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Musk diz que Trump teria perdido as eleições sem ele e acusa presidente de 'ingratidão'

Após deixar governo, bilionário criticou megaprojeto de lei do presidente americano

Elon Musk, dono da Tesla, ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca (Kevin Dietsch/Getty Images)

Elon Musk, dono da Tesla, ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca (Kevin Dietsch/Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 5 de junho de 2025 às 14h29.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira que não sabe se sua relação próxima com o bilionário Elon Musk continuaria, afirmando estar "muito decepcionado" com as críticas do magnata ao seu megaprojeto de lei. O CEO da Tesla, que até recentemente era conselheiro do mandatário americano, tem se mostrado frustrado com o projeto de lei tributária que está no centro da agenda doméstica do republicano. Após as falas de Trump, Musk disse que, sem sua ajuda, Trump teria perdido a eleição.

— Elon e eu tínhamos uma ótima relação. Não sei se continuaremos tendo. Fiquei surpreso — disse Trump a repórteres no Salão Oval, depois que seu ex-assessor Musk criticou o projeto de lei como uma "abominação". — Eu ajudei muito Elon. Ele já disse as coisas mais bonitas sobre mim, e não falou mal de mim pessoalmente, mas tenho certeza de que isso será o próximo [passo].

“Sem mim, Trump teria perdido a eleição, os democratas controlariam a Câmara e os republicanos teriam 51-49 no Senado. Que ingratidão”, escreveu Musk no X.

Trump disse ainda que Musk sente falta do Salão Oval e o comparou a outros ex-assessores que se tornam hostis depois que deixam seu governo. Ele ainda minimizou o papel do bilionário — que gastou mais de US$ 250 milhões para apoiar sua candidatura — em ajudá-lo durante a campanha, afirmando que teria vencido na Pensilvânia sem seu apoio. As declarações são o sinal mais recente do afastamento entre os dois, que antes eram aliados próximos, após a saída de Musk da administração.

— Estou muito decepcionado porque o Elon conhecia os bastidores desse projeto de lei melhor do que quase qualquer um aqui. De repente ele teve um problema, e só desenvolveu esse problema quando descobriu que teríamos que cortar a exigência dos veículos elétricos.

Musk negou essa motivação em uma postagem no X, dizendo: "Falso, esse projeto de lei nunca me foi mostrado uma única vez e foi aprovado na calada da noite tão rápido que quase ninguém no Congresso conseguiu lê-lo!". Ele também afirmou que não se opunha à redução dos créditos para veículos elétricos, desde que os legisladores “cortem a MONTANHA de VERGONHOSAS BENESSES escondidas no projeto.”

Na semana passada, Musk expressou insatisfação com o amplo projeto de lei tributária de Trump, afirmando que ele prejudica seus esforços para reduzir os gastos do governo. Ao anunciar estar se afastando do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) — órgão que rapidamente se tornou um símbolo da visão do segundo governo — disse em entrevista à CBS News que ficou “decepcionado” ao ver a proposta destinada a implementar a agenda de política interna do presidente.

— Fiquei decepcionado ao ver esse projeto de gastos massivo, que aumenta o déficit orçamentário, em vez de reduzi-lo — disse o bilionário sul-africano em um trecho de entrevista ao programa “Sunday Morning”.

Musk se aproximou de Trump ainda na campanha, e após a chegada do republicano à Casa Branca ganhou poderes amplos para cortar gastos considerados desnecessários pela nova administração: um dos casos mais emblemáticos foi o desmantelamento da Usaid, a agência do governo americano responsável pela ajuda externa.

Contudo, os resultados ficaram aquém do esperado. Dos US$ 1 trilhão que ele disse esperar cortar do orçamento federal, a redução foi de US$ 175 bilhões até meados de maio. Ao mesmo tempo, manteve batalhas internas e judiciais para obter acesso a informações sensíveis de cidadãos americanos, como os sistemas do IRS, a Receita Federal americana, e da Seguridade Social.

O que prevê o projeto

O projeto incorpora grande parte da agenda econômica de Trump. Ele tornaria permanentes os cortes de impostos sobre a renda pessoal de 2017 e incluiria novos benefícios prometidos durante a campanha — como a eliminação de impostos sobre gorjetas e pagamento de horas extras até 2028. Também aumentaria o teto para a dedução federal de impostos estaduais e locais de US$ 10 mil para US$ 40 mil.

Para ajudar a compensar o custo do alívio fiscal, o projeto da Câmara impõe cortes históricos no Medicaid e no programa de vale-alimentação, dois dos principais programas de assistência social do país. O pacote estabeleceria exigências de trabalho para o Medicaid, que fornece seguro de saúde a americanos de baixa renda, e ampliaria os critérios de trabalho exigidos para o SNAP, o programa suplementar de assistência nutricional, publicou a rede americana CNN.

O projeto também aumentaria os gastos com defesa, segurança na fronteira e fiscalização da imigração — entre as prioridades de Trump. Análises independentes mostram que o alívio fiscal no projeto beneficiaria os lares de renda mais alta de maneira desproporcional, com impacto ainda mais acentuado se os cortes de gastos forem considerados. Os grupos de menor renda veriam seus rendimentos cair, após impostos e certos benefícios do governo serem levados em conta, enquanto os mais ricos teriam aumento na renda, segundo estimativa do Penn Wharton Budget Model sobre a versão final do projeto da Câmara.

Previsão de déficit

O amplo pacote de cortes de impostos e gastos aprovado pelos republicanos na Câmara dos Estados Unidos aumentaria o déficit do país em US$ 2,4 trilhões na próxima década, segundo análise do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), uma agência apartidária, divulgada na quarta-feira. A estimativa deve complicar a tarefa do líder da maioria no Senado, John Thune, de formular uma versão da legislação que consiga a aprovação da bancada, que está amplamente dividida.

Vários senadores republicanos já expressaram preocupação com o impacto potencial do projeto da Câmara sobre o déficit e querem cortes de gastos ainda mais profundos, ao mesmo tempo em que outros estão cautelosos em relação aos grandes cortes na rede de proteção social do país — especialmente o Medicaid — previstos no texto aprovado pela Câmara. Segundo o relatório do CBO, se aprovado, o pacote faria com que quase 11 milhões de pessoas a mais ficassem sem seguro em 2034.

“Sinto muito, mas simplesmente não aguento mais. Esse projeto de gastos do Congresso, gigantesco, ultrajante e cheio de privilégios, é uma abominação repugnante”, postou Musk no X na quarta-feira. Ele, que recentemente se afastou de seu cargo no governo federal, acrescentou: “O Congresso está levando os EUA à falência”.

Autoridades da administração Trump têm buscado desqualificar as projeções do CBO, classificando-as como imprecisas e alegando que elas não consideram o impacto positivo sobre o crescimento econômico que os cortes de impostos, juntamente com o aumento de tarifas e a desregulamentação, proporcionarão. Trump e sua equipe econômica também argumentam que os EUA arrecadarão centenas de bilhões de dólares por ano com os novos e mais altos níveis tarifários.

No entanto, ainda há muita incerteza em torno das tarifas, já que a administração Trump continua a negociar com parceiros comerciais e pode fazer alterações. O diretor do CBO, Phillip Swagel, também alertou que “como os Estados Unidos não implementam aumentos tarifários dessa magnitude há muitas décadas, há poucas evidências empíricas relevantes sobre seus efeitos”. O CBO afirmou que uma análise levando em conta os efeitos econômicos da legislação será divulgada em breve.

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