Fachada da Casa Branca, em Washington, DC (Saul Loeb/AFP)
Repórter
Publicado em 10 de novembro de 2025 às 14h17.
No dia primeiro de outubro, parlamentares republicanos e democratas do Congresso dos Estados Unidos não conseguiram concordar na aprovação de um orçamento para financiar serviços federais além do dia primeiro, data de expiração do orçamento prévio.
As diferenças se deviam no que democratas e republicanos julgavam como áreas prioritárias para gastos governamentais. Isso resultou em uma paralisação federal, já que o projeto não foi aprovado por parlamentares, e muitas áreas do governo não podem operar apropriadamente sem um plano financeiro claro.
A paralisação já se alastra por 40 dias, a mais longa na história do país. Durante esse tempo, muitos serviços como auxílios alimentares, voos, e o pagamento de milhares de trabalhadores federais foi suspenso. Todavia, um acordo feito neste domingo, 9, pode acabar com o shutdown — para alívio dos mais de 650 mil funcionários federais que estão sem salário há mais de um mês.
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Entenda as origens, custos e a possível resolução da maior paralisação da história dos EUA.
A principal causa por trás do shutdown foi a inabilidade de republicanos e democratas em concordar no plano de orçamento para os gastos do governo no dia primeiro de outubro. No sistema governamental americano, o Congresso e o Senado devem aprovar esse orçamento para que seja retificado pelo presidente.
No momento, a maioria no Congresso é republicana, mas no Senado, a câmara superior, o partido não consegue juntar por si só os 60 votos necessários para passar o projeto, o que significa que os democratas têm poder de barganha.
Com isso, os democratas demandaram que o projeto de financiamento incluísse certas medidas que tornariam especificamente o serviço de saúde - notoriamente caro nos EUA - mais acessível, e a reversão de cortes financeiros do presidente Donald Trump ao Medicaid, um serviço de saúde do governo sobre o qual milhares de idosos, deficientes e pessoas de baixa renda dependem, de acordo com apuração da BBC.
Foi isso que gerou o impasse político que levou à paralisação, já que os partidos não conseguem concordar em um plano que passe por ambas as câmaras.
O shutdown atual perdura também pelas diferenças ideológicas entre os partidos que se aprofundaram durante a administração de Trump, com ambas as siglas se culpando pela paralisação.
Os interesses divergentes — com democratas pressionando intensamente pelos benefícios de saúde e republicanos votando para manter os gastos na área controlados, visando controlar a dívida do país — um consenso parecia difícil.
Consenso frágil
Segundo apuração do veículo de notícias americano NPR, houve 14 tentativas falhas antes de se chegar a um consenso, com um projeto sendo aprovado nesse domingo, 9, após certos democratas terem cedido em prol de um acordo para acabar com o shutdown.
Múltiplos voos cancelados no aeroporto internacional Boston Logan, em Boston, Massachusetts, EUA, no dia 10 de novembro (Joseph Prezioso/AFP)
Durante o shutdown, diversos serviços federais são cancelados, e param de operar normalmente. Apenas serviços considerados essenciais continuam seu funcionamento. Mesmo assim, até funcionários empregados nesses serviços não são pagos até que o governo consiga recomeçar as atividades, por mais que os membros do Congresso continuem a receber, convenção que foi alvo de fortes críticas.
Dentre os serviços ainda em funcionamento estão a área de saúde e de segurança pública, como médicos e enfermeiras, a polícia, tropas fronteiriças e o controle alfandegário. Os correios também continuam a operar normalmente, e benefícios relacionados a esses serviços, como cheques para o Medicare, também funcionam, por mais que serviços adicionais como verificação e emissão de certificados para esses programas possam falhar.
Por outro lado, serviços como transporte, museus, certas escolas e outros institutos financiados federalmente e muitos programas e benefícios sociais sofrem com a paralisação, com soldados e demais tropas também operando sem pagamento.
Por exemplo, o Departamento de Transporte americano anunciou o cancelamento de milhares de voos domésticos no país, afetando 40 aeroportos, citando a fatiga de controladores operando em torres de voo, que não estão sendo pagos durante o shutdown, como principal motivo. Isso causou incerteza e caos conforme a temporada de Ação de Graças, feriado importante nos EUA, se aproxima.
Parques nacionais e monumentos, como a ilha de Alcatraz na baía de São Francisco e o Monumento de Washington estão parcialmente ou totalmente fechados, assim como a instituição de museus Smithsonian.
Um dos importantes benefícios afetados é o Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP), conhecido coloquialmente como “food stamps”, que fornece acesso à alimentos para americanos de baixa renda. Com os selos, ou “stamps” – utilizados na obtenção de alimentos - esgotados, o programa para de beneficiar milhares de pessoas.
E, durante a paralisação, milhares de trabalhadores que atuam nessas áreas estão de licença não remunerada ou trabalhando sem pagamento, o que piora a qualidade dos serviços e aumenta fatiga, incerteza e medo.
Reflexo da Casa Branca na manhã do dia 10 de novembro, quando deverá ser debatida uma possível solução ao shutdown (Tom Brenner/AFP)
Nesse domingo dia 9, foi aprovado pelo Senado um projeto de orçamento que pode trazer um fim a mais de 40 dias de paralisação.
A proposta promete financiar os gastos do governo até o dia 30 de janeiro e inclui um pacote de projetos de lei de dotações orçamentárias pelos próximos 3 anos. Além disso, proibiria agências federais de demitir seus funcionários até a data de expiração em janeiro, o que atrasaria os interesses de Trump de reduzir a força trabalhista federal, o que já havia levado a demissões em massa.
O trato foi feito com a ajuda de um número de democratas que diferiram dos ideais de seu partido nesse momento buscando o fim da paralisação, que tem custos estimados pelo Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca de US$ 15 bilhões por semana.
Dentre eles estão Maggie Hassan e Jeanne Shaheen, ambas de Nova Hampshire, e o senador Angus King, do Maine, independente mas com inclinações democratas.
"Há mais de um mês, deixei claro que minhas prioridades são reabrir o governo e estender os créditos fiscais aprimorados para planos de saúde previstos na Lei de Acesso à Saúde (ACA). Este é o melhor caminho para atingirmos esses dois objetivos", publicou Shaheen no X, ex-Twitter.
O voto passou com a margem mínima de aprovação de 60 votos a favor e 40 contra. O Senado se reunirá nessa segunda feira para buscar circunver certas regras e procurar fazer a passagem do projeto mais rapidamente. Senão, o processo poderia demorar semanas, estendendo ainda mais o shutdown.
“A votação de hoje foi boa”, disse o líder da maioria no Senado, John Thune, a repórteres após o encerramento da sessão no domingo. “Esperamos ter a oportunidade amanhã para planejar as próximas votações. Claro que isso exigirá cooperação e consenso.”
Por mais que tenha sido aprovado pelo Senado, o projeto ainda deverá ser aprovado pela Câmara dos Deputados e enviado para a assinatura do presidente Donald Trump. Mesmo com negociações propícias, o processo ainda pode demorar muitos dias.