O presidente Lula com Khaled bin Mohamed bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro de Abu Dhabi (Ricardo Stuckert/PR)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 6 de julho de 2025 às 11h33.
Última atualização em 6 de julho de 2025 às 11h59.
Rio de Janeiro - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas ao ataque feito contra o Irã, por Israel e Estados Unidos, e questionou a falta de respeito às regras internacionais em seu discurso de abertura da reunião de cúpula do Brics, no Rio de Janeiro.
"O temor de uma catástrofe nuclear voltou ao cotidiano. As violações recorrentes da integridade territorial dos Estados, em detrimento de soluções negociadas, solapam os esforços de não-proliferação de armas atômicas", disse o presidente.
"Sem amparo no direito internacional, o fracasso das ações no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na Síria tende a se repetir de forma ainda mais grave. Suas consequências para a estabilidade do Oriente Médio e Norte da África, em especial no Sahel, foram desastrosas e até hoje são sentidas. O governo brasileiro denunciou as violações à integridade territorial do Irã, como já havia feito no caso da Ucrânia", afirmou.
Sobre Ucrânia, Lula disse considerar urgente "que as partes envolvidas na guerra na Ucrânia aprofundem o diálogo direto com vistas a um cessar-fogo e uma paz duradoura".
O líder brasileiro falou ainda sobre o conflito na Faixa de Gaza
"Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas. Mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza e a matança indiscriminada de civis inocentes e o uso da fome como arma de guerra", disse.
"A solução desse conflito só será possível com o fim da ocupação israelense e com o estabelecimento de um Estado palestino soberano, dentro das fronteiras de 1967", afirmou.
Lula também criticou a falta de poder de ação de entidades internacionais, como a ONU.
"O direito internacional se tornou letra morta, juntamente com a solução pacífica de controvérsias. Nos defrontamos com número inédito de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. A recente decisão da Otan alimenta a corrida armamentista. É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento", afirmou.
Em seguida, ele defendeu que o Brics seja protagonista na reforma do sistema internacional.
"Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século 21, cabe ao Brics contribuir para sua atualização. Sua representatividade e diversidade o torna uma força capaz de promover a paz e de prevenir e mediar conflitos. Podemos lançar as bases de uma governança revigorada", afirmou.
O domingo será o dia mais cheio da agenda dos líderes no Brics. O evento começou com uma cerimônia de chegada, em que as autoridades estrangeiras foram recebidas por Lula, e se estende até a noite, com um jantar oficial.
O dia terá duas sessões de debate, uma sobre "Paz e Segurança e Reforma da Governança Global" e outra sobre “Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial”
Neste domingo, também foi entregue aos chefes de Estado uma lista de 24 propostas elaboradas pelo setor empresarial, com medidas que poderão facilitar o comércio e os negócios entre os países do bloco.
Antes da reunião de cúpula, houve diversos outros eventos paralelos. No sábado, 5, foi realizado um fórum empresarial, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com autoridades e empresários dos países do bloco.
Também no sábado, houve um encontro de ministros da economia e presidentes de banco central. Eles emitiram uma declaração ao final do encontro em que criticam as tarifas comerciais impostas de forma unilateral e defendem mudanças para que os mais ricos paguem mais impostos.
Lula fez reuniões no sábado com chefes de Estado e representantes da Etiópia, Vietnã, Emirados Árabes Unidos, Nigéria e China.
Nesta última conversa, o premiê chinês Li Qiang se comprometeu a intensificar os trâmites para reconhecimento do Brasil como livre da gripe aviária e livre de febre aftosa sem vacinação.
O Brics é um grupo que reúne países emergentes para discutir questões econômicas e políticas.
Criado em 2006, o bloco reunia inicialmente Brasil, Rússia, Índia e China, cujas letras formavam a sigla Bric (tijolo, em inglês). Depois, em 2011, houve a entrada da África do Sul, chamada de South Africa em ingles, o que originou a sigla Brics.
Em 2024, foram admitidos mais seis países, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
A cada ano, um país ocupa a presidência do bloco e organiza uma reunião de cúpula em seu território. O Brasil comanda o grupo em 2025.
Horários fornecidos pela organização do evento e pela Presidência da República.
Domingo, 6 de julho
09h30: Cerimônia oficial de chegada dos Chefes de Estado e de Governo
10h30: Fotografia de família dos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros
10h50: Sessão plenária “Paz e Segurança e Reforma da Governança Global”
12h35: Almoço de trabalho e debate sobre o tema “Paz e Segurança e Reforma da Governança Global”
14h - Adoção da Declaração da 17ª Reunião de Cúpula dos Brics
14h45: Cerimônia oficial de chegada dos Chefes de Delegação de Organismos Internacionais, Países de Engajamento Externo e Países Parceiros
16h: Sessão plenária “Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial”
19h30 - Adoção da Declaração sobre Inteligência Artificial
20h: Recepção oficial oferecida pelo Presidente da República e pela senhora Janja Lula da Silva aos Chefes de Estado e de Governo e aos dirigentes de Organismos Internacionais
Segunda-feira, 7 de julho
08h45 — Fotografia de família dos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros, parceiros e de engajamento externo
09h — Sessão plenária “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”