Paco Amoroso em apresentação no Tiny Desk, em 2024; projeto criado pela NPR estreia no Brasil em 2025, com gravações nos escritórios do Google e transmissão pelo YouTube Brasil (Reprodução/YouTube)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 2 de setembro de 2025 às 15h00.
O Tiny Desk Concert, projeto musical criado em 2008 nos Estados Unidos pela NPR (rádio pública nacional dos EUA, na tradução), terá uma versão oficial no Brasil ainda em 2025. A iniciativa será conduzida pela Anonymous Content Brazil, responsável pelo licenciamento e pela produção, e pelo YouTube Brasil, que cuidará da promoção, distribuição do conteúdo e modelo comercial.
Em 17 anos de história, o Tiny Desk reuniu mais de mil apresentações gravadas e publicadas no YouTube, acumulando mais de 3,5 bilhões de visualizações. O formato é marcado por shows em um espaço reduzido, atrás de uma mesa de escritório, priorizando a experiência musical sem grandes recursos técnicos. Já passaram pelo projeto nomes como Sting, Taylor Swift, Bono e The Edge, Alicia Keys, Anderson Paak, Tyler the Creator e Billie Eilish.
Para Bárbara Teixeira, CEO da Anonymous Content Brazil, o sucesso internacional do formato está na proximidade que ele cria com o público. “Ver alguns dos grandes nomes da música em apresentações cruas, muito mais próximas e conectadas com a audiência, é o que o torna tão especial”, afirma, em nota. Ela lembra que o Brasil já é o segundo país que mais consome o projeto no YouTube. “Nada mais natural que termos uma versão só nossa, com a plataforma como parceira estratégica.”
A proposta brasileira seguirá a filosofia original do Tiny Desk, que utiliza restrições técnicas como estímulo criativo. As apresentações não contam com amplificação de voz e o espaço reduzido estimula arranjos coletivos. O objetivo é registrar a energia de uma performance ao vivo em sua forma mais natural, respeitando nuances de vozes e instrumentos.
As gravações ocorrerão no escritório do Google, em São Paulo, com público presente. A curadoria será realizada pela Anonymous Content Brazil e pela produtora Amabis, com aprovação da NPR.
Sandra Jimenez, diretora de Parcerias de Música para o YouTube na América Latina e US-Latin, destaca que a chegada do projeto reforça a posição da plataforma como espaço central da cultura musical. “O YouTube se consolidou como o epicentro da cultura e a música tem papel fundamental nessa dinâmica”, diz. Para ela, o projeto é uma oportunidade de “amplificar as vozes da cena musical brasileira e proporcionar aos espectadores uma experiência única, diretamente do YouTube, onde a música vive e respira.”
O Brasil será o 3º país a receber uma versão própria do Tiny Desk fora dos Estados Unidos, depois do Japão e da Coreia do Sul. O plano prevê duas temporadas ainda em 2025, cada uma com cinco apresentações. A primeira terá patrocínio da Volkswagen do Brasil e a segunda contará com o apoio da Heineken.
Segundo Livia Kinoshita, diretora de marketing da Volkswagen para o Brasil e América Latina, o apoio está ligado ao posicionamento da marca no território musical. “A Volkswagen acredita no poder da música enquanto linguagem universal que conecta e cria momentos inesquecíveis”, afirma. Ela acrescenta que a estreia do Tiny Desk no país “traduz o que mais valorizamos: a autenticidade de encontros musicais potencializados por vozes brasileiras.”
A Heineken, que já investe no território da música por meio do patrocínio a festivais como o Popload, aposta no projeto para reforçar sua conexão com o público. “Apoiamos a chegada do Tiny Desk ao Brasil para celebrar essa conexão de forma autêntica e com alto padrão de qualidade”, diz Igor de Castro, diretor de comunicação e branding da marca. Ele avalia que a parceria reflete o propósito da empresa de “criar experiências que ultrapassam a tela e ficam na memória.”
O processo de produção já começou, com filmagens neste mês de setembro e estreia prevista para outubro. A organização ainda não revelou os nomes confirmados. As apresentações serão exibidas no canal oficial @TinyDeskBrasil, no YouTube.
Organizadores do Tiny Desk Brasil, parceria entre a NPR, a Anonymous Content Brazil e o YouTube (Divulgação)
O chamado “efeito Tiny Desk” passou a ser citado como um dos fenômenos da música na era digital. A série de apresentações gravadas em um pequeno escritório em Washington ganhou relevância por aproximar artistas de novas audiências. No início, os shows eram exclusivamente acústicos e duravam cerca de 20 minutos. Hoje podem chegar a meia hora, com bandas entregando performances elétricas.
