Em um mundo mediado por IA, só será lembrada pelas máquinas a marca que já habita a memória das pessoas
Colunista
Publicado em 15 de julho de 2025 às 13h18.
Última atualização em 15 de julho de 2025 às 14h13.
No novo ecossistema mediado por inteligência artificial, ser Top of Mind Awareness não é mais uma vantagem — é a única chance de existir para os algoritmos.
No novo mundo mediado por IA, marcas com altos índices de lembrança entre nós, humanos, terão uma vantagem competitiva duradoura. Porque os algoritmos vão espelhar nossas memórias — não apenas nossos cliques.
Em 2025, o consumidor ainda é humano. Mas quem intermedeia boa parte de suas decisões já não é. Da playlist ao restaurante, da farmácia ao financiamento, praticamente tudo passa por uma recomendação feita por IA — silenciosa, quase instantânea, invisível.
A pergunta que os gestores de marcas já deveriam estar fazendo não é apenas “minha marca é lembrada pelos consumidores?”, mas também: “minha marca é lembrada pelos algoritmos que moldam o consumo?”
Estamos entrando na era do Machine Brand Awareness. Mas é preciso escapar da armadilha: acreditar que presença digital basta — como se o futuro do branding pudesse ser comprado em tráfego pago ou construído com planilhas de SEO. Como se os sistemas de IA fossem apenas motores de busca turbinados, e não espelhos da memória coletiva.
Brand awareness vai além do reconhecimento de um nome: é a capacidade de a marca permanecer na memória do consumidor a ponto de ser evocada espontaneamente. Quando citada em primeiro lugar sem estímulo, alcança-se o Top of Mind Awareness, o ápice da lembrança.
Todas as outras métricas de branding derivam da capacidade de estar presente na mente das pessoas. Por isso, o Top of Mind é considerado a métrica-mãe, pois revela o lugar (e a força) da marca no repertório cognitivo e emocional do consumidor.
Com o avanço de assistentes de voz, algoritmos de recomendação e ferramentas de IA generativa, o consumo passou a ser mediado por sistemas que sugerem — e às vezes escolhem — por nós.
Nesse novo contexto, as estratégias de branding precisam ser pensadas para que as marcas sejam lembradas também pelas máquinas.
Essa nova capacidade é o que se chama Machine Brand Awareness. E ela se constrói por duas camadas sobrepostas:
É o caminho mais conhecido: as máquinas identificam marcas por dados estruturados — reviews, SEO, presença em marketplaces, sinais de autoridade e confiabilidade.
Mas isso é só parte da equação. Modelos de IA mais avançados operam por outra lógica — simbólica, conversacional, afetiva.A IA conversacional (como ChatGPT, Gemini, Claude) aprende com o que nós dizemos, repetimos e registramos. Ela não pensa, mas espelha. Não cria lembranças — herda nossa memória coletiva.
A presença simbólica de uma marca não depende apenas da publicidade. Redes sociais, aplicativos e blogs colocaram empresas e consumidores no mesmo patamar em produção de conteúdo. Ou seja, mesmo quando uma marca não inicia a conversa, ela pode ser lembrada — e alimentar os modelos com repertório.
Marcas que vivem na memória das pessoas — que são lembradas, sentidas, comentadas — ganham espaço na IA porque representam algo relevante. Já aquelas que não conquistaram esse espaço simbólico não serão lembradas pelas máquinas. Não estarão nos prompts, nas recomendações ou nas respostas. Simplesmente porque não fazem parte da narrativa coletiva.
A IA, em última instância, é uma extensão simbólica da experiência humana. Processa o que pedimos, reflete o mundo como o descrevemos.
Mind-to-Machine é uma expressão recente. Aqui, aplicada ao branding, designa a ideia de que a presença algorítmica consistente de uma marca só pode existir se ela tiver, antes, conquistado a presença na memória e na vida das pessoas.
IA generativa não cria marcas — reproduz aquelas que já habitam o repertório humano. Tampouco cria lembranças — reflete as que já existem. Modelos como o ChatGPT não “lembram”: eles reconstroem respostas com base em padrões de linguagem que absorvem da sociedade.
Top of Mind Awareness deixa de ser apenas uma métrica — torna-se alicerce da presença algorítmica. Ser lembrado pelas pessoas é o que qualifica uma marca para ser evocada pelas máquinas.
Para os profissionais de branding, a mensagem é clara: não basta presença digital. É preciso habitar a memória cultural e emocional das pessoas. Só assim a marca terá espaço legítimo na linguagem da IA — e no futuro do consumo.
O que não habita a memória humana, não habitará o mundo digital. Branding será decidido fora dos dashboards — dentro da cabeça das pessoas. Não é sobre tráfego, clique ou alcance. É sobre pertencimento simbólico.
Porque no repertório da IA, só existem as marcas que a humanidade se recusou a esquecer.