Mundo

G7 sem Trump: como a saída antecipada afetou a cúpula e as negociações

Com a saída antecipada de Trump, cúpula do G7 termina sem acordos concretos com Japão, União Europeia e Brasil

Cúpula do G7: líderes se encontraram no Canadá para abrir discussões sobre conflitos no Oriente Médio, IA e mudanças climáticas  (Governo do Canadá/Divulgação)

Cúpula do G7: líderes se encontraram no Canadá para abrir discussões sobre conflitos no Oriente Médio, IA e mudanças climáticas (Governo do Canadá/Divulgação)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 18 de junho de 2025 às 06h20.

O encontro do Grupo dos Sete (G7), que aconteceu nesta semana, no Canadá, era visto pelos países como uma forma de tentar negociar com proximidade com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre assuntos geopolíticos — como a escalada do conflito entre Irã e Israel — e tratar sobre as tarifas do republicano às exportações externas. O limite imposto pelo presidente dos EUA deve terminar no dia 9 de julho. 

Mas a saída antecipada de Trump para, segundo o próprio, resolver questões sobre a guerra no Oriente Médio, deixou líderes da França, Itália, Japão, Canadá, Alemanha e Reino Unido com algumas questões pendentes.

 A ausência de um comunicado conjunto e as divergências sobre temas como Oriente Médio e sanções à Rússia expuseram a fragilidade do fórum, que, historicamente, buscava unir as principais potências ocidentais diante de desafios globais, segundo a Bloomberg.

Encontro informal entre europeus marca início da cúpula

Antes da chegada de Trump, líderes europeus aproveitaram a noite de domingo para uma conversa informal no bar do hotel onde estavam hospedados.

O encontro começou de forma casual entre o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o chanceler alemão Friedrich Merz, e logo contou com a presença do canadense Mark Carney, da italiana Giorgia Meloni e do francês Emmanuel Macron. Em clima descontraído, discutiram temas delicados, como a escalada de tensões entre Israel e Irã.

Para Carney, anfitrião da cúpula, o objetivo era manter a relevância do G7, mas a ausência de consenso e a postura unilateral de Trump deixaram claro o quanto o grupo se tornou fragmentado. "A capacidade do G7 de se unir foi bastante comprometida", avaliou Matthew Goodman, ex-assessor de Barack Obama para o fórum.

Propostas controversas e saída antecipada

Ao chegar ao encontro, Trump propôs incluir países não democráticos como Rússia e China no grupo, e surpreendeu a todos ao anunciar, horas depois, sua volta antecipada a Washington. Ele alegou questões urgentes no Oriente Médio, mas se irritou ao saber que Macron havia sugerido à imprensa que sua partida estava relacionada à mediação de um cessar-fogo. No Truth Social, chamou o francês de "vaidoso em busca de atenção" e disse que Macron estava “errado” sobre seus motivos.

A provocação simbólica do presidente francês já havia começado antes da cúpula, quando fez uma parada estratégica na Groenlândia - território europeu localizado no Ártico -, destacando de forma indireta a presença geopolítica da Europa em regiões onde os EUA costumam exercer influência.

Em meio às tensões, Trump chegou a afirmar que os EUA controlam “completamente os céus do Irã” e classificou o aiatolá Ali Khamenei como um “alvo fácil”, embora "por enquanto seguro".

Divergências sobre guerra no Oriente Médio e sanções

As diferenças entre Trump e os demais líderes se intensificaram nas negociações sobre o conflito entre Israel e Irã. A declaração final do G7 não chegou a pedir um cessar-fogo, como queria a maioria, por conta da oposição dos EUA. Segundo um assessor americano, o rascunho anterior que pedia “moderação de ambos os lados” era inaceitável para Trump, segundo apuração da Bloomberg.

Durante um jantar com iguarias como caviar e wagyu, os europeus também falharam em convencer o presidente a endurecer as sanções contra a Rússia. Para Trump, as medidas custariam "muito dinheiro" aos EUA.

Avanços limitados em comércio e cooperação

Apesar dos breves desentendimentos e da saída antecipada, Trump fechou com Carney um acordo para buscar um pacto comercial em até 30 dias. O primeiro-ministro britânico relatou ter tido um jantar amigável com o presidente e disse acreditar que ele queria evitar a guerra - contrariando os ataques verbais de Trump pouco tempo depois.

O Japão saiu de mãos vazias, assim como a União Europeia, com a resposta do republicado de que suas ofertas não eram “justas”. A saída antecipada impediu que o presidente americano se reunisse com líderes convidados como o presidente do Brasil, Lula, que chegou a desembarcar no Canadá para o encontro, além de Claudia Sheinbaum, do México, e Narendra Modi, da Índia.

Segurança reforçada contra... ursos?

O cenário da cúpula também chamou atenção pela segurança incomum. Para proteger os líderes, os organizadores canadenses instalaram cercas de mais de dois metros de altura ao redor do resort em Kananaskis, não apenas contra ameaças humanas, mas também para manter afastados os ursos-pardos que habitam a região montanhosa de Alberta.

De acordo a Bloomblerg, os esforços não conseguiram conter o principal foco de instabilidade do evento: a imprevisibilidade de Trump.

G7 sem os EUA

Diante do vácuo deixado por Trump, os demais países do G7 seguiram com os trabalhos e publicaram declarações sobre inteligência artificial, imigração, mudanças climáticas e minerais estratégicos.

Para o ex-representante dos EUA no FMI Doug Rediker, o cenário deu aos líderes uma prévia de como será trabalhar em conjunto sem a liderança americana: “Eles vão precisar encontrar uma nova forma de operar.”

Acompanhe tudo sobre:G7 – Grupo dos SeteDonald TrumpEstados Unidos (EUA)BrasilFrançaAlemanhaReino UnidoJapãoCanadáItália

Mais de Mundo

EUA retoma vistos para estudantes estrangeiros, mas exigem acesso a contas de redes sociais

MOP GBU-57 A/B: a bomba 'destruidora de bunkers' que só os EUA têm e que pode aniquilar o Irã

Gaza prevê 'catástrofe humanitária' por escassez de leite para prematuros e recém-nascidos

Itamaraty pede que brasileiros não viajem a sete países do Oriente Médio