Agência de notícias
Publicado em 24 de setembro de 2025 às 16h10.
Última atualização em 24 de setembro de 2025 às 16h36.
O líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta quarta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu a “fazer tudo o que estiver ao seu alcance” para aproximar a Ucrânia da paz.
A declaração foi feita logo após o encontro bilateral entre os líderes, realizado na semana da Assembleia Geral da ONU, em Nova York — a primeira reunião formal entre os dois desde 2022, quando se encontraram também na sede das Nações Unidas.
— Tivemos boas conversas com o presidente Lula. Na última vez, tivemos uma conversa ampla aqui em Nova York, e isso foi há dois anos. É bom que haja sinais do Brasil, do presidente do Brasil e de sua equipe, de que eles apoiam, antes de tudo, o cessar-fogo e a paz para o povo ucraniano — disse Zelensky, agradecendo pela “posição clara” do líder brasileiro no encontro, que durou cerca de 1 hora e também abordou temas como comércio e economia. — Acho que continuaremos da próxima vez, talvez em um futuro próximo.
A declaração de Zelensky veio um dia depois de Lula voltar a defender, em seu discurso na ONU, a via diplomática como única saída viável para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia. O presidente citou como exemplo o recente encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, realizado no Alasca no mês passado, e reiterou o compromisso do chamado “Grupo de Amigos da Paz” — iniciativa liderada por Brasil e China — com a mediação do conflito.
— No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar. O recente encontro no Alasca despertou a esperança de uma saída negociada. É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista. Isso implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as partes. A Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos da Paz, criado por China e Brasil, podem contribuir para promover o diálogo — disse.
Apesar das expectativas, Lula e Zelensky não se reuniram durante a cúpula do G7 realizada no Canadá em junho deste ano. Ambos participaram do encontro, mas não houve conversas bilaterais. Meses antes, o presidente ucraniano havia criticado publicamente a decisão do brasileiro de viajar a Moscou para participar da celebração dos 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista, e chegou a recusar uma ligação de Lula.
Zelensky também já havia minimizado o papel do petista na mediação do conflito com a Rússia, dizendo que ele “não era um ator relevante” e acusando-o de enxergar as relações com Moscou como se ainda estivesse em vigor a lógica da antiga União Soviética. Em 2023, Lula irritou Kiev ao afirmar que Ucrânia e Rússia dividiam a responsabilidade pelo início da guerra — declaração considerada inaceitável pelo governo ucraniano, que foi alvo de uma invasão unilateral.
Diante desse histórico, a recepção mais amistosa de Zelensky nesta nova rodada de conversas surpreendeu interlocutores do governo brasileiro, segundo uma publicação do jornal O Globo na terça-feira. A avaliação é a de que o ucraniano tenta diversificar alianças e atrair apoios fora do eixo EUA-Otan, especialmente após a cúpula promovida por Trump no Alasca não ter apresentado avanços nas negociações.
O Itamaraty confirmou o encontro entre ambos, e disse que Zelensky teria "agradecido os esforços do presidente Lula de encontrar caminhos para a paz, explorando possibilidades em diálogo com outros países". O brasileiro, por sua vez, "reafirmou sua disposição de seguir contribuindo para a resolução pacífica do conflito".
"Ao lamentar o sofrimento humano causado pelos mais de três anos combate, Lula reiterou sua convicção de que não haverá saída militar para o conflito. Expressou apoio ao processo de diálogo direto entre as partes iniciado em maio último, em Istambul, bem como às recentes conversas mantidas no Alasca e em Washington. Defendeu maior engajamento da ONU na busca por uma solução negociada, que leve em conta as preocupações de segurança dos dois lados. Ponderou que um entendimento sobre as condições de um cessar-fogo deveria ser o primeiro passo de um processo de negociação", relatou o Planalto em nota.