O vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente Lula, durante evento em Brasília, em 14 de julho (Evaristo Sá/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 16 de julho de 2025 às 06h01.
Última atualização em 16 de julho de 2025 às 09h21.
As negociações com os Estados Unidos para tentar impedir a aplicação da nova tarifa anunciada pelo presidente Donald Trump, que quer taxar produtos brasileiros em 50%, podem ir por vários caminhos. As opções incluem estender o tempo das conversas, buscar concessões pontuais dos americanos em alguns produtos e oferecer a eles acesso a novos produtos e mercados, avaliam especialistas em comércio exterior e entidades envolvidas nas negociações.
Na segunda-feira, 14, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) pediu ao governo brasileiro que negocie um adiamento mínimo de 90 dias na aplicação da nova taxa, prevista para vigorar a partir de 1º de agosto.
Para Christopher Garman, diretor da consultoria Eurasia para as Américas, o melhor cenário é aquele em que o Brasil siga negociando após o prazo, mesmo que as tarifas sejam implantadas.
"Chega o 1º de agosto. Você anuncia que vai começar um processo pelo qual pode retaliar, mas dá tempo para as negociações se desdobrarem. Do lado americano, provavelmente há alguns itens que, por razões de interesse próprio, eles podem querer isentar da tarifa de 50%", afirmou, durante um evento da Brazilian-American Chamber of Commerce, entidade baseada em Nova York que reúne empresas americanas com negócios no Brasil, nesta terça-feira, 15.
"Você poderia isentar petróleo, minerais críticos. Há alguns produtos dos quais os consumidores americanos dependem muito de produtos brasileiros: 30% do café [deles] vem do Brasil. E então você pode começar uma ofensiva para tentar tirar mais coisas dos 50%", disse Garman.
"Você dá um passo atrás e, se tiver uma versão das tarifas altas com exceções, a relação comercial bilateral não está totalmente partida", afirmou.
O diretor avalia que esta seria uma forma de evitar uma retaliação mais ampla, de item por item, e abrir espaço para tentar trazer a tarifa para a faixa de 20%, que poderia ser absorvida pelas empresas e clientes de alguma forma.
"Quando temos a tarifa de 10%, que o Brasil ainda tem, ou a de 25% para alguns produtos, sentimos os efeitos, mas as empresas são capazes de negociar um pouco os preços e manter algum mercado nos EUA, especialmente nos produtos que são muito competitivos", disse Fabrizio Panzini, diretor de Políticas Públicas da Amcham (Câmara de Comércio Brasil-EUA), que participa das negociações entre o Brasil e EUA. "Quando isso vai a 50%, impõe um obstáculo quase impossível de superar."
Em um exemplo desta possibilidade, como mostrou a EXAME, representantes dos plantadores de café do Brasil negociam com autoridades americanas a classificação do grão como item estratégico e um produto natural não disponível nos Estados Unidos. Dessa forma, o item ficaria de fora da lista de tarifas de Trump.
Panzini, da Amcham, defende ainda que uma retaliação por parte do Brasil seria 'o pior cenário' e sugere que o país amplie negociações em outros temas, para ir além das tarifas.
"Temos de olhar para a agenda mais ampla, como energia, descarbonização de óleo e gás, defesa e minerais críticos. O Brasil tem a segunda ou terceira maior reserva no mundo de terras raras e precisamos de cooperação internacional para refinar e processar minerais críticos", disse.
Brian Janovitz, advogado e sócio do escritório americano DLA Piper e ex-diretor de Economia Internacional no Conselho de Segurança Nacional, da Casa Branca, avalia que o Brasil pode avançar também nas negociações envolvendo empresas de tecnologia.
"A carta [de Trump] menciona a Seção 301 e investigações relacionadas a preocupações em comércio digital. Essas preocupações são muito reais. Elas têm sido discutidas nos últimos anos entre os governos. É outra área em que o governo brasileiro pode se engajar e tentar fazer progressos e onde há negociações reais", afirma.
Janovitz sugere ainda que o Brasil pode baixar tarifas sobre o etanol americano, uma demanda americana antiga. Em fevereiro deste ano, Trump citou a questão em um comunicado sobre tarifas, mas não anunciou mais medidas sobre o tema desde então.