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Empresários viraram os embaixadores reais nas discussões entre Brasil e EUA, diz ex-diplomata

Kellie Meiman Hock, especialista em comércio exterior, deu declaração durante debate sobre as relações entre os dois países em Washington

Fachada da Casa Branca, em Washington, DC (Saul Loeb/AFP)

Fachada da Casa Branca, em Washington, DC (Saul Loeb/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 17 de setembro de 2025 às 14h52.

Última atualização em 17 de setembro de 2025 às 15h19.

Os empresários que possuem negócios no Brasil e nos Estados Unidos e estão tentando buscar saídas para o tarifaço junto ao governo de Donald Trump são "os verdadeiros embaixadores" hoje, disse Kellie Meiman Hock, consultora de comércio internacional e ex-diplomata dos Estados Unidos.

"O engajamento de governo para governo é desafiador. O engajamento que grupos de diálogo, com as empresas americanas que investem no Brasil e as empresas brasileiras, estão fazendo é superimportante. Todos vocês são nossos embaixadores. Nesta fase, vocês são realmente os embaixadores desta relação bilateral", disse Hock, durante o evento de lançamento do programa de Brasil do think tank Inter-American Dialogue, em Washington, nesta quarta-feira, 17.

Hock é conselheira-sênior do escritório McLarty Associates, especializado em comércio internacional e baseado na capital dos EUA. Antes, ela foi diplomata dos Estados Unidos por dez anos, quando trabalhou no Brasil e na Colômbia. Ela também atuou como diretora para Brasil e Cone Sul no Escritório do Representante de Comércio (USTR), ligado à Casa Branca.

Em seguida, Fabio Almeida, vice-presidente da Suzano, fabricante de papel e celulose, complementou com a fala de Hock.

"Tenho vindo aqui em Washington, DC, mais do que gostaria nos últimos meses, mas gostaria de dizer que temos um diálogo aberto com o governo americano, mesmo com os diálogos entre os governos", disse Almeida. "Temos algum progresso em relação às tarifas. Ficamos felizes com a forma como as coisas estão evoluindo", afirmou.

No mesmo painel, Shawn Sullivan, diretor de relações com o governo para a América Latina e o Caribe no banco Citi, disse que as tarifas de Trump não afetaram a previsão de crescimento do Brasil feita pelo banco, estimada para 2,2% em 2025.

"Como meu economista-chefe para a América Latina sempre diz, a incerteza é pior do que uma má decisão. Mas acho que chegaremos lá em breve, e acho que os governos descobrirão o que querem", afirmou Sullivan. "No futuro, os laços comerciais entre os EUA e o Brasil continuarão, não importa o que aconteça."

Tarifas em negociação

Em julho, o presidente Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% contra produtos brasileiros, que entrou em vigor em 6 de agosto. Ele disse que a medida era uma resposta às ações do Brasil contra Bolsonaro e a processos judiciais brasileiros contra empresas americanas, entre outras razões.

Na ordem executiva, Trump disse que poderia aumentar ou diminuir a tarifa contra o Brasil, de acordo com "informações adicionais, recomendações de funcionários de alto escalão ou mudança de circunstâncias".

Desde então, o governo brasileiro busca negociar com a gestão Trump, mas enfrenta dificuldades e não conseguiu estabelecer uma mesa de negociação. Ao mesmo tempo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem feito campanha contrária e buscado convencer autoridades do governo Trump a não negociar com o governo do Brasil.

Ao mesmo tempo, empresários brasileiros e americanos também buscaram conversar com membros do governo Trump para reduzir as tarifas ao país. Houve, inclusive, pedidos públicos feitos por entidades e empresários americanos pedindo a revogação da medida, pois taxar insumos aumenta custos e dificulta a produção de vários itens em fábricas dos EUA.

Ao aplicar a taxação ao Brasil, deixou cerca de 700 itens de fora da tarifa. Com isso, itens como aeronaves, petróleo e suco de laranja ficaram com a taxa-base de 10%.

A tarifa de 50%, no entanto, segue em vigor para os demais itens, e a ameaça de novas cobranças segue presente. Na segunda-feira, 15, o secretário de Estado, Marco Rubio, disse que os Estados Unidos deverão impor novas medidas contra o Brasil na próxima semana, como punição pela condenação deBolsonaro, punido pela Justiça brasileira por tentativa de golpe de Estado.

"Haverá uma resposta dos EUA a isso. Teremos alguns anúncios na próxima semana ou algo assim, sobre quais passos adicionais pretendemos tomar. O julgamento é apenas mais um capítulo de uma crescente campanha de opressão judicial que tem tentado alcançar empresas americanas, e até pessoas operando fora dos Estados Unidos", disse Rubio, em entrevista à Fox News, ao ser perguntado sobre o tema.

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