Agência de notícias
Publicado em 6 de junho de 2025 às 15h50.
A Coreia do Norte reflutuou nesta sexta-feira seu maior navio de guerra, de 5 mil toneladas, após a embarcação tombar durante um lançamento fracassado no final de maio, em um episódio que o presidente Kim Jong Un classificou como um "ato criminoso" e resultou na prisão de altos funcionários do estaleiro. A informação foi revelada pela BBC, que citou a agência coreana KCNA.
Segundo o comunicado da agência, o navio de guerra “entrou na água com segurança na vertical” e, em seguida, foi “atracado no píer”. Imagens de satélite divulgadas pelos sites especializados 38 North e NK News mostram o contratorpedeiro equilibrado no píer e, horas depois, “flutuando no porto”.
Pesquisadores da 38 North relataram que o esforço para endireitar o navio, realizado na quinta-feira, foi conduzido manualmente. As imagens revelam trabalhadores no cais puxando amarras e utilizando balões de barragem para equilibrar a embarcação.
Segundo o Wall Street Journal, que entrevistou especialistas marítimos, acredita-se que os balões não tenham desempenhado um papel fundamental na manobra de endireitamento do navio, tarefa que deveria ter sido realizada com guindastes. Mas, segundo eles, os balões podem ter ajudado a manter o navio flutuando.
Nick Childs, analista naval do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um think tank sediado em Londres, disse que as marinhas modernas não recorreriam a grandes balões para fornecer flutuabilidade a um navio submerso. Por isso, de acordo com ele, os balões poderiam significar que a Coreia do Norte carece de equipamentos como guindastes de grande porte.
— A Coreia do Norte não tinha experiência na construção de um navio de guerra tão grande e utilizou métodos que outras nações provavelmente não utilizariam para construir e lançar o navio. Agora, eles o estão recuperando de maneiras não convencionais — explicou Childs.
O incidente foi presenciado pelo próprio presidente da Coreia do Norte, Kim Jong Un. O mandatário classificou o episódio como um “ato criminoso” que “prejudicou gravemente a dignidade e o orgulho [do país]”. Além disso, Kim atribuiu o fracasso a “absoluto descuido, irresponsabilidade e empirismo anticientífico”.
Em resposta ao vexame militar, pelo menos quatro autoridades, incluindo Ri Hyong-son, vice-diretor do Departamento da Indústria de Munições do Partido dos Trabalhadores, foram presos.
As punições que os envolvidos poderão enfrentar não foram divulgadas, mas a ditadura é conhecida por sentenciar funcionários que considera culpados de irregularidades a trabalhos forçados ou até mesmo à morte.
De acordo com o pesquisador Jihoon Yu, do Instituto Coreano de Análises de Defesa, a reação de Kim é uma tentativa de preservar sua imagem e manter a autoridade.
— A resposta severa de Kim ao fracasso visa proteger a imagem do líder e reafirmar sua autoridade — afirmou Yu em entrevista à BBC. Para ele, o regime está "profundamente investido na imagem de uma potência militar em ascensão" e o fracasso pode endurecer sua determinação de levar isso adiante.
A embarcação é motivo de orgulho no ambicioso plano de Kim para modernizar e expandir sua frota naval herdada da era soviética, sendo o destaque de uma cerimônia de batismo realizada em abril em Nampo, porto na costa oeste, próximo a Pyongyang.
Kim Jong-un presenciou o naufrágio do destróier durante seu lançamento, em um vexame militar. Especialistas apontaram que a técnica utilizada para colocar o navio na água lateralmente foi uma das causas do acidente. Foi a primeira vez que analistas observaram a Coreia do Norte usando o lançamento lateral para navios de guerra, o que evidenciou a falta de experiência e a pressão política de Kim por resultados rápidos.
Imagens de satélite, captadas três dias antes do acidente, mostravam a embarcação de 143 metros de comprimento — a maior classe de navio de guerra já construída por Pyongyang — posicionada sobre uma rampa de lançamento. A cerca de 40 metros do navio, uma estrutura que parecia ser uma área de observação, e onde Kim provavelmente estava durante o incidente, ainda estava em construção.
O destróier foi montado em Chongjin, cidade portuária na costa nordeste da Coreia do Norte, conhecida por fabricar embarcações menores, como cargueiros e barcos de pesca. Em relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), instituto de pesquisa em Washington, analistas afirmaram que o estaleiro “inegavelmente” não possuía experiência na construção e lançamento de navios de guerra de grande porte.
O estaleiro em Chongjin não possuía um dique seco e grande o suficiente para construir um destróier da classe Choe Hyon, nem uma rampa inclinada para deslizar a embarcação pela popa até a água. Os engenheiros construíram o navio no cais, sob uma cobertura de rede, e, ao final, tiveram de lançá-lo lateralmente.
Quando feito corretamente, o navio desliza ao longo da rampa e mergulha brevemente na água — como ocorreu com o destróier americano USS Cleveland, de 3.500 toneladas, lançado em Wisconsin em 2023. Normalmente, um rebocador é posicionado nas proximidades para auxiliar após o lançamento.
Mas, segundo a mídia estatal, ao tentarem empurrar o destróier norte-coreano para a água, ele perdeu o equilíbrio. Imagens de satélite feitas dois dias após o acidente mostraram o navio coberto com uma lona azul e tombado sobre o lado direito. A proa estava presa à rampa, enquanto a popa se projetava sobre o porto.