Redatora
Publicado em 23 de maio de 2025 às 07h11.
Faltando 45 dias para o fim da suspensão temporária de 90 dias nas tarifas recíprocas impostas pelo governo dos Estados Unidos, o cenário internacional vive um clima de intensa pressão para que as negociações comerciais se transformem em acordos concretos.
A incerteza persiste para governos, empresas e consumidores, e, segundo informações da Bloomberg, a expectativa é que os próximos dias sejam decisivos.
O presidente Donald Trump já indicou que nem todas as nações chegarão a acordos até o prazo final, 9 de julho, e que algumas terão as tarifas definidas unilateralmente. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que países que não negociarem “de boa-fé” receberão notificações com as tarifas aplicadas.
O Reino Unido foi um dos poucos a anunciar um acordo com os EUA, em 8 de maio, classificado por Trump como “completo e abrangente”. Apesar disso, o acordo cobre apenas alguns setores e mantém a tarifa padrão de 10% sobre as importações britânicas.
Foram negociadas exceções para as indústrias automotiva e siderúrgica, que enfrentam tarifas setoriais de 25%, o que gerou alertas sobre possíveis perdas de empregos. Ainda faltam informações sobre a entrada em vigor das reduções tarifárias e os critérios para exportação de aço ao mercado americano.
No caso da China, Washington reduziu temporariamente as tarifas que chegavam a 145% sobre produtos chineses, mantendo uma taxa geral de 30% durante os 90 dias de trégua. A China respondeu com uma diminuição para 10% nas tarifas sobre produtos americanos. A pausa tarifária, que vai até meados de agosto, será usada para uma série de rodadas de negociação entre os dois países.
A negociação com a União Europeia, por sua vez, tem enfrentado entraves. Segundo Bessent, o bloco sofre de um “problema de ação coletiva” que tem dificultado as conversas. Após a entrega de uma lista de exigências por parte dos EUA, considerada “irrealista” por representantes europeus, a Comissão Europeia apresentou uma contraproposta revisada. Uma nova rodada de conversas está marcada, mas há ceticismo quanto a possibilidade de avanços relevantes.
Na Ásia, a Índia adotou uma abordagem em fases. Após uma visita de quatro dias a Washington, o ministro do Comércio, Piyush Goyal, afirmou ter tido reuniões construtivas.
A primeira etapa do acordo deve incluir bens industriais, produtos agrícolas e medidas contra barreiras não tarifárias, com previsão de assinatura antes de julho. Outras fases devem se estender até o fim do ano e culminar, possivelmente em 2026, com um pacto mais amplo que exigirá aval do Congresso americano.
O Japão também intensificou o diálogo e espera chegar a um entendimento até junho, embora sem pressa para fazer concessões. Entre os temas sensíveis estão as tarifas de 25% sobre automóveis e a tentativa da Nippon Steel de adquirir a United States Steel Corp. O primeiro-ministro Shigeru Ishiba reiterou o pedido de eliminação das tarifas durante conversa recente com Trump.
A Coreia do Sul enviou delegações técnicas a Washington para tratar de temas como equilíbrio comercial, barreiras não tarifárias, segurança econômica e regras de origem. As reuniões seguem o diálogo iniciado entre ministros na semana anterior.
O Vietnã relatou avanços em sua segunda rodada de negociações com os EUA. Segundo comunicado do ministério do Comércio, foram identificados pontos de consenso e outros que ainda exigem debate. As conversas continuarão em junho, com grupos técnicos designados para acelerar o processo.
A Tailândia também sinalizou prontidão para iniciar as negociações e já começou a reforçar os critérios de emissão de certificados de origem, numa tentativa de reduzir o déficit comercial com os EUA em até US$ 15 bilhões por ano, de acordo com o ministro da Fazenda.
Canadá e México, por integrarem o acordo USMCA, que regula o comércio entre os três países, têm conseguido escapar das tarifas recíprocas.
No caso canadense, uma medida do governo Trump impôs em março uma tarifa de 25% sobre produtos relacionados ao fentanil, mas a maioria das mercadorias foi isenta graças ao acordo. O primeiro-ministro Mark Carney defende um novo pacto abrangente com os EUA, possivelmente uma atualização do USMCA, embora ainda não haja cronograma para as negociações.
O México, por sua vez, mantém 86% de suas exportações isentas de tarifas sob o acordo vigente. Ainda assim, o setor automotivo enfrenta tarifas de cerca de 15% sobre veículos com partes produzidas fora dos EUA. O governo mexicano busca tratamento preferencial nas conversas com os EUA, enquanto colabora com Washington em questões de segurança.
A presidente Claudia Sheinbaum discutiu pessoalmente o tema das tarifas sobre aço e alumínio com Trump.