O ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em encontro em 2019 (Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 9 de julho de 2025 às 14h20.
A Embaixada dos Estados Unidos endossou em nota divulgada nesta quarta-feira a declaração em que o presidente do país, Donald Trump, criticou a atuação do Judiciário brasileiro em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com a representação diplomática, a "perseguição política" a Bolsonaro é "vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas brasileiras". O posicionamento anterior de Trump havia sido criticado por Lula.
"Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação", disse a Embaixada dos EUA em nota divulgada pela assessoria de imprensa.
Na segunda-feira, após o post de Trump em uma rede social, Lula criticou o presidente americano e disse em nota oficial: “A defesa da democracia no Brasil é uma responsabilidade dos brasileiros. Somos um país soberano e não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Temos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei — sobretudo aqueles que atentam contra a liberdade e o Estado de Direito.”
Em evento no Rio, Lula disse para Trump dar "palpite na sua vida":
— Não vou comentar essa coisa do Trump e do Bolsonaro. Tenho coisas mais importantes para comentar do que isso. Esse país tem leis, regras e um dono chamado povo brasileiro, portanto dê palpite na sua vida, e não na nossa — declarou.
Em uma publicação feita na rede Truth Social, Trump afirmou estar acompanhando o que chamou de "caça às bruxas" contra Bolsonaro. Segundo ele, o julgamento do ex-presidente brasileiro deveria ocorrer “nas urnas” e não na Justiça. Bolsonaro foi declarado inelegível em 2023 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e responde a processos no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado.
“Ele não tem culpa de nada, exceto de ter lutado pelo POVO. Conheci Jair Bolsonaro e ele era um líder forte, que realmente amava seu país — além de um negociador muito duro em questões comerciais. Sua eleição foi muito apertada e agora ele lidera nas pesquisas. Isso é apenas um ataque político, algo que eu conheço bem. Aconteceu comigo dez vezes”, escreveu Trump.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também de manifestou na ocasião, classificando as declarações de Trump como “equivocadas”.
Ela ressaltou que o ex-presidente americano deveria “cuidar dos problemas de seu próprio país” em vez de interferir na soberania brasileira. Além de Gleisi, outros governistas também saíram em defesa de Lula, como o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), e o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias.
Messias afirmou que a soberania brasileira não está em negociação. "Este governo não aceita tutela, nem admite pressões externas que tentem ditar os rumos do país, e muito menos tolerará pressões indevidas contra nossas instituições democráticas, notadamente da nossa Suprema Corte, que tão bem ter servido à defesa da democracia e do estado de direito em nosso país".
O deputado federal José Guimarães, líder do governo na Câmara, repetiu a mensagem postada por Lula, acrescentando que "somos um país soberano com nossas leis e nossas instituições, que exige respeito". Já o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) também reagiu à postagem de Trump, sugerindo que a resposta do republicano veio em retaliação a resoluções firmadas pelo Brics. "Fosse o Brics tão irrelevante" assim, estaria Trump borrando as calças e acusando recebimento do encontro do grupo com 10% de tarifas adicionais?", disse. O senador Randolfe Rodrigues (AP), líder do governo no Senado, por sua vez, se limitou a republicar o comentário feito pelo presidente petista no X.
Jair Bolsonaro também publicou agradecimento nas redes sociais ao americano, e declarou que o chefe de Estado americano era exemplo de "fé e resiliência".
A gestão Trump considera que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes impede a liberdade de expressão no Brasil. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, já declarou que Moraes deve sofrer sanções dos EUA. O ministro poderia, por exemplo, ser impedido de entrar em território americano.
Na segunda-feira, a rede social Rumble e a Trump Media, empresa de Trump, responsável pela rede social Truth Social solicitaram a citação de Moraes no processo apresentado contra ele, indicando um endereço do Brasil. O caso é acompanhado pela Advocacia-Geral da União (AGU), que afirmou em nota que está "está acompanhando o andamento do processo" a pedido do próprio STF e que está preparando "minutas de intervenção processual em nome da República Federativa do Brasil, caso seja decidido que a AGU atuará no caso".
A queixa contra Moraes foi apresentada em fevereiro pelas duas empresas, que alegam que o ministro pratica censura contra empresas americanas. Elas argumentam que as decisões do ministro excedem sua competência.
Ainda em fevereiro, a Justiça americana rejeitou um pedido de decisão liminar (provisória). A juíza Mary Scriven não analisou o mérito do pedido feito pelas empresas, mas disse em sua decisão que as decisões de Moraes não se aplicam à jurisdição dos Estados Unidos.