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China rebate críticas de Trump e consolida alianças com Putin e Kim Jong-un

Líder chinês e ditador norte-coreano se encontraram frente a frente no Grande Salão do Povo, em Pequim, na esteira do grande desfile militar realizado na quarta-feira

Presidente chinês Xi Jinping  (ANDRES MARTINEZ CASARES / POOL/ AFP)

Presidente chinês Xi Jinping (ANDRES MARTINEZ CASARES / POOL/ AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 4 de setembro de 2025 às 12h52.

Ainda na esteira do grande desfile militar realizado na véspera na Praça da Paz Celestial, o líder chinês, Xi Jinping, recebeu o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, para uma reunião bilateral, em uma de suas raras aparições no exterior.

O encontro ocorre em um momento em que Pequim rebate a acusação do presidente americano, Donald Trump, de que a agenda que reuniu líderes não-ocidentais na capital chinesa serviu para os chefes dos regimes comunistas asiáticos e o presidente russo, Vladimir Putin, conspirarem contra os EUA.

A mídia estatal chinesa noticiou que o encontro entre os líder aconteceu no Grande Salão do Povo, que é utilizado por Xi para receber chefes de Estado e visitantes de alto-perfil. O Ministério das Relações Exteriores chinês havia anunciado mais cedo que o encontro seria "uma troca profunda de opiniões sobre as relações entre a China e a República Popular Democrática da Coreia e questões de interesse comum", sem maior detalhamento.

"A China está disposta a colaborar com a RPDC para fortalecer a comunicação estratégica... e aprofundar a troca de experiências em matéria de governança", disse o porta-voz Guo Jiakun.

A reunião bilateral ocorre um dia após Kim ser um dos convidados de honra de Xi durante uma parada militar em homenagem aos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e da guerra Sino-japonesa — conflitos que Pequim tem revisitado a memória para reivindicar interesses atuais. O líder norte-coreano também teve um momento de contato direto com Putin na quarta-feira, de quem se tornou um grande aliado no contexto da guerra na Ucrânia, em um encontro que acabou em troca de elogios e promessa de aprofundamento na cooperação.

Em um momento em que tenta projetar a influência geopolítica da China em contraposição aos EUA, Xi teve uma semana movimentada. Ainda no domingo, recebeu líderes mundiais para uma reunião de cúpula da Organização para Cooperação de Xangai — incluindo o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, uma liderança asiática considerada mais próxima do ocidente pela relação comercial do seu país com Washington, atualmente sob pressão da guerra tarifária de Trump.

Em um triunfo para Xi, Modi concordou em deixar as disputas fronteiriças com a China em segundo plano para aprofundar relações e reconstruir pontes — o premier disse que voos diretos entre os dois países seriam retomados. O cálculo político também interessa a Délhi, que tenta demonstrar que tem parceiros de peso fora do eixo Ocidental.

A mensagem mais direta, porém, veio na quarta-feira, quando o Exército de Libertação Popular fez uma exibição de novos armamentos tecnológicos, que afirmam estar em plena capacidade operacional e ter fabricação 100% chinesa. Entre os novos integrantes do arsenal, o míssil balístico intercontinental Dongfeng 5 demonstrou uma mensagem clara: capacidade nuclear e alcance para atingir o território dos EUA.

Enquanto seus principais rivais no cenário internacional acompanhavam a demonstração de força em Pequim, Trump reagiu com uma postagem na rede social Truth Social — que se tornou um dos canais oficiais de comunicação do presidente —, acusando Xi, Putin e Kim de se encontrarem para conspirar contra os EUA.

Autoridades chinesas rebateram a alegação do presidente americano nesta quinta, e defenderam os convites aos líderes russo e norte-coreano. Guo respondeu a um questionamento sobre a fala de Trump, afirmando que os "convidados estrangeiros" foram chamados para celebrar os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.

"Trata-se de colaborar com os países e povos que amam a paz, para recordar a história, honrar a memória dos mártires, valorizar a paz e criar o futuro", disse o porta-voz. "O desenvolvimento das relações diplomáticas da China com qualquer país nunca é dirigido contra terceiros."

O Kremlin já havia rebatido separadamente a alegação de Trump na quarta-feira, quando Putin e Kim se encontraram na Casa de Hóspedes Estatal Diaoyutai, no oeste de Pequim. Assessores presidenciais russos sugeriram que a frase do presidente americano teria um contorno irônico, e disseram esperar que se tratasse de uma brincadeira.

Pequim reservou palavras mais duras para a principal representante diplomática da União Europeia, Kaja Kallas, que também criticou o desfile, e classificou a aparição conjunta de Xi, Putin e Kim como parte de um esforço conjunto para construir uma "nova ordem mundial" antiocidental e "um desafio direto ao sistema internacional baseado em normas".

Sem citar diretamente o nome de Kallas, o porta-voz da diplomacia chinesa disse que declarações de "certa funcionária da UE" estavam "repletas de viés ideológico" e que careciam de "conhecimentos históricos básicos". Ainda de acordo com o posicionamento oficial, a fala seria uma incitação "de forma descarada" ao "confronto e o conflito".

(Com AFP)

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