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Jeannette Jara vence primárias e será a candidata presidencial da coalizão governista no Chile

É a primeira vez que uma aliança política lança um integrante do Partido Comunista como candidato

A candidata presidencial chilena Jeannette Jara, do Partido Comunista, acena para seus apoiadores após votar nas primárias da esquerda ( Rodrigo ARANGUA / AFP)

A candidata presidencial chilena Jeannette Jara, do Partido Comunista, acena para seus apoiadores após votar nas primárias da esquerda ( Rodrigo ARANGUA / AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 30 de junho de 2025 às 11h07.

A comunista Jeannette Jara, ex-ministra do Trabalho do governo de Gabriel Boric, venceu no domingo, 29, as primárias da coalizão governista chilena, tornando-se candidata às eleições gerais de novembro próximo.

Com 99% dos votos apurados, Jara obteve 60% dos sufrágios, segundo dados oficiais do Serviço Eleitoral (Servel).

Em segundo lugar ficou a ex-ministra e representante de centro-esquerda Carolina Tohá, com 28% dos votos.

Mais atrás vieram os deputados Gonzalo Winter (9%), da Frente Ampla, partido de Boric; e Jaime Mulet (2,7%), do pequeno partido Federação Regionalista Verde Social.

A legislação chilena proíbe o presidente de esquerda Gabriel Boric, de 39 anos, de concorrer a um segundo mandato consecutivo.

Acompanhada pelos outros candidatos das primárias, Jara fez um apelo à união da centro-esquerda para enfrentar a direita nas eleições presidenciais.

- As diferenças não são um problema, são uma oportunidade - afirmou Jara em seu discurso da vitória.

- A história da nova democracia do nosso país nos ensina isso, com o trabalho desenvolvido por todos os ex-presidentes do Chile desde o retorno à democracia - declarou em sua fala, na qual destacou figuras da esquerda chilena como Salvador Allende, Michelle Bachelet e o próprio Boric.

A jornada eleitoral, marcada pelo frio do inverno em boa parte do país, também foi caracterizada por baixa participação.

Jara, advogada de 51 anos e militante do Partido Comunista, surgiu como opção presidencial após sua gestão no Ministério do Trabalho, durante a qual foi aprovada a redução da jornada semanal de trabalho de 45 para 40 horas.

Ela também impulsionou e liderou as negociações para a aprovação de uma aguardada reforma da previdência.

Criada em um bairro pobre do norte da capital chilena, foi presidenta da federação de estudantes da Universidade de Santiago do Chile.

É a primeira vez na história chilena que uma ampla aliança política lança um integrante do Partido Comunista como candidato presidencial.

Baixa participação

Pouco mais de 1,4 milhão de eleitores participaram dessas eleições, embora mais de 15 milhões de pessoas estivessem aptas a votar — entre inscritos nos partidos da coalizão governista e eleitores independentes.

- A participação eleitoral é decepcionante para o governo do ponto de vista de que foi inferior à das primárias de 2021, que colocaram Boric contra o comunista Daniel Jadue e reuniram mais de 1,7 milhão de votos, disse Nerea Palma, acadêmica da Universidade Diego Portales.

Nas primárias de quatro anos atrás, o setor do socialismo democrático — agora representado por Tohá — não estava presente, destacou Palma.

Apenas a coalizão governista optou por realizar eleições primárias conforme previsto na legislação, organizadas pelo Servel.

Os outros setores já indicaram ou indicarão seus candidatos internamente.

As primárias deste domingo eram voluntárias, ao contrário de outras eleições no país que são obrigatórias.

Os únicos eleitores impedidos de votar foram os filiados a partidos da oposição.

Enfrentar a direita favorita

Jara será a representante da esquerda para enfrentar os candidatos da oposição, o ultradireitista José Antonio Kast e a representante da direita tradicional Evelyn Matthei, favoritos nas pesquisas.

Agora candidata oficial do governo, ela terá o desafio de se tornar uma figura competitiva diante dos nomes da direita e crescer nas sondagens, para ter chances de chegar ao segundo turno presidencial.

- Embora Tohá fosse uma candidata melhor para enfrentar a direita, a partir de agora tudo começa do zero, e vai depender de como Jara construirá sua campanha - explicou Mireya Dávila, acadêmica da Faculdade de Governo da Universidade do Chile.

- Será importante observar como será sua relação com a centro-esquerda e, especialmente, com seu partido (o Comunista), que ela terá de controlar para evitar uma fuga de votos para a direita - destacou a especialista.

Os candidatos de outros setores têm prazo até 18 de agosto para se registrar junto ao Servel.

O primeiro turno das eleições presidenciais será em 16 de novembro.

Caso nenhum dos candidatos ultrapasse 50% dos votos, os dois mais votados disputarão um segundo turno em 14 de dezembro.

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