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Disputa por ilha em fronteira com Brasil será longa, diz presidente da Colômbia

Em entrevista, Gustavo Petro falou sobre reativar a Comissão Mista Permanente para a Inspeção da Fronteira Colombo-Peruana

EFE
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Agência de Notícias

Publicado em 9 de agosto de 2025 às 09h17.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, considerou nesta sexta-feira, 8, que a reivindicação ao governo do Peru pela posse de uma ilha no rio Amazonas, na tríplice fronteira que também conta com o Brasil, será um processo longo que pode terminar nos tribunais internacionais e negou que seja uma estratégia política diante das eleições legislativas e presidenciais de 2026.

“Este processo é mais longo do que o que acontece hoje e vai ultrapassar o governo. Essas etapas levam meses; e se chegarmos a um cenário de uma ação internacional, então anos, como aconteceu com San Andrés”, disse o presidente em entrevista ao jornal El Espectador, na qual comparou a disputa atual com a que teve com a Nicarágua na Corte Internacional de Justiça (CIJ) pelo arquipélago caribenho de San Andrés.

Petro, que na terça-feira acusou o Peru de se apropriar de “um território que pertence à Colômbia” no rio Amazonas, visitou ontem a cidade fronteiriça de Leticia.

“A Colômbia não reconhece a soberania do Peru sobre a chamada ilha de Santa Rosa e não reconhece as autoridades de fato impostas na região”, afirmou.

A posição de Petro provocou uma resposta dura do governo peruano, que ontem afirmou que “não há nenhuma discussão” sobre sua soberania no distrito amazônico de Santa Rosa de Loreto, habitado por cidadãos e autoridades peruanas.

Contexto histórico

Colômbia e Peru assinaram em 1922 um tratado que estabelece o rio Amazonas como fronteira entre os dois países e, posteriormente, foram atribuídas as ilhas que correspondem a cada um, mas as mudanças no curso do rio permitiram o surgimento de novas ilhas cuja titularidade não foi definida, que é o que a Colômbia reivindica neste caso.

Acesso comprometido

Segundo Petro, “a Colômbia está vendo desaparecer o acesso ao rio Amazonas” porque, com as mudanças em seu curso, as ilhas de Santa Rosa e Chinería “estão se unindo” em uma espécie de ponte que pode deixar Leticia, capital do departamento colombiano de Amazonas, isolada do rio no ponto onde se forma uma tríplice fronteira com a cidade brasileira de Tabatinga (AM).

“Então, isso é uma perda estratégica, e não é qualquer perda; não é a perda de uma ilha como querem fazer parecer”, acrescentou Petro na entrevista, na qual destacou que “o que está acontecendo agora é desencadeado pelo fato unilateral do Peru” de declarar “como território peruano, por meio de uma lei peruana, o que é chamado de ilha Santa Rosa”.

Para o presidente da Colômbia, a reclamação ao Peru deveria ter sido feita “em 2017 e com o presidente da época (Juan Manuel Santos)”, mas como isso não aconteceu, “o tempo que passou deteriorou as possibilidades de uma negociação comum”.

“O Tratado do Rio de Janeiro (1934) estabelece uma instância de acordo bilateral que foi concebida justamente para este tipo de problemas. O surgimento de ilhas, devido aos movimentos do rio, faz com que haja uma espécie de fronteira móvel e, portanto, a necessidade de um acordo sempre que surge um problema deste tipo. Isso não foi feito em 2017”, afirmou.

No discurso ontem em Leticia, Petro falou sobre a disposição da Colômbia de reativar a Comissão Mista Permanente para a Inspeção da Fronteira Colombo-Peruana (Comperif) e confirmou que recebeu um convite do governo peruano para participar de uma reunião desse órgão nos dias 11 e 12 de setembro próximo em Lima.

Petro rejeitou as críticas que lhe foram feitas, inclusive na própria Colômbia, por parte daqueles que consideram que ele está agitando a bandeira da soberania e da defesa territorial com fins eleitorais.

“Isso não tem nada a ver com as eleições na Colômbia nem com questões na Colômbia”, disse, além de reiterar que a causa de sua reclamação é a decisão do Congresso peruano de 12 de junho, que aprovou a criação do distrito de Santa Rosa, até então parte do município peruano de Yavarí, no departamento amazônico de Loreto.

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