Escombros após ataque em Khan Yunis, em Gaza, em 28 de julho (AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 9 de outubro de 2025 às 10h57.
Última atualização em 9 de outubro de 2025 às 11h12.
O acordo de paz entre Israel e Hamas, que está em vias finais de conclusão, é a maior chance até agora de encerrar o principal conflito atual do Oriente Médio, que dura dois anos. Embora ainda haja riscos, há boas perspectivas de que se consiga ao menos uma trégua, porque esse plano trouxe alguns elementos novos e o cenário político internacional está diferente.
As mudanças trazidas agora incluem a proposta de que haja um governo de transição para Gaza, após a saída do Hamas, que terá especialistas palestinos e supervisão internacional.
Em outros planos, o cenário previsto era o de que Israel poderia ocupar Gaza por tempo indeterminado e, na prática, governar a região. Havia temores por parte dos palestinos de que essa ocupação poderia durar décadas, como ocorreu nos anos 1980 e 1990. Além disso, houve sugestões de que todos os palestinos poderiam ser retirados do território. Desta vez, eles poderão permanecer.
Ao mesmo tempo, há forte determinação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de forçar os dois lados a aceitar um acordo. "A chance [de sucesso] não existe por causa das 20 propostas [apresentadas no plano de paz] mas porque seu patrocinador, o presidente Trump, parece determinado a não aceitar um não como resposta", diz o pesquisador Natan Sachs, em análise para o Middle East Institute.
Atualmente, os dois lados do conflito estão com menos força política e militar para lutar, o que aumenta as chances de aceitarem a paz, ao menos temporariamente.
Nos últimos meses, cenas de crianças palestinas com fome geraram comoção em outros países, pois Israel dificultou a entrada de alimentos enviados para Gaza. Ao mesmo tempo, os militares israelenses destruíram bairros inteiros, deixando milhares de pessoas desabrigadas.
Assim, líderes de outros países, incluindo Trump e governantes europeus, reduziram seu apoio a Israel e criticaram o país publicamente por suas ações e apertaram a pressão pelo fim do conflito. O Reino Unido e a França, entre outros países, também reconheceram, após décadas, o direito dos palestinos a um Estado, algo que incomodou Israel.
Do outro lado, o Hamas também perdeu milhares de integrantes, segundo Israel, bem como suas estruturas em Gaza, como depósitos de armas e túneis, o que reduziu sua capacidade de ataque, embora não a tenha destruído por completo.
Ao mesmo tempo, a falta de alimentos e a destruição de casas tornou a vida em Gaza muito difícil, o que também dificulta a rotina dos militantes, bem como o recrutamento de novos membros.
Apesar dos avanços, ainda há risco de que este novo acordo também enfrente dificuldades e naufrague, como outras iniciativas tentadas nos últimos anos.
Em janeiro, por exemplo, houve um cessar-fogo também mediado por Trump, mas que não avançou além da primeira fase. Na época, os dois lados se acusaram de romper a trégua.
"O Hamas não quer se desarmar e desistir de ter um papel no futuro da Palestina, e Israel não quer se retirar completamente da Faixa de Gaza, permitir a volta da Autoridade Palestina ou concordar com um eventual Estado Palestino", diz Gina Abercrombie-Winstanley, ex-diplomata americana e ex-assistente especial para Oriente Médio no Departamento de Estado, em análise para o Atlantic Council.
Para Winstanley, Trump precisa seguir acompanhando o caso de perto. "Sem isso, há poucas dúvidas de que Israel vá recuar em seus compromissos, como fez em outros acordos." Ao mesmo tempo, os países árabes precisam exercer pressão sobre o Hamas para que o grupo também não recue e volte a fazer ataques.
Sachs, do Middle East Institute, avalia que uma trégua será "um resultado extraordinário", mas que uma paz completa entre os dois lados é incerta.
"A paz no Oriente Médio, como Trump prevê, continua distante. A ambiguidade em torno desse plano aponta para um possível futuro em que o Hamas permanece de pé, Israel permanece mobilizado contra ele e a reconstrução permanece em dúvida", afirma.
Neste cenário, o Hamas poderia se tornar uma espécie de guerrilha de menor poder de fogo, mas capaz de atrapalhar a reconstrução de Gaza. Assim, Israel também poderia responder de forma agressiva a qualquer sinal de risco. "As sementes da próxima guerra já são visíveis. Os mediadores devem resistir à tentação de declarar vitória cedo demais", diz Sachs.
Israelenses e palestinos vivem um confronto há décadas. Israel foi criado, no fim dos anos 1940, sobre terras que os palestinos ocupavam anteriormente, após a ONU propor a fundação de dois países na região, um para os judeus e outro para os palestinos.
No entanto, nenhum dos lados concordou com a divisão feita em 1947. Os palestinos tentaram invadir o território dado a Israel, mas foram expulsos, dando origem a um conflito que dura até hoje. Nas décadas seguintes, Israel conquistou outras áreas e reduziu o espaço dos palestinos a dois blocos, um na Cisjordânia e outro na Faixa de Gaza.
A fase atual do confronto começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas, grupo que controla Gaza, fez um ataque ao território israelense, que matou 1.219 pessoas e sequestrou 251. Em seguida, Israel invadiu Gaza para buscar os reféns e acabar com o poder de ataque do Hamas.
Mais de 66.000 pessoas foram mortas em Gaza desde o início da guerra, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Os dados são questionados por Israel e seus aliados, mas considerados confiáveis pela ONU.