Marketing

Não é só com assinantes que a Netflix prospera — mas com o gosto deles

À distância, a estratégia de conteúdo da marca pode parecer arbitrária, mas é com base em milhares de preferências pessoais que ela entrega originalidade

Netflix, plataforma de filmes e séries (Mike Blake/Reuters)

Netflix, plataforma de filmes e séries (Mike Blake/Reuters)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 2 de agosto de 2018 às 16h04.

Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 16h52.

São Paulo - Idade, gênero, rendimento e classe social são fatores que tradicionalmente guiam as investidas de marketing das empresas. Mas não são as chamadas "variáveis demográficas" que pesam no sucesso da Netflix. A gigante do streaming de vídeo prospera com base em outra coisa — o gosto de seus clientes.

Vista de longe, a estratégia de conteúdo da empresa pode até parecer arbitrária, mas é com base em milhares de preferências pessoais que ela sustenta sua programação original, chave para o crescimento futuro em novos mercados, principalmente fora dos Estados Unidos. Para 2018, a meta é gastar 85% dos 13 bilhões de dólares que tem à disposição em produção original. E não vai faltar inspiração.

Os cientistas da Netflix descobriram que existem várias conexões entre os tipos de conteúdo ofertado e o que as pessoas gostam de assistir, o que agrega camadas mais complexas para análise de estratégias de produção. Eles identificaram cerca de 2000 diferentes conexões nessa relação e se referem a elas como “comunidades de gosto”. É a partir delas que a empresa decide que tipo de programa deve ser lançado, qual deve ser cancelado ou renovado.

Essa abordagem baseada em "gostos" foi tema de uma entrevista recente da vice-presidente de conteúdo original da Netflix, Cindy Holland, ao site AdWeek. "É o que nos ajuda a identificar comunidades de fãs com a mesma mentalidade”, explicou ela, acrescentando que dados demográficos não são bons indicadores do que as pessoas gostam de assistir.

Na prática, em vez de focar em anunciantes (já que o serviço não trabalha com anúncios) ou na identidade da marca, a Netflix olha para essas “comunidades de gosto” na hora de definir sua programação. Segundo Holland, os executivos da empresa levam em conta o número de gostos afins "para justificar o custo de um programa".

Não há surpresas aí. Tradicionalmente, a Netflix é conhecida pelo uso de dados para sugerir conteúdo aos espectadores. Se você é assinante do serviço, já deve ter reparado na lista de programadas "recomendados" que aparece em destaque cada vez que você acessa a plataforma. As recomendações são feitas por um algoritmo com base nos tipo de conteúdo que o usuário assiste ou classifica como preferido.

Aperfeiçoar esse algoritmo é uma das metas da empresa para divulgar seus programas, aumentar o engajamento de seus clientes e atrair novos assinantes. Apesar de ter aumentado suas despesas de marketing para 2 bilhões de dólares este ano (ante 1,28 bilhão em 2017), a Netflix não faz muita questão de gastar com ações de marketing.

"Nosso sonho é que o serviço seja tão bom em promover seus novos conteúdos de maneira tão relevante que não tenhamos que gastar externamente", declarou o CEO da Netflix, Reed Hastings no começo do ano. Até agora, a estratégia parece apropriada. Em julho, a vice-presidente de conteúdo original da Netflix, Cindy Holland, falou em 130 milhões de assinantes do serviço (em usuários, esse número chegaria a 300 milhões).

Mas isso pode mudar. Se a TV tradicional está perdendo terreno para serviços como o da Netflix (no Brasil, a marca caminha para liderar o ranking de assinaturas do serviço de streaming pago), a concorrência também bate à porta do serviço.

Há tempos, a empresa se prepara para a revoada da Disney, que prometeu remover todo seu conteúdo da Netflix em 2019 e comprar o Hulu, considerado um dos principais rivais da marca americana, ao lado do também concorrente Amazon Prime Instant Video.

Em comum com a Netflix, a concorrência oferece uma enorme quantidade de conteúdo sob demanda, cada vez mais original e a um custo mensal relativamente baixo. Provavelmente, para se manter na liderança nos próximos anos, a gigante terá que ir além dos "gostos" e dos "algoritmos".

Acompanhe tudo sobre:Empresasestrategias-de-marketingNetflix

Mais de Marketing

Aparência do conhecimento: como a IA vem criando uma epidemia de falsos especialistas

Empresário falido de 39 anos ficou milionário vendendo pedras como animais de estimação

Jovem de 29 anos de um bairro pobre de Londres ficou milionário ao vender sua empresa de marketing

Com Nestlé, BRF e Boticário na carteira, Grupo HÜK estreia mirando R$ 100 milhões em 2025