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Dólar atinge novo recorde na Argentina, com pressões cambiais elevadas antes das eleições

Tensões cambiais e falta de definição sobre o sistema monetário causam incerteza no país

Milei: presidente da Argentina tenta combater a alta do dólar no país. (Marcelo Endelli / Correspondente autônomo/Getty Images)

Milei: presidente da Argentina tenta combater a alta do dólar no país. (Marcelo Endelli / Correspondente autônomo/Getty Images)

EFE
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Agência de Notícias

Publicado em 2 de setembro de 2025 às 09h00.

A cotação do dólar na Argentina atingiu nesta segunda-feira um novo recorde, apesar das ações do governo do presidente Javier Milei voltadas a tentar conter as pressões cambiais em meio à crescente incerteza econômica e política.

A moeda americana se valorizou 25 pesos para venda ao público no estatal Banco Nación, fechando no inédito preço de 1.385 pesos por unidade.

Com isso, a cotação acumula alta de 33,5% desde 14 de abril, após a Argentina conseguir um acordo milionário com o Fundo Monetário Internacional (FMI) com o qual flexibilizou as restrições ao acesso a divisas e implementou um novo esquema cambial.

O dólar tem se valorizado na Argentina devido a múltiplos fatores que estimulam a demanda por moedas estrangeiras, entre eles as dúvidas dos investidores sobre a política monetária e cambial do governo Milei, a capacidade do Tesouro de refinanciar os pesados vencimentos de títulos de dívidas e o andamento da atividade econômica, que parece esfriar.

A demanda por dólares para proteção também cresce à medida em que se aproximam as eleições legislativas na província de Buenos Aires, marcadas para o próximo domingo, e o pleito legislativo nacional, que será realizado em 26 de outubro.

Ambas as votações serão desafiadoras para o governo, com o eleitorado mostrando seu nível de adesão às políticas de Milei e determinando a composição no Parlamento, onde hoje a base governista é minoritária.

As tensões cambiais ocorrem especialmente desde julho, quando o governo decidiu desativar as Letras Fiscais de Liquidez (LEFI), que eram o instrumento usado pelo Banco Central para absorver a liquidez de pesos argentinos entre instituições bancárias e evitar as pressões sobre a taxa de câmbio.

A partir dessa decisão, o Tesouro tentou absorver a liquidez de pesos por meio da colocação de outros instrumentos de dívida entre os bancos, mas o conseguiu apenas parcialmente e validando taxas de juros cada vez maiores.

Como complemento a essas operações para absorver liquidez, o Banco Central também interveio no mercado de contratos de futuros de dólar e aumentou os depósitos compulsórios — a porcentagem de depósitos que as entidades financeiras devem manter paralisadas, sem destinar a outras operações financeiras.

Ainda assim, as pressões cambiais se mantêm ativas.

Segundo o ex-ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo, o "piora dos últimos meses não pode ser atribuída somente" ao "risco político", nem "aos ataques da oposição no Congresso", "mas também a imprevidências e improvisações da equipe econômica" de Milei.

"O problema fundamental é que não está definido qual é o sistema monetário, financeiro e cambial do país", afirmou nesta segunda-feira o economista liberal em seu site pessoal.

Nos últimos dias, consultores privados e analistas de mercado colocaram em dúvida que o esquema de intervenção cambial entre faixas, implementado em abril, se mantenha após as eleições de outubro.

Vencimentos de Dívida

Além de acompanhar com atenção a evolução do dólar, os investidores concentram expectativas nas próximas emissões de dívida do Tesouro no mercado doméstico, orientadas a renovar vencimentos de títulos e absorver liquidez monetária.

Segundo a consultoria LCG, em setembro o Tesouro enfrentará 25,4 trilhões de pesos (US$ 18,34 bilhões) em vencimentos, dos quais cerca de 17 trilhões de pesos (US$ 12,275 bilhões), a maioria nas mãos de órgãos públicos, tentará refinanciar na licitação convocada para o dia 10.

Caso o Tesouro não consiga um nível alto de refinanciamento dos pesados vencimentos, sofrerá ainda mais pressão, já que, segundo cálculos de consultores privados, restam apenas 12 trilhões de pesos depositados no Banco Central para enfrentar os vencimentos.

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