Israel conta com sistemas de proteção civil mais completos do mundo, como resposta às ameaças geopolíticas que a região sofre desde a fundação do Estado israelense.
Redação Exame
Publicado em 14 de junho de 2025 às 15h05.
Ao longo de sete décadas, Israel desenvolveu um dos sistemas de proteção civil mais completos do mundo, como resposta às ameaças geopolíticas que a região sofre frequentemente desde a fundação do Estado israelense.
A obrigatoriedade dos bunkers ou abrigos antibomba, que hoje são 1,5 milhão distribuídos em seu território nacional, estabeleceu-se em 1951, quando a Lei de Defesa Civil determinou que todas as construções no país deveriam incorporar estas estruturas defensivas.
A legislação instituiu espaços fortificados em edifícios residenciais, comerciais e públicos, como elemento mandatório do planejamento territorial.
Desde então, a regulamentação passou por modificações, como durante a Guerra do Golfo, em 1991, quando o uso de armas químicas pelo Iraque motivou atualizações nos padrões construtivos.
As novas especificações passaram a exigir sistemas de ventilação específicos e proteções contra ameaças químicas, ampliando assim o escopo de segurança dos abrigos.
Atualmente, todos os edifícios israelenses devem ter ao menos um quarto fortificado por andar. Somente em construções anteriores às regulamentações mais rígidas, permite-se o compartilhamento de espaços coletivos entre diferentes unidades habitacionais.
Os bunkers israelenses seguem rigorosos padrões de engenharia que equilibram resistência com funcionalidade. As paredes devem ser construídas com concreto maciço de 30 centímetros de espessura, de forma a proporcionar proteção contra impactos diretos e fragmentação.
A blindagem estende-se ao piso e ao teto, criando um compartimento completamente protegido que, inevitavelmente, reduz o pé-direito em comparação ao restante da edificação.
O acesso é feito por portas metálicas equipadas com mecanismos de travamento que se estendem profundamente nas paredes, garantindo vedação hermética quando ativados.
As aberturas para iluminação natural limitam-se a uma janela por abrigo, seguindo o mesmo padrão de resistência das demais estruturas.
O projeto interior restringe a presença de objetos frágeis, priorizando a segurança dos ocupantes durante situações de impacto.
A ventilação é um dos aspectos mais sofisticados destes abrigos. Incorpora filtros especializados para neutralizar agentes químicos e sistemas de circulação de ar que funcionam independentemente da rede elétrica convencional.
Uma autonomia energética que garante o funcionamento mesmo em cenários de interrupção da infraestrutura básica.
Muitas famílias adaptaram estes espaços como dormitórios. A dualidade funcional facilita o acesso rápido em situações de alerta e otimiza espaços, em um país onde são muitos os desafios habitacionais para a população de cerca de 9 milhões de pessoas.
Imagens de um bunker em Israel: o território conta com 1,5 milhão de abrigos de segurança obrigatórios por lei. (JACK GUEZ/AFP)
À estratégia de bunkers, soma-se um sistema de interceptação tecnológica. Sirenes distribuídas nacionalmente operam de forma coordenada a partir de transmissões em rádio e televisão, para divulgação de códigos específicos em hebraico.
O protocolo central baseia-se no "Homat Barzel" (Escudo de Ferro), transmitido simultaneamente por todas as estações quando detectadas ameaças ao território nacional.
Este código ativa procedimentos pré-estabelecidos que orientam a população civil sobre desligamento de aparelhos elétricos, fechamento de registros de gás e deslocamento ordenado aos abrigos.
Em 2014, foi implementado o aplicativo Red Alert, que adicionou uma camada tecnológica de envio de notificações georreferenciadas diretamente aos dispositivos móveis.
Assim, passaram a ser possíveis alertas segmentados por região, otimizando recursos e reduzindo alarmes desnecessários em áreas não afetadas por ameaças específicas.
O tempo de resposta varia entre 15 segundos e 2 minutos, dependendo da proximidade geográfica com fronteiras e do tipo de perigo detectado. Os protocolos orientam movimentação sem corrida, para evitar acidentes durante o acesso aos abrigos.
Após os alarmes cessarem, a determinação é de permanência adicional de 10 minutos - período calculado com base em análises balísticas, que consideram a possibilidade de múltiplas ondas de ataque ou impactos retardados de fragmentos.
Nas situações em que o acesso imediato aos bunkers não é possível, existem protocolos alternativos que orientam o comportamento em diferentes ambientes.
Em espaços internos, recomenda-se buscar cômodos com menor número de paredes externas ou utilizar escadarias de edifícios, preferencialmente em andares intermediários que oferecem maior proteção estrutural.
Em áreas externas, as orientações incluem interrupção imediata de atividades, posicionamento deitado no solo e proteção da cabeça com os braços.
O sistema Domo de Ferro constitui a primeira linha de defesa, enquanto os abrigos funcionam como segurança adicional para situações de saturação ou falha dos sistemas.
A coordenação entre detecção de ameaças e ativação dos alertas é feita por redes de comunicação militar que processam dados de radar, satélites e inteligência em tempo real.
Uma metodologia que permite cálculos precisos de tempo de impacto e área de risco, apoiando tanto o direcionamento de interceptadores quanto as ordens de emissão de alertas para evacuação civil.
A eficácia mensurada do Domo de Ferro mantém-se acima de 95%, superando a taxa original projetada de 85%.
Durante operações específicas como a Operação Pilar de Defesa, em 2012, o Domo de Ferro identificou dois terços dos aproximadamente 1.000 mísseis como não representando ameaça e interceptou 90% dos 300 restantes.
Contudo, nos ataques de 7 de outubro de 2023, algumas vulnerabilidades foram identificadas quando o Hamas lançou aproximadamente 2.200 foguetes de Gaza em apenas 20 minutos. Houve dificuldades para lidar com uma barragem desta escala.
Os confrontos mais recentes demonstraram que mísseis balísticos penetraram as defesas e atingiram áreas urbanas de Tel Aviv, evidenciando que mesmo sistemas sofisticados enfrentam desafios contra ataques coordenados de longo alcance.