Mercado Imobiliário

Exclusivo: médio e alto padrão começam a sentir o efeito dos juros no mercado imobiliário

Indicador elaborado pela Abrainc em parceria com a Deloitte atribui a desaceleração no segmento à alta taxa de juros e ao financiamento mais caro

Abrainc: resiliência da demanda ainda é notável, especialmente com a alta do aluguel e o contínuo déficit habitacional. (Germano Lüders/Exame)

Abrainc: resiliência da demanda ainda é notável, especialmente com a alta do aluguel e o contínuo déficit habitacional. (Germano Lüders/Exame)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 7 de junho de 2025 às 08h00.

O mercado imobiliário residencial brasileiro ficou estável nos três primeiros meses de 2025, após um forte desempenho em 2024. A procura e as vendas não apresentaram grandes variações, embora o impacto da alta taxa de juros tenha começado a ser mais sentido no segmento de médio e alto padrão, o que afetou as expectativas para o nicho.

O Minha Casa, Minha Vida (MCMV) seguiu aquecido, mesmo com ligeiro recuo na comparação com trimestres anteriores, conforme apontou a pesquisa Indicador da Confiança do Setor Imobiliário, realizada pela Abrainc em parceria com a Deloitte e divulgada com exclusividade pela EXAME.

O programa, no entanto, continua sendo um pilar de sustentação do mercado. No ano passado, houve um crescimento de 11,8% nas vendas gerais. Trata-se do melhor desempenho anual desde que o levantamento começou a ser realizado, em 2014.

“Esse resultado histórico foi impulsionado, principalmente, pela força do Minha Casa, Minha Vida, que alcançou, no mesmo ano, seu recorde de lançamentos desde a criação do programa, em 2009. A demanda segue consistente e tem sido fundamental para sustentar os níveis de procura e venda no setor imobiliário residencial”, afirma Luiz França, presidente da Abrainc.

Primeiro trimestre de 2025

No primeiro trimestre de 2025, a média geral de procura e vendas de imóveis residenciais ficou estável, com 1,95 e 1,96 pontos, respectivamente, segundo a metodologia da Deloitte, que vai até 3 pontos. O que puxou esse dado foi o setor de baixa renda que, atendido pelo MCMV, ficou com 2,18.

No segmento de médio e alto padrão, o cenário foi diferente. A alta da taxa de juros impactou diretamente as vendas, com a expectativa de 1,69 pontos, uma queda de 0,09 pontos em relação ao trimestre anterior. A desaceleração é atribuída principalmente à alta taxa de juros e ao financiamento mais caro.

“É preciso considerar que os indicadores estão em um alto patamar, com três anos seguidos de aumento. Agora, os compradores estão mais receosos quanto aos investimentos diante da taxa de juros mais alta, e consequentemente do financiamento mais caro”, explica Claudia Baggio, sócia de análise financeira e líder da prática de mercado imobiliário da Deloitte.

No entanto, a resiliência da demanda ainda é notável, especialmente com a alta do aluguel e o contínuo déficit habitacional.

Próximos meses

A expectativa é que o MCMV continue a crescer, especialmente com a introdução da faixa 4, que permite a inclusão da classe média no programa. A nova faixa atenderá famílias com renda de até R$ 12 mil, o que deve gerar um impacto positivo no mercado imobiliário. As novas condições de financiamento, com juros mais baixos, são uma das principais vantagens dessa ampliação, podendo reduzir até 27% no valor das parcelas mensais.

O apetite das incorporadoras por novos lançamentos segue firme, com 98% das empresas de MCMV e 89% de médio e alto padrão com intenção de novos empreendimentos para os próximos 12 meses. A pesquisa aponta uma leve melhora na disposição das empresas de médio e alto padrão para adquirir terrenos, sugerindo uma visão mais otimista sobre o futuro do setor.

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