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Fundo florestal, COP30 e reunião sobre Palestina: a agenda de Lula na Assembleia Geral da ONU

Brasileiro chega aos EUA em meio a crise bilateral e busca reforçar liderança a menos de 50 dias da conferência climática de Belém

Presidente Lula desembarca em NY para 80º Assembleia Geral da ONU, com missão que mistura consolidação da COP30 e navegação em crise geopolítica. (Michael M. Santiago/AFP)

Presidente Lula desembarca em NY para 80º Assembleia Geral da ONU, com missão que mistura consolidação da COP30 e navegação em crise geopolítica. (Michael M. Santiago/AFP)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 21 de setembro de 2025 às 18h38.

Última atualização em 21 de setembro de 2025 às 18h48.

* Nova York

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou neste domingo, 21, às 17h50 (horário local), no aeroporto JFK, em Nova York, para uma das mais estratégicas participações brasileiras na Assembleia Geral da ONU.

Durante a viagem, que se estende até quarta-feira, 24, o brasileiro deve concentrar esforços diplomáticos em duas frentes cruciais: a consolidação do papel brasileiro como anfitrião da COP30 e como navegar pela crescente instabilidade geopolítica global.

Diferente de outras edições, a 80ª Assembleia Geral acontece sob tensões inéditas nas relações Brasil-EUA, após o governo Trump impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros em represália à condenação de Jair Bolsonaro pelo STF.

A agenda de Lula, no entanto, parece priorizar as articulações multilaterais que podem definir o sucesso da conferência climática amazônica.

Os compromissos oficiais iniciam na segunda-feira, 22, com a participação brasileira na Confederação Internacional de Alto Nível para Resolução Pacífica da Questão Palestina e Implementação da Solução de Dois Estados, organizada por França e Arábia Saudita.

O evento ocorre após Reino Unido, Canadá e Austrália anunciarem, também neste domingo, o reconhecimento oficial do Estado palestino.

A legitimação do estado palestino é apoiada, atualmente, por 147 nações. O Brasil já reconhece oficialmente a Palestina como país desde 2010.

O timing da reunião formal na segunda-feira reflete a crescente pressão internacional por uma solução de dois Estados, especialmente após quase dois anos de guerra em Gaza.

Para o Brasil, o evento representa oportunidade de reafirmar tradicionais posições de política externa, mesmo em momento de estremecimento com Washington.

Adicionalmente, a ausência confirmada de autoridades americanas de alto escalão na sessão palestina sinaliza o isolamento diplomático que caracteriza a atual gestão Trump em temas multilaterais, criando espaço para lideranças alternativas como a brasileira.

COP30: articulações de última hora

Na terça-feira, 23, o presidente brasileiro é o primeiro chefe de estado a discursar na abertura da Assembleia Geral; seguido, historicamente, pelo representante dos Estados Unidos.

Embora não haja confirmação da presença de Donald Trump, fontes diplomáticas descartam qualquer encontro bilateral ou até mesmo encontro entre uma fala e outra, mesmo que ambos discursem no mesmo dia.

O discurso brasileiro deve abordar temas como a defesa da democracia, combate à fome e fortalecimento dos mecanismos multilaterais. É provável também que  Lula utilize a tribuna para reafirmar a soberania brasileira e rejeitar interferências externas em assuntos domésticos.

Na tarde da terça-feira, o governo brasileiro anuncia oficialmente a formalização do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), um mecanismo financeiro inovador que promete mobilizar US$ 125 bilhões para distribuir US$ 4 bilhões anuais a países com florestas tropicais.

O fundo operará como mecanismo perpétuo que remunerará diretamente a conservação florestal, contando com a participação de representantes de múltiplos países, incluindo delegações europeias, asiáticas e de pequenos Estados insulares.

Outro momento decisivo na pauta de clima ocorre na quarta-feira, 24, quando Lula divide com o secretário-geral António Guterres a copresidência da Cúpula de Alto Nível sobre Mudança Climática. A reunião contará com representantes de 109 países, incluindo 50 chefes de Estado e governo.

A articulação deste encontro se deu pelo cenário preocupante de entrega de metas climáticas globais. O objetivo central da cúpula é acelerar entregas das NDCs atrasadas e criar pressão política para compromissos mais ambiciosos antes da COP30.

Apenas 37 dos 197 países signatários da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) entregaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para 2035, com prazo original vencido em fevereiro e prorrogado até esta semana.

A União Europeia, por exemplo, admitiu na última sexta-feira, 18, que deve chegar a Nova York apenas com uma "carta de intenções", após França e Alemanha se juntarem a Polônia e Itália para formar a minoria bloqueadora que adiou decisões climáticas para outubro.

A aposta da diplomacia brasileira é que grandes potências como China, confirmada no encontro, tragam o dever de casa feito e estimulem outras nações com o exemplo.

A ausência americana na primeira rodada de negociações climáticas pré COP na última semana e o adiamento europeu de decisões ambientais ilustram dificuldades estruturais que podem comprometer não apenas a COP30, mas o próprio sistema de governança climática global.

Para o Brasil, o momento representa tanto oportunidade quanto responsabilidade histórica. Como anfitrião da primeira COP na Amazônia, o país precisa comprovar a capacidade de produzir resultados concretos que reverberem internacionalmente.

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