Lee Jae-myung: favorito na eleição presidencial da Coreia do Sul, lidera disputa marcada por instabilidade e crise institucional (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 2 de junho de 2025 às 09h15.
Uma semana antes dos eleitores sul-coreanos escolherem seu novo presidente nesta terça-feira — uma votação convocada após a deposição de Yoon Suk-yeol, em abril —, os quatro principais candidatos se enfrentaram em um debate definido como “lamacento” pela imprensa local, no qual propostas deram lugar a ataques e provocações (algumas impublicáveis).
O embate da semana passada foi um retrato do novo normal na Coreia do Sul desde a declaração da lei marcial por Yoon, em dezembro do ano passado, e de um traumático processo criminal ainda em curso. E diante da longa lista de desafios, a calmaria parece mais distante do que gostaria a população que vai às urnas nesta terça-feira.
— A eleição de 2025 pode marcar um ponto de inflexão para a Coreia do Sul. Não apenas em termos eleitorais, mas como oportunidade para reavaliar o modelo de governança adotado desde a transição democrática — afirmou ao GLOBO Alexandre Coelho, professor da FESPSP. — Mais do que uma disputa entre progressistas e conservadores, este pleito se insere num debate maior sobre o futuro da institucionalidade política sul-coreana.
As últimas pesquisas — desde quarta-feira passada elas não podem ser publicadas — confirmam o favoritismo de Lee Jae-myung, o questionado líder do Partido Democrático (Minju) derrotado por Yoon em 2022. Aos 61 anos, vindo de uma família pobre, trabalhou na adolescência e recorreu ao supletivo para concluir o Ensino Médio.
A entrada na política foi tardia, em 2005. Foi eleito prefeito de Seongnam, depois governador de Gyeonggi, e, após perder a eleição presidencial de 2022, chegou à Assembleia Nacional, liderando a vitória legislativa do Minju em 2024. Em 2023, sobreviveu a um atentado a faca.
Seu principal rival é Kim Moon-soo, 71 anos, ex-líder sindical que enfrentou o regime ditatorial, mas migrou para o conservadorismo. Foi governador de Gyeonggi e ministro do Trabalho sob Yoon. Kim se manteve leal ao presidente afastado, inclusive durante o último debate.
— Lei marcial é lei marcial e guerra civil é guerra civil. São coisas diferentes — disse Kim, rebatendo críticas sobre sua ligação com Yoon.
Em dezembro de 2024, Yoon alegou agir contra “forças anti-estatais” ao decretar a lei marcial. O Parlamento bloqueado reagiu: deputados forçaram a entrada no plenário e derrubaram a medida, mesmo sob ameaças. Duas semanas depois, Yoon foi afastado, e a Corte Constitucional confirmou o impeachment em abril.
Coelho aponta que a sucessão de crises “revela tensões estruturais” no sistema político, marcado por confrontos entre Executivo e Legislativo e um presidencialismo considerado excessivamente concentrador.
Com o PPP dividido, parte dos votos conservadores pode ir para Lee Jun-seok, do Novo Partido da Reforma, que aparece com cerca de 10% nas pesquisas. A disputa, segundo Coelho, pode ser decidida por eleitores indecisos e moderados.
A eleição ocorre em meio a um cenário econômico delicado. O tarifaço de Donald Trump sobre exportações sul-coreanas, agora temporariamente reduzido, pode pressionar ainda mais o crescimento, cuja projeção pode cair para 0,8% em 2025.
Lee defende uma abordagem pragmática, estreitando laços com EUA e China. Já Kim prioriza alianças com EUA, Austrália, Índia e a Asean.
Na defesa, Lee quer usar inteligência artificial na modernização militar. Kim propõe submarinos atômicos e considera armas nucleares dos EUA na península.
A baixa taxa de natalidade é um desafio ignorado pelos principais candidatos. Em 2024, o índice era de 0,75 filho por mulher — bem abaixo dos 2,1 necessários para manter a população. A sociedade também está envelhecendo: eleitores com mais de 60 anos (17,7%) superam os de 40 (17,3%).
Este envelhecimento pode influenciar diretamente os rumos políticos e sociais da Coreia do Sul nos próximos anos.