Agência de notícias
Publicado em 17 de outubro de 2025 às 09h59.
O movimento islamista palestino Hamas assumiu, nesta sexta-feira, 17, o compromisso de devolver a Israel os cadáveres de todos os reféns que permanecem na Faixa de Gaza, como determina o acordo de cessar-fogo promovido pelos Estados Unidos.
Acusado por Israel de violar os termos da trégua implementada em 10 de outubro, o Hamas pediu mais tempo diante das dificuldades de encontrar e retirar os corpos dos escombros do território palestino, destruído por dois anos de guerra.
"O processo de restituição dos corpos dos prisioneiros israelenses pode levar algum tempo", anunciou no Telegram o grupo que governa Gaza desde 2007.
O movimento islamista aproveitou o fim dos combates para tentar retomar o controle do território e, na terça-feira, anunciou as execuções de vários homens que apresentou como "colaboradores" de Israel.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou o grupo na quinta-feira. "Se o Hamas continuar matando gente em Gaza, o que não estava previsto no acordo (para um cessar-fogo com Israel), não teremos outra opção senão ir e matá-los", escreveu na rede Truth Social.
O acordo de cessar-fogo promovido pelo presidente republicano estabelecia que o retorno dos reféns vivos e mortos deveria acontecer até 12h00 (6h00 de Brasília) de segunda-feira, 72 horas após o início do cessar-fogo.
O movimento islamista libertou a tempo os últimos 20 reféns vivos, mas entregou apenas os corpos de nove falecidos, dos 28 que se comprometeu a devolver a Israel.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou na quinta-feira que está "determinado" a recuperar todos os cadáveres. Um dia antes, o ministro da Defesa, Israel Katz, ameaçou retomar os combates em Gaza.
Trump pediu paciência: "É um processo macabro (...) mas estão cavando, cavando de verdade" e "encontram muitos corpos", afirmou na quarta-feira.
Em seu comunicado, o Hamas reiterou o "compromisso" com o cessar-fogo e a devolução dos cadáveres, mas afirmou que recuperar os corpos restantes exige equipamentos especiais.
A Turquia enviou uma equipe de especialistas em busca de cadáveres em zonas de desastre para ajudar a localizar os reféns, mas eles permanecem na fronteira egípcia aguardando a autorização israelense para entrar em Gaza, informou à AFP uma fonte turca.
A equipe de 81 integrantes possui ferramentas especializadas e cães treinados para procurar corpos.
Uma fonte do Hamas disse à AFP esperar que a equipe turca entre em Gaza no domingo, quando está prevista a abertura da passagem de fronteira.
Em troca do retorno dos restos mortais dos reféns, Israel devolveu os corpos de 120 palestinos, 30 deles para Gaza, informou o Ministério da Saúde do território palestino.
A principal associação de parentes dos sequestrados pediu na quinta-feira ao governo israelense que "interrompa imediatamente a implementação de qualquer etapa adicional do acordo" até que todos os corpos dos reféns sejam devolvidos.
O acordo de trégua prevê o acesso de ajuda pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, algo que a ONU e outras organizações humanitárias pedem com insistência.
Os acessos a Gaza, todos controlados por Israel, continuam muito restritos.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, mencionou uma possível reabertura no domingo.
A ONU declarou no final de agosto um cenário de fome em vários pontos de Gaza, uma avaliação que Israel rejeita.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU afirmou nesta sexta-feira que "levará tempo" para remediar a situação de fome no território palestino.
"Atualmente dispomos de cinco pontos de distribuição operacionais, mais próximos da população (...) nosso objetivo é implementar 145, para inundar Gaza de comida", disse a porta-voz do PMA, Abeer Etefa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também alertou que as epidemias no território estão "fora de controle" porque o sistema de saúde "foi desmantelado".
Na primeira fase, o plano de Trump prevê o cessar-fogo, a troca de reféns por prisioneiros palestinos, uma retirada israelense de vários setores e a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
As etapas posteriores devem incluir um desarmamento do Hamas, a anistia ou desarmamento de seus membros e a retirada completa de Israel, mas os pontos ainda estão em negociações.
A guerra começou com o ataque do Hamas contra o sul de Israel em 7 de outubro de 2023. O ataque matou 1.221 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço estabelecido pela AFP com base em dados oficiais.
A ofensiva de represália israelense deixou mais de 67.900 mortos em Gaza, também em sua maioria civis, segundo os números do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.