Amy Daroukakis: cofundadora da Culture Connectors destacou no Cannes Lions 2025 a amizade como família e sua influência crescente no comportamento, consumo e cultura (Divulgação/Cannes Lions)
Redação Exame
Publicado em 1 de julho de 2025 às 17h05.
*Por Larissa Magrisso
Quem observa o futuro do consumo e da cultura já começa a perceber: a amizade está se tornando uma força transformadora, não só na vida pessoal, mas também para empresas e negócios. Durante o Cannes Lions 2025, o maior festival de criatividade do mundo, esse sinal ficou ainda mais evidente.
Em um workshop lotado no Palais, Amy Daroukakis, cofundadora da consultoria Culture Connectors, apresentou quatro grandes tendências globais de comportamento e cultura para exercitar sua metodologia. Entre elas, chamou atenção o conceito de amizade como família.
“Conheço uma mulher incrível que me disse: ‘Sou amiga da minha melhor amiga há 20 anos. Prefiro planejar a vida com ela do que usar um aplicativo de namoro’”, contou Amy.
Ela destacou que a fadiga com o namoro e os modelos tradicionais de afeto está crescendo, mas que produtos e serviços ainda não acompanham essa mudança. “Isso exige um tipo diferente de financiamento imobiliário para quem quer construir o futuro com amigos. Um testamento diferente. Outras formas de pensar herança e planos de vida.”
Em uma publicação recente no Instagram, a atriz brasileira Fernanda Nobre levantou uma questão: 'por que a gente não pensa em ter filhos com a melhor amiga?', provocou em vídeo.
Se, de início, a ideia parece absurda, basta lembrar que, entre 2012 e 2022, o número de lares chefiados por mães solo aumentou 17,8%, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões, de acordo com a FGV.
É hora de pensarmos nas mudanças que novas configurações familiares trarão, da legislação a novos produtos e serviços.
No contexto brasileiro, dados do IBGE indicam por que a ideia de envelhecer com amigas tem se tornado cada vez mais popular. Hoje, há mais adultos solteiros do que casados em uma população que envelhece rapidamente. A população idosa deve dobrar até 2070, chegando a 37,8%. Essa mudança demográfica desafia os modelos tradicionais de cuidado e convívio, reforçando a importância das redes de amizade.
Ao lado desse movimento, Amy também destacou a solidão como uma tendência de peso. “Devemos olhar tanto para os aspectos negativos quanto para os positivos desses sinais.” A solidão já é considerada uma epidemia global pela OMS, com impactos diretos na saúde física, mental e na produtividade.
Já a amizade aparece como um antídoto. Diversos estudos mostram que vínculos de amizade fortalecem a saúde, aumentam a expectativa de vida, reduzem o estresse e melhoram o desempenho no trabalho. Ainda assim, a maioria das campanhas, produtos e comunicações segue priorizando o amor romântico e os modelos familiares tradicionais como padrão.
Isso está mudando. A amizade tem emergido como novo símbolo aspiracional. Mulheres, principalmente, têm reavaliado suas redes de apoio e colocado as amizades no centro de suas decisões, afetos e prioridades. A cultura pop — das séries aos podcasts — já entendeu esse recado. As marcas serão as próximas.
A amizade, antes vista como coadjuvante, passa a ocupar o centro da narrativa, com implicações não apenas afetivas, mas também legais, econômicas, políticas e culturais. É hora de levar a sério esse laço, não só como recurso pessoal, mas como uma força de transformação coletiva. Amy trouxe o sinal. Cabe a nós (e às marcas) escutar.
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