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Na Argentina, 30% vive bem e 70% sofre, diz economista

Economista alerta para esgotamento da paciência popular com o ajuste econômico iniciado há dois anos

Publicado em 23 de outubro de 2025 às 12h06.

Última atualização em 23 de outubro de 2025 às 12h45.

Às vésperas das eleições legislativas de meio de mandato, marcadas para este domingo, 26, a Argentina vive um momento de crescente tensão social. Em entrevista à agência de notícias AFP, o economista Guillermo Oliveto alertou para o esgotamento do apoio popular ao plano de austeridade do presidente Javier Milei.

Segundo Oliveto, o país está dividido em uma “sociedade dual”: 30% da população vive bem, enquanto 70% enfrenta dificuldades para chegar ao fim do mês. Para os argentinos, relatos de "paguei a dívida, as despesas fixas e fiquei sem dinheiro" são comuns, de acordo com o estudo do economista.

"O governo subestimou o impacto que a economia real tem na vida cotidiana, no humor social e, consequentemente, no humor eleitoral", disse ele.

A realidade, para Oliveto, aprofundou um processo de fragmentação que já estava em curso. Enquanto uma minoria compra carros, imóveis e viagens ao exterior, a maioria sacrifica necessidades básicas diante da perda do poder de compra.

"Quando alguém de seu círculo íntimo fica sem emprego, a paciência se esgota. Em uma situação de perda de poder aquisitivo, se você tem como gerar renda, mais ou menos consegue lutar. Se perde sua fonte de renda, está fora do jogo", afirmou à AFP.

Crise prolongada e apoio em queda

Dois anos após o início do governo, a queda no consumo é comparável à crise de 2002, a pior da história recente do país. Para Oliveto, o presidente recebeu um “bônus de tolerância” dos eleitores ao propor um ajuste severo como saída para o colapso do modelo anterior.

Mas a paciência começa a se esgotar. “O que era um estado de espírito estoico, de prudência, agora se tornou sacrificial”, disse. Mais de 200 mil empregos foram perdidos, e a aprovação de Milei caiu de 60% para 38%.

“Me dê uma saída”

A principal preocupação dos argentinos hoje gira em torno do emprego, dos salários baixos e da renda insuficiente. “As pessoas dizem: ‘não vivo melhor, não posso me dar ao luxo’”, explica Oliveto.

Segundo ele, o governo subestimou o impacto da economia cotidiana no humor social e eleitoral. “Reduzir a inflação era necessário, mas não suficiente. Subestimar as complexidades da trama social produtiva um dia cobra seu preço”, afirmou.

A derrota do partido de Milei nas eleições locais de Buenos Aires, em 7 de setembro, foi classificada por Oliveto como um alerta claro. Para ele, é preciso aplicar vários “resets” conceituais e práticos. "Milei é um caso absolutamente inédito: os argentinos detestam o ajuste (orçamentário). Eles gostam de viver bem. Que tenham votado em um senhor que vinha com uma motosserra expressa que chegaram a um momento muito sufocante com o modelo anterior", disse.

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