Agência de Notícias
Publicado em 13 de outubro de 2025 às 09h42.
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que manteve duas conversas "excelentes" e "amistosas" com seu homólogo americano, Donald Trump, e que está convencido de que algumas de suas decisões "se basearam em informação incorreta que recebeu sobre a situação política e o comércio internacional do Brasil", em uma entrevista publicada nesta segunda-feira no jornal Corriere della Sera.
"Tive duas excelentes reuniões com o presidente Trump, primeiro em Nova York e depois na semana passada por telefone. Foram conversas muito amistosas entre dois presidentes com experiência de dois países que representam as maiores democracias do Ocidente. Nossas equipes estão trabalhando para agendar uma reunião presencial", explicou o mandatário, que está na Itália para participar de um evento do Fórum Mundial da Alimentação da FAO.
Sobre a imposição de tarifas de 50% ao Brasil por parte dos Estados Unidos, Lula garantiu que "o Brasil sempre esteve aberto ao diálogo e à negociação, mantendo uma postura muito clara: nossa democracia e soberania não são negociáveis", e que "algumas das decisões do presidente Trump se basearam em informação incorreta que recebeu sobre a situação política e o comércio internacional do Brasil".
"Mas, à medida que continuarmos nosso diálogo, poderemos esclarecer estas questões. Brasil e Estados Unidos têm 201 anos de sólidas relações diplomáticas e comerciais, e graças a este diálogo, poderemos fortalecê-las ainda mais, em uma verdadeira relação de benefício mútuo que beneficie os povos de ambos os países", acrescentou.
A respeito das declarações de Trump, que qualificou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro como "caça às bruxas", Lula defendeu que "ninguém pode desviar um tribunal de juízes de seu dever de fazer cumprir a lei".
"Houve uma tentativa de golpe de Estado no Brasil e um complô para me assassinar, assim como ao vice-presidente e a um ministro do Supremo Tribunal (...) Agora, pela primeira vez em 525 anos de história, um ex-chefe de Estado foi condenado por um complô golpista. Isso servirá de exemplo para que ninguém se atreva a atacar novamente o Estado de Direito democrático no Brasil", assinalou.
Lula adiantou que em seu discurso na FAO destacará que "a fome e a pobreza não são resultado da escassez, mas fruto de uma decisão política. Em 2024, os gastos militares registraram o maior aumento desde o fim da Guerra Fria, alcançando US$ 2,7 trilhões. Ao mesmo tempo, 673 milhões de pessoas passam fome. Esta situação continua sendo uma vergonha para a humanidade".
O petista também defendeu uma reforma das Nações Unidas, por considerar "inexplicável que países como o Brasil e outras grandes nações do Sul Global não ocupem assentos permanentes, já que é a pluralidade de vozes que funciona como fator de equilíbrio" e que "a ONU deve ter a força para atuar em questões climáticas e prevenir conflitos como o genocídio em Gaza e a guerra na Ucrânia".