Medida pode impactar seriamente os esforços da China para desenvolver uma indústria doméstica de fabricação de aviões (Alejandro Pirez/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 29 de maio de 2025 às 13h00.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, proibiu a exportação de peças e tecnologias essenciais de motores a jato dos EUA para a China, segundo o New York Times. A medida pode impactar seriamente os esforços da China para desenvolver uma indústria doméstica de fabricação de aviões.
De acordo com o Financial Times, fontes com conhecimento da medida disseram que o Departamento de Comércio dos EUA instruiu empresas de automação de design eletrônico — conhecidas como EDA — como Cadence, Synopsys e Siemens EDA a interromper o fornecimento de suas tecnologias para a China.
O órgão teria suspendido licenças que permitiam que as empresas americanas vendessem para a estatal Commercial Aircraft Corp of China (Comac). A Comac, como é conhecida a fabricante de aeronaves, depende de motores fabricados pela GE Aerospace para seus aviões C919.
O Bureau of Industry and Security (BIS), braço do Departamento de Comércio dos EUA responsável pelo controle de exportações, teria enviado cartas às empresas comunicando a diretriz, segundo as fontes. Mas não ficou claro se todas as empresas norte-americanas de EDA teriam recebido a notificação.
Em teleconferência sobre resultados do segundo trimestre, o CEO da americana Synopsys, Sassine Ghazi, disse estar ciente das notícias e especulações, mas informou que a empresa não recebeu nenhuma notificação do BIS.
O mais recente ataque de Washington representa mais um desafio para a China em meio a uma guerra comercial mais ampla. Em abril, Washington já havia restringido a exportação de chips de IA desenvolvidos especificamente para a China pela Nvidia. Em retaliação, o governo chinês já havia pausado temporariamente as entregas da Boeing, mas depois revogou a medida após os dois países concordarem com uma trégua tarifária por 90 dias.
"O Departamento de Comércio está revisando exportações de importância estratégica para a China", disse um porta-voz do órgão à Bloomberg News em resposta a uma pergunta sobre controles de semicondutores. "Em alguns casos, o Departamento suspendeu licenças de exportação existentes ou impôs exigências adicionais de licença enquanto a revisão está em andamento."
O Financial Times informou em abril que o governo Trump pretendia incluir diversos fabricantes chineses de chips em uma lista negra, o que tornaria difícil para empresas dos EUA fornecerem tecnologia americana a essas companhias. No entanto, alguns oficiais pressionaram por um adiamento para não comprometer as negociações comerciais entre os países.
Christopher Johnson, ex-analista da CIA especializado em China, afirmou que os novos controles de exportação destacam uma fragilidade na trégua tarifária firmada pelos dois países em Genebra.
"Com ambos os lados querendo manter e demonstrar o poder de seus respectivos instrumentos de pressão, o risco de a trégua ruir antes dos 90 dias é constante", disse ele.
No mês passado, a Bloomberg informou que a Comac havia estocado motores suficientes para construir dezenas de aviões este ano, possivelmente evitando uma escassez de suprimentos no curto prazo. A GE Aerospace fabrica os motores LEAP, da marca CFM International, para o C919 em uma joint venture com a francesa Safran.
A GE Aerospace não respondeu aos pedidos de comentário. A Comac também não pôde ser contatada de imediato.
Embora represente uma fatia pequena do total da indústria de semicondutores, o software EDA permite que fabricantes desenvolvam e testem a próxima geração de chips, sendo, portanto, uma peça essencial na cadeia de suprimentos.
Como informou o Financial Times, as empresas americanas Synopsys, Cadence e Siemens EDA respondem por cerca de 80% do mercado de EDA na China. No ano fiscal de 2024, a Synopsys reportou quase US$ 1 bilhão em vendas para a China, aproximadamente 16% de sua receita. A Cadence informou que a China respondeu por US$ 550 milhões, ou 12% de sua receita.