Donald Trump: republicano anuncia tarifas de 30% sobre produtos europeus (Samuel Corum / Correspondente autônomo/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 13 de julho de 2025 às 08h55.
A decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de 30% sobre produtos europeus reacendeu tensões comerciais com a União Europeia e ameaça atingir setores centrais da economia do bloco. A medida, anunciada neste sábado, 12, pelo presidente Donald Trump, começa a valer em 1º de agosto e afeta desde automóveis até artigos de luxo.
Segundo a Comissão Europeia, o intercâmbio bilateral de bens e serviços somou 1,68 trilhão de euros em 2024 — cerca de R$ 10,8 trilhões, considerando a cotação de dezembro. A relação responde por cerca de 30% do comércio global.
Medicamentos — um dos principais produtos europeus exportados para os EUA — ficaram de fora das tarifas. Segundo o Eurostat, eles representaram 22,5% do total vendido pelo bloco aos americanos no último ano. A isenção, no entanto, não veio sem contrapartida: farmacêuticas ampliaram investimentos produtivos em território americano e pressionam a UE por um ambiente regulatório mais ágil.
Já os carros europeus estão no centro da disputa. As montadoras exportaram cerca de 750 mil veículos aos Estados Unidos em 2024, o equivalente a 38,5 bilhões de euros (R$ 247 bilhões). Modelos de alto padrão de marcas como Mercedes, Audi e BMW lideram os embarques, com destaque para os sedãs e SUVs fabricados na Alemanha.
A Mercedes, por exemplo, teve 23% do seu faturamento global vindo dos EUA em 2024. A companhia produz localmente parte dos SUVs, mas também os exporta a outros mercados — o que a torna vulnerável tanto à taxação americana quanto a possíveis retaliações europeias.
Aeronáutica e indústria de base já enfrentam impactos de tarifas anteriores. Desde março, as importações americanas de aço e alumínio da Europa pagam sobretaxa de 25%, afetando diretamente fabricantes de aeronaves e fornecedores da cadeia aeroespacial. A tarifa adicional de 10% sobre aviões também segue em vigor. Um acordo que poderia aliviar o setor estava em negociação, mas a nova ofensiva tarifária dos EUA emperrou as conversas.
O setor de luxo europeu também deve sentir o peso da medida. A LVMH, maior conglomerado do segmento, teve 25% de suas vendas vindas dos EUA em 2024. Nos ramos de vinhos e licores, a fatia sobe para 34%. O presidente do grupo, Bernard Arnault, chegou a defender uma zona de livre comércio entre Europa e Estados Unidos como saída diplomática.
A Hermès, que já havia reajustado preços em abril para absorver tarifas de 10%, avalia os efeitos da nova alíquota. Com 30% de imposto, a estratégia de repasse pode ser insuficiente.
Cosméticos e perfumes também estão na lista dos atingidos. A L’Oréal obteve 38% de sua receita nos EUA em 2024. Hoje, cerca da metade do que vende no país ainda é fabricado na Europa — especialmente marcas de luxo como Lancôme e Yves Saint Laurent. A empresa já avalia redirecionar parte da produção para os EUA para mitigar os impactos.
Na gastronomia, as reações foram imediatas. O sindicato italiano Coldiretti classificou a tarifa como “golpe mortal” para o selo Made in Italy. Segundo a entidade, produtos como queijos, vinhos, tomates processados, massas e geleias podem alcançar até 45% de taxação total com os novos encargos.
A França, maior exportadora de vinhos e destilados da Europa para os EUA, também se vê ameaçada. Em 2024, o país embarcou 3,8 bilhões de euros (R$ 24,4 bilhões) em bebidas ao mercado americano. “Seria uma catástrofe para todo o setor, que já vive dificuldades”, afirmou Jérôme Despey, representante do sindicato agrícola FNSEA. “As ameaças dos EUA são constantes. Pedimos firmeza à Comissão Europeia.”
*Com O Globo