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Após meses de impasse, Armênia e Azerbaijão assinam acordo de paz mediado pelos EUA

Ponto central do texto é a concessão de direitos de exploração em corredor estratégico no sul armênio, alvo de disputa com os azeris nos últimos anos

Agência o Globo
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Publicado em 8 de agosto de 2025 às 18h48.

Última atualização em 8 de agosto de 2025 às 19h03.

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Os líderes da Armênia, Nikol Pashinyan, e do Azerbaijão, Ilham Aliyev, assinaram nesta sexta-feira um acordo de paz mediado pelos Estados Unidos que tem como ponto central a concessão dos direitos de exploração, para os americanos, de uma estratégica região no sul da Armênia, alvo de disputa entre os dois países.

E ao seu estilo, o presidente americano, Donald Trump, conseguiu impor sua marca pessoal no plano.

— A Armênia e o Azerbaijão prometem cessar todos os conflitos para sempre, abrir relações comerciais, de viagem e diplomáticas e respeitar a soberania e a integridade territorial um do outro — disse Trump, ao lado dos dois líderes, enquanto a declaração era assinada na Casa Branca. — Trinta e cinco anos de morte e ódio, e agora teremos amor e sucesso juntos.

Ao final de uma entrevista coletiva, na qual Trump foi praticamente o único a falar, foi executada uma versão instrumental de What a Wonderful World, de Bob Thiele e George David Weiss e eternizada na voz de Louis Armstrong.

O Corredor de Zangezur e a rota Trump

Pela proposta defendida pelos EUA e aceita pelos dois líderes, a Armênia concederá, por 99 anos, os direitos exclusivos de exploração econômica do chamado Corredor de Zangezur, perto da fronteira com o Irã. Posteriormente, um consórcio indicado pelos americanos será encarregado pelo desenvolvimento econômico da área, que fica em uma região montanhosa, e pela instalação de redes de energia, fibra óptica, petróleo e gás.

Em seus comentários, Pashinyan disse que a declaração conjunta era um "resultado revolucionário", que abria um novo capítulo "de paz, prosperidade, segurança e cooperação econômica no Sul do Cáucaso.

Apesar da concessão, a área estará sob jurisdição da lei armênia — e em um toque personalista, o corredor passará a ser chamado de Rota Trump para a Paz Internacional e a Prosperidade.

Reações à conquista de paz

— Se não fosse pelo presidente Trump e sua equipe, provavelmente hoje a Armênia e o Azerbaijão estariam novamente neste processo interminável de negociações — disse Aliyev, pouco antes da assinatura. — O presidente Trump traz paz ao Cáucaso.

Com pouco mais de 40 km de extensão, o Corredor de Zangezur está localizado entre o exclave azeri de Nakhichevan e a região de Nagorno-Karabakh (Artsakh), ponto central de uma guerra entre Azerbaijão e Armênia em 2020, e que terminou com o controle total de Baku sobre a área, ocasionando a saída de toda a população armênia dali.

Desde o fim do conflito, o Azerbaijão exerce pressão — inclusive militar — para controlar a área, que fica em território armênio, permitindo uma ligação direta entre o país, o enclave de Nakichevan e a Turquia, aliada de Baku. Os armênios alegam se tratar de mais uma quebra de sua soberania territorial, prometeram usar “todos os meios disponíveis” para se proteger.

Em março, Armênia e Azerbaijão firmaram os termos de um acordo de paz para resolver as questões em aberto após o conflito de 2020, que até hoje não foi assinado por divergências em tema, por exemplo, um trecho da Constituição armênia que defende a reunificação do país com o território de Nagorno-Karabakh — no mesmo mês, Pashinyan anunciou que um referendo sobre uma nova Carta poderia ocorrer em 2027, sugerindo a alteração exigida por Baku, além de compromissos voltados para uma eventual adesão à União Europeia, mas o tema ainda divide a sociedade armênia.

Detalhes do acordo de paz e impactos regionais

O acordo firmado nesta sexta-feira ainda prevê o fim de restrições impostas aos azeris, ligadas à venda de equipamentos de defesa, em vigor desde os anos 1990, quando ocorreu a primeira guerra com os armênios.

Trump também anseia trazer o Azerbaijão para os chamados Acordos de Abraão, voltados para a normalização dos laços entre países de maioria muçulmana e Israel. Embora Baku tenha laços firmes e complexos com os israelenses, sua inclusão na iniciativa é vista na Casa Branca como uma forma de ampliar sua pegada na Ásia Central.

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