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Itamaraty adverte chefe da embaixada dos EUA sobre intromissão 'indevida e inaceitável'

Conversa com encarregado de negócios americano durou cerca de 40 minutos

Palácio do Itamaraty na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Palácio do Itamaraty na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 9 de julho de 2025 às 17h21.

Após ser convocado pelo Itamaraty, o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, foi advertido na tarde desta quarta-feira pela secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, Maria Luísa Escorel.

A diplomacia brasileira disse ao representante americano que a nota da embaixada sobre uma suposta "perseguição política" a Jair Bolsonaro foi uma "intromissão indevida e inaceitável" em assuntos brasileiros.

Escobar foi convocado para dar explicações sobre o texto, que endossou as declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, em defesa de Bolsonaro.

A conversa durou cerca de 40 minutos. Segundo um interlocutor a par do encontro, Escorel advertiu que o episódio trará consequências negativas para a relação bilateral.

A diplomata afirmou ainda que a Embaixada dos EUA tem informações suficientes sobre o que aconteceu o Brasil ao longo dos últimos anos, assim como a natureza do processo de uma tentativa de um golpe.

Escorel disse que o governo brasileiro foi surpreendido com a nota. Argumentou que os Estados Unidos são um país "democrático e amigo" e que uma democracia tradicional como a americana não deveria se intrometer uma questão interna, envolvendo o Judiciário.

Queixas dos EUA

No texto, a representação americana afirma que Bolsonaro, seus familiares e apoiadores estão sendo perseguidos de forma vergonhosa e antidemocrática.

"Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação", disse a Embaixada dos EUA em nota divulgada pela assessoria de imprensa.

A gestão Trump considera que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Morais trabalha contra a liberdade de expressão no Brasil.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, já declarou que Morais deve sofrer sanções dos EUA. O ministro poderia, por exemplo, ser o pedido de entrar em território americano.

Trump defendeu Bolsonaro nas redes sociais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu, dizendo que o Brasil e o povo brasileiro são soberanos.

Na segunda-feira, após o post de Trump em uma rede social, Lula criticou o presidente americano e disse em nota oficial: “A defesa da democracia no Brasil é uma responsabilidade dos brasileiros. Somos um país soberano e não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Temos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei — sobretudo aqueles que atentam contra a liberdade e o Estado de Direito”.

A convocação de representante da embaixada, na linguagem diplomática, é uma demonstração de contrariedade. O teor da nota irritou as autoridades brasileiras.

O mesmo ocorre quando o país de origem chama de volta seu embaixador. Não há informação se a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, virá para Brasília.

Em nota, a embaixada confirmou que Escobar esteve no Itamaraty. Porém, o posto informou que não divulga conteúdo de reuniões privadas.

A Embaixada dos EUA no Brasil está sem titular desde janeiro deste ano, quando o Trump tomou posse. O posto era comandado pela democrata Elizabeth Bagley.

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