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Ataque pode ter atrasado o programa nuclear do Irã em apenas alguns meses, diz relatório dos EUA

Descobertas preliminares confidenciais indicam que o ataque isolou as entradas de duas instalações, mas não derrubou seus prédios subterrâneos

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 24 de junho de 2025 às 21h02.

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Um relatório preliminar confidencial dos Estados Unidos aponta que o bombardeio de três instalações nucleares no Irã, realizado neste sábado, 21, causou um atraso no programa nuclear iraniano de apenas alguns meses. As informações foram divulgadas pelo jornal norte-americano The New York Times.

Os ataques destruíram as entradas de duas das instalações, mas não provocaram o colapso das estruturas subterrâneas, segundo fontes ouvidas pelo jornal. Antes do bombardeio, agências de inteligência dos EUA haviam estimado que, caso o Irã tentasse acelerar o processo de fabricação de uma bomba, levaria cerca de três meses para fazê-lo. Após os ataques americanos e os bombardeios subsequentes da Força Aérea Israelense, o relatório da Agência de Inteligência de Defesa indicou que o programa foi retardado por menos de seis meses.

O relatório também revelou que grande parte do estoque de urânio enriquecido do Irã havia sido transferida para locais secretos antes dos ataques, que destruíram pouco material nuclear. Algumas autoridades israelenses acreditam que o Irã manteve pequenas instalações clandestinas de enriquecimento para garantir a continuidade do programa em caso de ataques às instalações maiores.

O levantamento indicou que as três instalações nucleares atacadas — Fordo, Natanz e Isfahan — sofreram danos significativos, sendo a instalação de Natanz a mais afetada. Não há confirmação se o Irã tentará reconstruir essas instalações ou se continuará com seu programa nuclear.

Especialistas consultados pelo NYT destacaram que, se o Irã decidisse desenvolver uma bomba rapidamente, ela seria provavelmente um dispositivo pequeno e rudimentar, já que uma ogiva miniaturizada exigiria um desenvolvimento mais complexo, e os danos à pesquisa mais avançada ainda são incertos.

Antes do ataque, autoridades militares já haviam alertado que qualquer tentativa de destruir a instalação de Fordo, que está enterrada a mais de 76 metros abaixo de uma montanha, exigiria um longo período de ataques aéreos contínuos. Durante os bombardeios, os aviões americanos lançaram 12 bombas GBU-57 Massive Ordnance Penetrator em Fordo, criando seis crateras visíveis na superfície.

Vista aérea da instalação nuclear de Fordow, no Irã (Satellite image ©2025 Maxar Technologies / AFP)

Embora o presidente Donald Trump tenha afirmado que as instalações nucleares do Irã foram "destruídas", a avaliação inicial sugere que a destruição foi menos extensa do que o alegado. O Congresso dos EUA deveria ser informado sobre os ataques nesta terça-feira, 24, mas a sessão foi adiada. Os legisladores deverão receber as informações nesta quinta-feira (senadores) e sexta-feira (membros da Câmara).

Contraponto

Desde o início dos ataques, Trump tem expressado frustração com as notícias que questionam a extensão dos danos. Ele tem acompanhado de perto as declarações públicas de outras autoridades sobre o impacto nos locais nucleares.

Em um comunicado, o Secretário de Defesa, Pete Hegseth, reiterou a avaliação de Trump, afirmando que a campanha de bombardeios foi bem-sucedida. "Nossas bombas maciças atingiram exatamente o ponto certo em cada alvo e funcionaram perfeitamente", disse ele.

O relatório, de cinco páginas, ainda está em fase inicial, e novas avaliações serão feitas à medida que mais informações sobre os danos sejam coletadas e os iranianos avaliem as instalações. Uma autoridade comentou que as conclusões preliminares eram confusas, indicando que o Irã ainda mantém controle sobre a maior parte de seu material nuclear, o que permitiria ao país continuar a desenvolver armas nucleares rapidamente, caso decida fazê-lo.

A Casa Branca contestou o relatório, com a porta-voz Karoline Leavitt afirmando que as conclusões eram "completamente equivocadas". Ela argumentou que o vazamento do relatório visava diminuir a imagem do presidente Trump e desacreditar os pilotos que realizaram a missão. "Todos sabem o que acontece quando se lançam 14 bombas de 13.600 kg perfeitamente sobre seus alvos: destruição total", declarou Leavitt.

Elementos do relatório já haviam sido noticiados anteriormente pela CNN, que informou que os ataques causaram danos significativos ao sistema elétrico de Fordo, embora ainda não seja possível estimar o tempo necessário para que o Irã tenha acesso novamente a suas instalações nucleares.

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