Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, gesticula durante discurso em 14 de novembro (Federico Parra/AFP)
Repórter
Publicado em 19 de novembro de 2025 às 14h43.
Última atualização em 19 de novembro de 2025 às 14h50.
Com uma flotilha armada conduzindo operações e ataques contra embarcações no Caribe, a concentração de poderio militar americano nos mares da Venezuela, sob a justificativa de combate ao narcotráfico, põe pressão sobre o presidente venezuelano Nicolás Maduro.
Maduro, que vê a presença americana na região como uma tentativa de tirá-lo do poder e de obter acesso às reservas petrolíferas venezuelanas, avalia opções para sair desta crise.
Seu governo anunciou em rede nacional dois planos: a guerrilha, tática que o governo denominou de “resistência prolongada” e a anarquia.
Maduro advertiu na semana passada que sua estrutura tem "força e poder" para responder aos Estados Unidos, incluindo civis. "Se o imperialismo chegasse a dar um golpe de mão e causar danos, desde o momento em que fosse decretada a ordem de operações, (teríamos) mobilização e combate de todo o povo da Venezuela", disse.
Ministro de Defesa venezuelano Vladimir Padrino López (Centro) acompanha soldados em treinamento no dia 11 de novembro, perante pressão americana (Ministério de Defesa da Venezuela/Divulgação/AFP Photo)
A principal opção de resistência disponível para o líder venezuelano é a de guerrilha – uma estratégia de combate muito usada por forças menores para se defender de um agressor mais numeroso e mais avançado tecnologicamente.
Fontes anônimas dizem à Reuters que a resistência envolveria a separação do exército em pequenas unidades militares que operariam em mais de 280 locais, conduzindo sabotagem e outras táticas, como armadilhas e emboscadas.
A segunda estratégia, chamada de “anarquização”, visa usar serviços de inteligência e apoiadores armados de Maduro para gerar caos e desordem generalizados nas ruas de Caracas, a fim de tornar a cidade ingovernável para forças americanas, disse uma fonte anônima.
Todavia, o estado das forças armadas da Venezuela, e de seu equipamento, é preocupante: seis fontes anônimas também disseram à agência que as forças armadas do país estão debilitadas devido a uma falta de treinamento, pagamento baixo e equipamento deteriorado.
Duas fontes também reportaram que alguns comandantes de certas unidades foram forçados a negociar com produtores de alimentos locais para alimentar suas tropas, devido a poucos suprimentos do governo.
Soldados comuns no país ganham US$ 100 por mês na moeda local, sendo que uma cesta básica tende a custar US$ 500, de acordo com dados do Centro de Documentação e Análise Social da Federação de Professores Venezuelanos. Além disso, a única experiência do Exército recentemente foi controlar protestos e lidar com manifestantes. Essas condições podem levar a deserções no caso de um conflito, alertou uma das fontes.
"Não duraríamos duas horas em uma guerra convencional", disse uma fonte próxima ao governo.
"Não estamos preparados para enfrentar um dos exércitos mais poderosos e bem treinados do mundo", disse outra fonte anônima à Reuters, contrastando com a frente confiante de Maduro.
Uma terceira opção para Maduro seria a negociação para acatar aos interesses americanos. Segundo uma análise do The New York Times, publicada nessa terça-feira, e coberta pelo jornal venezuelano El Nacional, uma proposta de renúncia por parte de Maduro teria sido recusada pela Casa Branca. Fontes anônimas reportam ao veículo que a oferta envolvia um período de transição de dois a três anos, durante o qual Maduro planejava renunciar de seu governo de maneira ordenada e garantir que os Estados Unidos não busquem mais ação contra sua pessoa.
A proposta, todavia, foi recusada pois a Casa Branca julgaria inaceitável que sua estadia no poder seja estendida. Maduro ainda assim se mostra aberto ao diálogo, que percebe cada vez mais como opção preferível a um possível confronto armado ou ao prolongamento de períodos de incerteza.
"Em algum momento, falarei com ele", disse Trump, por sua vez, aos jornalistas nesta segunda-feira. Maduro "não tem sido bom para os Estados Unidos", acrescentou.
