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Mudanças de Milei no câmbio geram onda de calotes de empresas na Argentina

Muitas empresas enfrentam dificuldades para pagar suas dívidas, como títulos emitidos e empréstimos bancários

Agência o Globo
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Publicado em 12 de agosto de 2025 às 20h04.

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As reformas de Javier Milei trouxeram estabilidade ao caótico mercado cambial argentino e elogios dos investidores. Mas, a reestruturação também impulsiona a pior sequência de calotes corporativos desde a pandemia.

Muitas empresas não estão conseguindo pagar suas dívidas, como títulos emitidos e empréstimos bancários, e ficam inadimplentes.

Os custos de captação no mercado local crescem, especialmente para empresas dependentes do peso. E muitas delas enfrentam fluxos de caixa apertados e altos níveis de dívida depois que o presidente Milei retirou a maioria dos controles de câmbio para indivíduos.

Mais de meia dúzia de empresas entraram em default ou iniciaram negociações sobre dívidas este ano. Uma delas é a concessionária de energia Grupo Albanesi, já que as mudanças de Milei ocorreram quando a empresa já estava em uma situação financeira frágil.

Essa pressão deve continuar. Balanços de companhias em setores como agricultura, energia e manufatura já mostram sinais de estresse, de acordo com Ezequiel Fernández, chefe de pesquisa de crédito e ações da Balanz Capital.

— Se a Argentina quiser virar a página macro, um certo nível de ‘destruição criativa’ em nível micro precisa acontecer — disse Fernández. — Afinal, mudanças de regime criam vencedores e perdedores.

Nova lógica financeira

Por trás do aumento da inadimplência está uma estratégia de financiamento que não funciona mais. Antes de Milei, as empresas se aproveitavam dos controles cambiais e emitiam títulos denominados em dólares que eram liquidados em moeda local, também conhecidos como títulos indexados ao dólar.

Com isso, muitas delas conseguiram fixar taxas negativas, à medida que os investidores buscavam proteção contra a disparada da inflação e a desvalorização cambial.

Desde que Milei assumiu o poder, a diferença entre as taxas oficiais e paralelas foi reduzida e o apetite dos investidores por estes instrumentos de dívida diminuiu, o que forçou as empresas a arcar com os custos crescentes dos juros.

Esta nova realidade empurra cada vez mais empresas para um território de estresse, em que empresas renegociam os termos dos próximos pagamentos de dívida ou pedem aos acionistas novo capital para evitar o default.

As taxas médias de juros dos títulos indexados ao dólar subiram para 11% no primeiro trimestre de 2025, mais que o dobro dos 5% registrados no mesmo período do ano passado, de acordo com um relatório da Moody’s Ratings.

Em resposta, as vendas de títulos indexados ao dólar recuaram para apenas US$ 2 milhões no primeiro trimestre, ante US$ 165 milhões no mesmo período de 2024.

Enquanto isso, as empresas emitiram US$ 1,1 bilhão em títulos denominados em dólares, mais que o dobro do montante emitido no mesmo período do ano anterior, já que as taxas de juros médias permaneceram estáveis em 6%, de acordo com o relatório.

— Em 2025, estamos vivenciando o maior número de defaults desde a pandemia — disse José Antonio Molino, diretor associado da Moody’s Argentina. — O mercado atrelado ao dólar praticamente desapareceu.

Foram registrados oito defaults desde novembro, incluindo falta de pagamentos ou reestruturações, disse ele. O levantamento considera as três empresas do Grupo Albanesi como um único grupo.

Margens mais apertadas na indústria

A campanha de austeridade de Milei também comprime as margens, inclusive no setor manufatureiro. As empresas enfrentam custos operacionais mais altos, poder de compra reduzido e concorrência acirrada do exterior, já que a valorização do peso deixou a moeda local amplamente supervalorizada.

O Ministério da Economia da Argentina não respondeu a um pedido de comentário.

Empresas com classificação A+.ar ou inferior na escala local da Moody’s — geralmente empresas de médio a pequeno porte — enfrentam atualmente os maiores riscos de refinanciamento, de acordo com Molino. Dentro da escala, uma classificação A.ar indica “qualidade de crédito acima da média em relação a outros emissores argentinos”, e A+.ar marca o topo da categoria.

“Os riscos de refinanciamento permanecem altos nos próximos 12 a 18 meses devido à baixa liquidez no mercado local para empresas de médio e pequeno porte”, disse Molino. “Estamos observando um alto grau de fuga para a qualidade no mercado local”, acrescentou ele.

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