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Brics: declaração de ministros critica tarifas e defende esforços para evitar guerra comercial

Bloco propõe também reformas em impostos, para aumentar taxação sobre ricos e mudanças no FMI

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, durante reunião do Brics, no Rio de Janeiro, com ministros e presidentes de BCs de outros países (Rafa Neddermeyer/Brics/Divulgação)

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, durante reunião do Brics, no Rio de Janeiro, com ministros e presidentes de BCs de outros países (Rafa Neddermeyer/Brics/Divulgação)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 5 de julho de 2025 às 23h23.

Última atualização em 5 de julho de 2025 às 23h29.

Rio de Janeiro - O Brics divulgou na noite deste sábado, 5, três declarações feitas pelo grupo que reúne ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais dos países-membros. A principal delas faz críticas à imposição de tarifas comerciais unilaterais, em uma referência às medidas do presidente dos EUA, Donald Trump, embora sem o citar nominalmente.

"A economia global e os mercados financeiros têm estado cada vez mais sujeitos a elevada incerteza e a episódios de intensa volatilidade. Manifestamos a nossa séria preocupação com a imposição unilateral de medidas relacionadas com o comércio e as finanças, incluindo o aumento de tarifas e medidas não tarifárias que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)", diz a declaração.

Desde que tomou posse, em janeiro, Trump impôs uma série de tarifas comerciais a outros países, de modo unilateral. Parte delas passa por processo de revisão, enquanto os países atingidos tentam oferecer concessões aos Estados Unidos para evitar que elas sejam implantadas.

"Neste ambiente desafiador, os membros do Brics demonstraram resiliência e continuarão a cooperar entre si e com outros países para salvaguardar e fortalecer o sistema multilateral de comércio não discriminatório, aberto, justo, inclusivo, equitativo, transparente e baseado em regras, tendo a OMC como seu núcleo, evitando guerras comerciais que possam mergulhar a economia global na recessão ou prolongar ainda mais o crescimento contido", afirma o documento.

O comunicado defende ainda o compromisso do trabalho dos BCs para conter a inflação e um avanço da cooperação intra-Brics para "avançar o desenvolvimento e a resiliência de nossas economias".

O Brics é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, que aderiram ao bloco em 2024.

O bloco realiza sua reunião de cúpula no Rio de Janeiro neste domingo, 6, e segunda, 7. Em paralelo, são realizados vários outros eventos, como uma reunião de ministros da Fazenda e de presidentes de bancos centrais.

Mudanças em impostos e no FMI

Além da declaração principal, foram emitidos mais dois documentos: uma defesa da reforma do FMI e outra sobre cooperação tributária, para fazer com que pessoas de maior renda paguem mais impostos.

"Continuaremos a trabalhar juntos em prol de um sistema tributário internacional justo, mais inclusivo, estável e eficiente, adequado ao século 21. Reafirmamos nosso compromisso com a transparência tributária e com o fomento do diálogo global sobre tributação eficaz e justa, aumentando a progressividade e contribuindo para os esforços de redução da desigualdade", diz a declaração.

"Nosso objetivo é aprofundar a coordenação global entre as autoridades tributárias, aprimorar a mobilização de receitas internas, garantir a alocação justa dos direitos tributários e combater a evasão fiscal e os fluxos financeiros ilícitos relacionados a impostos", afirma.

O Brics ressaltou ainda a necessidade de reformar as instituições criadas na conferência de Bretton Woods, como o FMI e o Banco Mundial.

Uma das mudanças defendidas é um novo modelo de cotas a serem pagas pelos países ao FMI, e o peso que cada país tem ao votar decisões do fundo. A declaração defende que países emergentes e de menor renda tenham mais poder para decidir os rumos e ações da entidade.

O que é o Brics?

O Brics é um grupo que reúne países emergentes para discutir questões econômicas e políticas.

Criado em 2006, o bloco reunia inicialmente Brasil, Rússia, Índia e China, cujas letras formavam a sigla Bric (tijolo, em inglês). Depois, em 2011, houve a entrada da África do Sul, chamada de South Africa em ingles, o que originou a sigla Brics.

Em 2024, foram admitidos mais seis países, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

A cada ano, um país ocupa a presidência do bloco e organiza uma reunião de cúpula em seu território. O Brasil comanda o grupo em 2025.

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