Quando questionado se descartava o envio de tropas americanas à Venezuela, Trump respondeu: "Não, não descarto. Não descarto nada."
Ao mesmo tempo, o governo venezuelano tem feito acenos à paz. Maduro cantou “Imagine”, de John Lennon, em rede nacional. Além disso, se diz estar aberto a conversas com Trump, e chegou a oferecer um plano para sua eventual saída do poder que duraria dois anos.
Este país está em paz, este país vai continuar em paz. E, nos Estados Unidos, qualquer pessoa que queira conversar com a Venezuela conversará, 'face to face', cara a cara, sem qualquer problema", disse o mandatário durante o seu programa semanal de televisão.
"Eu já disse isto em inglês, e repito sempre. Diálogo. Como se diz diálogo em inglês? Yes, peace, war no, never, never war [Sim, paz, não à guerra, nunca, guerra nunca]", disse Maduro.
Enquanto isso, os aliados da Venezuela não defendem o regime de forma explícita, mas dificultam a remoção de Maduro do poder.
A Venezuela tem bons laços com inimigos ideológicos dos EUA, como Cuba, China, Irã e Rússia. A maior parte de seu armamento e de equipamento militar como veículos, radares e sistemas é importada desses países.
Todavia, nenhum desses aliados teria a vontade ou habilidade política de intervir no conflito de uma maneira drástica capaz de nivelar os prospectos para a Venezuela, disse o jornal americano The New York Times, citando analistas políticos e fontes anônimas próximas do governo da Venezuela, já que essas alianças são muito mais focadas em interesses econômicos e não ideológicos.
A incerteza das alianças se deve, segundo apuração do jornal, devido à queda do valor estratégico da Venezuela como aliada. Suas crises econômicas e reservas vazias tornam o país um mal comprador de produtos e serviços. Além disso, a instabilidade geopolítica trouxe guerras a Havana, Moscou e Teerã, capitais de Cuba, Rússia e Irã, respectivamente, o que impede ainda mais sua habilidade de apoiar o país.
Mesmo assim, os aliados ainda são valiosos: a Rússia continua conduzindo visitas semirregulares ao país com um avião de carga, que especialistas especulam ser para a manutenção do equipamento russo na região, como caças Sukhoi e sistemas de defesa aérea S-300.
A China continua sendo o maior comprador de petróleo da Venezuela, circunvindo potenciais sanções americanas; e a Cuba, apesar de estar passando por uma crise econômica, continua fornecendo homens, inteligência e contrainteligência à Venezuela. Uma fonte anônima próxima a administração de Maduro diz que o governo considera os homens cubanos sob seu serviço como “experientes e incorruptíveis”.
Maria Corina Machado, líder da oposição (Pedro Mattey/AFP)
María Corina Machado, a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz deste ano, e principal líder da oposição, apresentou, na terça-feira, 18, sua visão da Venezuela após a possível queda do presidente Nicolás Maduro, em luz da pressão militar americana na região.
"Estamos no limiar de uma nova era", disse Machado em um vídeo postado nas redes sociais. "O longo e violento abuso de poder deste regime está chegando ao fim".
Machado afirma que Maduro fraudou a eleição de julho de 2024, que lhe garantiu um terceiro mandato de seis anos. A posição é corroborada por muitos outros países, incluindo os Estados Unidos, que também não reconheceram o resultado.
Ela falou em "criar as condições para que floresça uma economia livre e competitiva" e que a Venezuela se torne um "pilar de segurança democrática" e "enérgica".
Ela prometeu defender o voto "com segurança e sem qualquer manipulação" e a liberdade de expressão e reunião.
Machado, que no passado ofereceu garantias ao chavismo para que deixasse o poder, disse que "o regime criminoso deve prestar contas".
"Desde que Maduro assumiu o poder [em 2013], já são mais de 18 mil presos políticos que sofreram injustamente. Cada um deles é um testemunho da brutalidade do regime", afirmou. "A Venezuela só se levantará plenamente quando aqueles que cometeram crimes contra a humanidade forem julgados pela lei e pela história".
A opositora concorda com denúncias de Washington de que Maduro lidera um cartel das drogas.
Com informações da AFP