pilares da criação de histórias — dentro e fora do entretenimento.
“É importante que todos se sintam vistos. Aprendi isso nos primeiros anos de Grey’s Anatomy. No começo, não entendia o impacto disso”, contou. Segundo a atriz, a experiência em um set diverso mostrou que a transformação ocorre tanto na frente quanto atrás das câmeras. “Quando falamos de representação, pensamos na frente das câmeras, mas a representação por trás delas é ainda mais importante, porque é onde está o poder.”
Ela lembrou que o aprendizado sobre diversidade nem sempre foi simples. “No começo, cometi erros e fui corrigida por pessoas de grupos sub-representados. É doloroso, mas necessário. A humildade é sua melhor amiga durante o aprendizado”, afirmou.
Desde que criou sua produtora, a Calamity Jane Entertainment, em 2011, passou a adotar práticas intencionais de inclusão. “Se você só trabalhou em ambientes onde mulheres não são ouvidas, vai reproduzir esse comportamento. É nossa responsabilidade criar espaços onde as pessoas aprendam que dá para fazer diferente.”
Pompeo destacou Shonda Rhimes como modelo de liderança. “Historicamente, atrizes tinham medo de contar que estavam grávidas. Com Shonda, é diferente: quando alguém diz que está grávida, cai confete do teto. Ela encontra uma forma de fazer funcionar. Eu adotei essa atitude, porque ela foi adotada comigo. Você só pode ser o que vê.”
Ao falar sobre o trabalho como produtora, explicou que contar histórias exige paixão, mas também consciência de mercado.
“Produzir é muito difícil. Você precisa ser apaixonado pela história, porque há muitos obstáculos. No fim do dia, é um negócio. Eles olham para o seu conteúdo e perguntam: é lucrativo?”
Criada em Boston, em uma família católica, Pompeo afirmou que esse contexto a ensinou a valorizar a empatia e a responsabilidade coletiva. “Cresci acreditando que somos responsáveis uns pelos outros. Perdemos um pouco disso. A tecnologia tomou conta e nos tornamos menos conectados”, disse.
A atriz ressaltou que a escuta e a intenção orientam seu modo de se comunicar. “Antes de falar, penso no resultado desejado. Às vezes é melhor ficar em silêncio e ouvir mais do que falar.” Ela comentou ainda que o avanço da inteligência artificial reforça o valor da emoção humana.
“O que a tecnologia não substitui são nossos corações e mentes. Boas histórias fazem você sentir algo. Storytelling sempre será o núcleo de tudo, porque é o que nos conecta.”
Com a maturidade, Pompeo diz ter aprendido a medir as palavras e valorizar o silêncio. “Tenho 55 anos e três filhos, então sou cuidadosa com o que digo para não envergonhá-los. À medida que você envelhece, aprende a ouvir mais do que fala.”
Ela reconheceu que a longa associação com Grey’s Anatomy torna mais difícil ser vista em novos papéis. “Não foi fácil. As pessoas têm dificuldade. Mas o projeto que fiz para o Hulu (The Great American Family, meu primeiro papel longe da série) foi bem-sucedido, e agora estou conseguindo um pouco mais de espaço no jogo.”
Ao relembrar o início da carreira, resumiu o principal aprendizado: “Queria que alguém tivesse me dito para me divertir mais no começo de Grey’s Anatomy. Nós nos divertimos muito, mas também havia muita pressão e drama. Não vou dizer que não gostei — claro que gostei — mas talvez eu tivesse tentado aproveitar um pouco mais.”