Em poucos minutos de apresentação, carreiras podem ganhar visibilidade, atrair convites para festivais ou reposicionar a imagem de músicos já conhecidos. Muitas bandas iniciantes tiveram projeção após passarem pelo Tiny Desk, enquanto artistas consagrados, acostumados a estádios, valorizam o formato pela autenticidade.
O caso do duo argentino Ca7riel & Paco Amoroso é um exemplo desse alcance. Antes da gravação, somavam cerca de 3 mil streams diários nos EUA. Uma semana após o programa, o número havia subido 4.700%, chegando a 222 mil streams, segundo a Luminate. No YouTube, o vídeo registrou 1,5 milhão de visualizações em cinco dias e hoje soma mais de 40 milhões. A repercussão coincidiu com convites para festivais como Coachella e Glastonbury e uma turnê internacional.
Parte desse impacto vem do formato. As performances são cruas, sem artifícios, em cenários bem diferentes das produções grandiosas de turnês. Os artistas atuam sem rede de segurança: alguns preparam sets exclusivos, estreiam canções inéditas ou resgatam músicas de outras épocas, criando um registro singular.
Esse caráter se consolidou em 2014, quando o rapper americano T-Pain, associado ao uso do autotune, cantou sem efeitos e mostrou que estilos além do folk e do rock também poderiam se adaptar ao espaço. Desde então, diferentes músicos têm usado o palco para mostrar novas facetas. Usher e Justin Timberlake revisitaram clássicos, enquanto nomes emergentes como Sabrina Carpenter, Doechii e Chappell Roan encontraram no Tiny Desk uma vitrine de maior projeção.
A dinâmica do estúdio também é parte da experiência. A plateia presente, geralmente formada por jornalistas e funcionários da NPR, reúne cerca de 30 pessoas e suas reações ficam registradas no áudio. O microfone fino e alongado tornou-se um símbolo, assim como o jogo dos espectadores que tentam identificar objetos inusitados espalhados nas mesas e prateleiras.
O alcance digital ampliou esse efeito. O canal oficial (@nprmusic) soma mais de 11 milhões de inscritos no YouTube e 3 milhões de seguidores no Instagram. São cerca de três vídeos lançados por semana, alguns ultrapassando 120 milhões de visualizações, com crescimento acelerado desde o auge da pandemia de Covid. Séries temáticas como o El Tiny, voltado à música latina, e o Black Music Month, dedicado a artistas negros, reforçam a conexão com diferentes públicos.
Além da versão original nos Estados Unidos, o formato ganhou adaptações no Japão e na Coreia, mantendo como eixo a ideia de extrair performances sem filtros. Nesse percurso, o Tiny Desk passou a ocupar parte do espaço que o MTV Unplugged teve em décadas anteriores. Para artistas, participar do projeto pode funcionar como uma espécie de chancela, sinalizando relevância e potencial de alcance em escala global.
O Tiny Desk se tornou um dos programas mais reconhecidos da NPR pelo formato intimista e pela força da internet. Em 22 de abril de 2008, o primeiro concerto foi publicado no blog da emissora. A ideia surgiu quando Bob Boilen, então diretor do All Things Considered, e Stephen Thompson, editor de música da NPR, não conseguiram acompanhar o show da cantora Laura Gibson em um bar barulhento. Eles a convidaram para se apresentar atrás da mesa de Boilen, na sede da NPR. ‘Talvez seja o começo de algo’, disse Boilen na época, ‘e talvez não seja’, segundo registro do site oficial da rádio.
Nos anos seguintes, o Tiny Desk manteve um perfil discreto, privilegiando artistas de indie, folk e rock. A virada ocorreu em 2014, quando a produtora Frannie Kelley convidou o cantor de R&B e hip-hop T-Pain. Ao cantar sem autotune, ele surpreendeu a audiência e levou o programa a um novo patamar de popularidade.
Desde então, o projeto cresceu e se consolidou como referência da cultura pop americana. Artistas de diferentes estilos e origens se apresentam no pequeno escritório na capital dos EUA, sem os recursos de grandes palcos ou estúdios profissionais. Parte da viralização vem da força das redes sociais, que permitem que milhões de fãs compartilhem seus momentos favoritos de cada performance.