Formandos da turma de 2025 da Universidade Harvard durante cerimônia de graduação (Eva Claire HAMBACH / AFP)
Agência de notícias
Publicado em 29 de maio de 2025 às 13h27.
Última atualização em 29 de maio de 2025 às 13h35.
Uma juíza federal dos EUA manteve a suspensão, em caráter indefinido, de uma decisão adotada na semana passada para barrar o plano do governo de Donald Trump que impedia a Universidade Harvard de matricular estudantes estrangeiros, em meio a uma batalha legal e política entre a Casa Branca e a universidade. Antes da audiência, o Departamento de Justiça americano recuou da ofensiva, ee anunciou que dará à instituição 30 dias para que conteste suas alegações.
https://exame.com/mundo/as-vesperas-da-formatura-brasileiros-de-harvard-relatam-incerteza-e-caos-apos-medidas-de-trump/Em notificação enviada à juíza federal Allison Burroughs, que está à frente da ação movida pela universudade, o Departamento de Justiça afirma ter enviado a Harvard uma “Notificação de Intenção de Retirada” da instituição do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio, e que deu à 30 dias“ para que refutasse os alegados fundamentos” do governo federal.
O anúncio contradiz as declarações anteriores do governo Trump, que na semana passada anunciou que Harvard havia perdido a certificação para participar do programa, porta de entrada legal para a matrícula de estudantes estrangeiros. Na ocasisão, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, disse que o “governo está responsabilizando Harvard por fomentar a violência, o antissemitismo e a coordenação com o Partido Comunista Chinês em seu campus”, e que Harvard “teve muitas oportunidades de fazer a coisa certa”, mas que se recusou. Os argumentos também apareceram na nova argumentação do Departamento de Justiça, mas agora oferecendo um prazo para contestação.
Na abertura de audiência nesta quinta-feira sobre a suspensão, a magistrada não pareceu convencida pelos novos argumentos.
— Não sei se devo interpretar isso como um reconhecimento de que medidas processuais não foram tomadas — disse a juíza Burroughs, citada pela CNN. — Não vamos acabar aqui, essencialmente no mesmo lugar?
Ela disse que emitirá uma ordem para manter a suspensão, substituindo a decisão tomada em caráter emergencial na semana passada, e pediu que os dois lados — Harvard e Departamento de Justiça — elaborem um plano para impedir a revogação dos vistos estudantis, sem mudar regras atuais de concessão e manutenção dos documentos. O texto da ordem ainda não foi divulgado.
— Não precisa ser draconiano, mas quero garantir que seja redigido de forma que nada mude — declarou. — Quero manter o status quo.
Dentro da ofensiva do governo Trump contra as universidades nos EUA, Harvard, um dos principais centros de produção de conhecimento do planeta, é o principal foco de resistência, mesmo diante das ameaças de cortes bilionários de verbas federais. O republicano alega que a instituição não fez o suficiente para coibir atos de antissemitismo em seu campus, e que se recusou a entregar informações sobre seus alunos estrangeiros, assim como possíveis atividades consideradas “ilegais”.
A revogação de matrículas de estrangeiros, caso fosse levada à prática, seria um golpe “devastador”, como definiu a universidade em declarações na semana passada, uma vez que lhe privaria do dinheiro das anuidades — em torno de US$ 60 mil por ano — de cerca de 6,8 mil estudantes estrangeiros no atual ano letivo, ou 27% do corpo discente. A ordem do governo também punha em risco os atuais detentores de vistos.
Um dia depois da decisão de Trump, Harvard obteve da juíza Burroughs a suspensão temporária da ordem: “Com um golpe de caneta, o governo tentou apagar um quarto do corpo estudantil de Harvard, estudantes internacionais que contribuem significativamente para a universidade e sua missão”, alegou a universidade na ação, chamada de “frívola” pelo Departamento de Justiça. Na quarta-feira, Trump disse que deveria haver um limite para alunos estrangeiros em Harvard, com mais lugares destinados aos estudantes americanos.
O embate judicial ocorre em meio à cerimônia de formatura, que diante das atuais circunstâncias é marcada por uma forte carga política. Alunos e professores carregavam em suas becas adesivos em defesa da universidade e contra o governo Trump — alguns traziam nas mãos flores brancas, sinal de solidariedade com os estudantes estrangeiros.
Na abertura da cerimônia, o reitor Alan Garber foi recebido com uma calorosa salva de palmas dos presentes, um cenário bem distinto do ano anterior, quando a plateia se manifestava com vaias e gritos de protesto direcionados à atuação da universidade sobre os protestos contra a guerra em Gaza.
— Membros da Turma de 2025, da rua de baixo, de todo o país e do mundo todo, exatamente como deveria ser — disse Garber, sob aplausos, dizendo que todos devem estar prontos para “expandir nosso pensamento e mudar nossas mentes no processo”. — Minha esperança para vocês, membros da Turma de 2025, é que se sintam confortáveis em se sentirem desconfortáveis.
Em um discurso anterior, um dos formandos, Thor Reimann, afirmou aos colegas que eles deixam um “campus muito diferente daquele em que entramos, com Harvard no centro de uma batalha nacional pelo ensino superior nos Estados Unidos”.
— Vejam bem, nossa universidade é certamente imperfeita, mas tenho orgulho de estar ao lado de nossa turma de formandos, nosso corpo docente e nosso reitor — completou.
A muitos que ainda não se formaram, contudo, o clima parece pouco favorável diante das inconclusivas batalhas legais, e alguns traçam novos rumos para suas vidas acadêmicas. Em declarações à Justiça, a diretora para imigração de Harvard, Maureen Martin, disse que muitos alunos perguntaram sobre transferências, e que “muitos estudantes e acadêmicos internacionais estão relatando sofrimento emocional significativo que está afetando sua saúde mental e dificultando o foco nos estudos”.
Segundo Martin, consulados de vários países entraram em contato em busca de informações sobre a ordem de Trump, e ela aponta que muitos dos alunos que conseguirem uma transferência poderão enfrentar problemas com o calendário acadêmico e uma menor oferta de estudos específicos. Ela completa alertando para a possível fuga de talentos para outras nações: a Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, por exemplo, já oferece facilidades na admissão e apoio a alunos atuais e futuros de Harvard.