O presidente Lula, durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York (Brendan Smialowski/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 15h40.
Última atualização em 25 de setembro de 2025 às 15h50.
Apesar de ter ocorrido a primeira conversa entre os presidentes Lula e Donald Trump, ocorrida na terça-feira, 23, a relação entre os dois países seguirá difícil, avalia a consultoria Eurasia. Nesse contexto, um caminho para avançar as negociações é oferecer concessões em duas áreas de interesse de Trump: as barreiras ao etanol americano no Brasil e o acesso a minerais críticos no país.
"Apesar da possibilidade de um telefonema, é mais provável que o relacionamento permaneça tenso, com novas sanções americanas a caminho. Embora Trump tenha levantado a possibilidade de construir um relacionamento pessoal com Lula, o cenário mais provável é que pouca coisa mude no relacionamento bilateral", afirma a Eurasia.
"Lula não pode alterar a condenação de Bolsonaro e o governo dos EUA provavelmente adotará uma linha dura em relação a concessões comerciais. De forma mais ampla, há pouco que Lula possa entregar a Trump em um telefonema", diz a consultoria.
A Eurasia aponta que, para conseguir reduzir as tarifas americanas, hoje em 50% para a maioria dos itens brasileiros, o país teria de fazer concessões, como a de reduzir a taxa sobre o etanol americano, hoje em 18%, além de colocar na mesa o acesso a minerais críticos.
"O governo Lula abordaria quaisquer concessões sobre minerais essenciais com cautela, já que afirmou repetidamente que não criaria regras especiais para que países estrangeiros explorem os recursos brasileiros", diz a Eurasia.
"Nesse contexto, um acordo semelhante ao acordo EUA-Ucrânia, concedendo aos EUA acesso preferencial a projetos de investimento nos recursos naturais da Ucrânia, permanece altamente improvável", afirma.
A consultoria destaca ainda que outros países que fizeram acordos com Trump se comprometeram a fazer investimentos diretos nos Estados Unidos, como a abertura de fábricas em território americano.
"É improvável que esse desenvolvimento altere a abordagem da Casa Branca em relação à continuidade das sanções contra o Brasil, mas uma linha direta entre Trump e Lula poderia pelo menos limitar o potencial de agravamento da divergência", diz a consultoria.
Na terça-feira, 22, Lula e Trump tiveram uma conversa nos corredores da Assembleia Geral da ONU e combinaram de marcar uma reunião na próxima semana.
Esta foi a primeira conversa entre os dois líderes desde a posse de Trump, em janeiro, e desde que o americano passou a pressionar o Brasil a suspender o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em agosto, os EUA impuseram uma tarifa de 50% aos produtos brasileiros.
"Eu estava entrando e o líder do Brasil estava saindo. Nós o vimos, e eu o vi, ele me viu e nos abraçamos. Combinamos que nos encontraríamos na semana que vem. Não tivemos muito tempo para conversar. Cerca de 20 segundos", disse Trump, durante seu discurso na Assembleia Geral.
"Tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na semana que vem. Ele pareceu um homem muito legal. Na verdade, ele gostou de mim. Eu gostei dele. Eu só faço negócios com pessoas de quem gosto. Tivemos uma química excelente. É um bom sinal", completou.
No dia seguinte, em entrevista coletiva, Lula disse que foi surpreendido com o gesto de aproximação do americano, e disse que quer encontrá-lo.
"Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu. Eu fiquei feliz que ele disse que pintou uma química boa entre nós. As relações humanas são 80% química e 20% emoção', disse Lula.
"É muito importante essa relação e eu torço para que dê certo, porque Brasil e Estados Unidos são as duas maiores democracias do continente. Nós temos muitos interesses empresariais, industriais, tecnológicos e científicos, no debate sobre a questão digital e a inteligência artificial e na questão comercial. Espero que, dentro de alguns dias, a gente possa se encontrar e fazer uma pauta positiva. É o que eu quero e acho que ele quer também', afirmou.
Lula disse que era melhor não antecipar os temas a serem levados pelo Brasil à reunião, mas que está aberto a debater de forma aberta. "Disse a Trump: não tem limite na nossa conversa. Vamos colocar tudo na mesa", afirmou. "Discutimos com o mundo inteiro as terras raras e os minerais críticos. Mas temos de ter um processo de industrialização dentro do Brasil", afirmou Lula.
Ele reafirmou, no entanto, que considera inegociável negociar temas relacionados à soberania do país, como o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Eu acho que ele tem informações equivocadas sobre o Brasil. Eu quero colocar para ele claramente. Eu vou falar o que está acontecendo no Brasil", disse Lula.