Um homem vasculha uma lixeira em Havana, em 15 de julho de 2025 (ADALBERTO ROQUE/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 16 de julho de 2025 às 08h00.
Última atualização em 16 de julho de 2025 às 08h04.
A ministra do Trabalho e Segurança Social de Cuba, Marta Elena Feitó, renunciou ao cargo após afirmar que não existem mendigos no país, mas apenas pessoas “disfarçadas de mendigos” — declaração que gerou forte repercussão em meio à crise econômica enfrentada pela ilha.
Segundo a imprensa estatal, a renúncia foi “avaliada pelas mais altas autoridades do Partido Comunista de Cuba” e aceita devido à “falta de sensibilidade e objetividade” demonstrada pela ministra.
A fala controversa foi feita na segunda-feira, 14, durante uma reunião parlamentar transmitida pela televisão nacional, quando Feitó tentou defender os programas sociais voltados à população mais vulnerável.
Sol e praia sem turistas: o antigo motor da economia cubana em crise“Vemos pessoas aparentemente mendigos, mas quando olhamos para as mãos, para as roupas que vestem, estão disfarçadas de mendigos. Em Cuba, não há mendigos”, declarou.
Ela também criticou os limpadores de para-brisa nos semáforos, dizendo que buscavam "uma vida fácil", e negou que quem revirasse lixo estivesse em busca de comida. A reação nas redes sociais foi imediata: “Lembre-se, em Cuba não há mendigos. São pessoas disfarçadas”, ironizou um internauta ao publicar fotos de pessoas catando restos de comida em contêineres.
O economista Pedro Monreal comentou no X: “Deve ser que também há gente disfarçada de ministra”.
Durante o próprio Parlamento, o presidente Miguel Díaz-Canel dedicou 20 minutos a corrigir publicamente a ministra. “Nenhum de nós pode atuar com soberba, com prepotência, desconectado da realidade”, afirmou. Sem usar a palavra “pobreza”, Díaz-Canel reconheceu a existência de cidadãos em “situação de vulnerabilidade” e “em situação de rua”.
A crise cubana já é considerada a pior em três décadas, com inflação acumulada de 190,7% entre 2018 e 2023, segundo o Centro de Estudos da Economia Cubana. O país enfrenta escassez de alimentos, medicamentos, apagões diários e falta de combustíveis, agravada por sanções econômicas dos Estados Unidos.
Segundo dados oficiais, há atualmente 189 mil famílias e 350 mil pessoas em situação vulnerável, em um país de 9,7 milhões de habitantes. A reportagem da AFP também confirmou o aumento da presença de pessoas em situação de rua e pedindo esmolas em diversas cidades cubanas.