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No conflito entre Índia e Paquistão, teria sido a China a real vencedora?

Recente confronto entre as potências nucleares vizinhas permitiu, pela primeira vez em décadas, testar as armas chinesas em combate

O caça chinês Chengdu J-10C  (Hiroki.loh.st/Creative Commons)

O caça chinês Chengdu J-10C (Hiroki.loh.st/Creative Commons)

Agência o Globo
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Publicado em 21 de maio de 2025 às 07h10.

Última atualização em 21 de maio de 2025 às 07h13.

Paquistão e Índia, duas potências nucleares vizinhas, se envolveram em quatro dias de ataques e contra-ataques de 6 a 10 de maio, nos piores confrontos desde o último conflito aberto em 1999, aumentando os temores de uma guerra abrangente. O recente confronto permitiu também, pela primeira vez em décadas, testar as armas chinesas em combate, surpreendendo governos e analistas por sua eficácia.

Apenas uma semana após o cessar-fogo, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão visitou a China, o maior fornecedor de armas de seu país. Durante o conflito, Islamabad alegou que os aviões fornecidos pela China conseguiram derrubar seis aeronaves indianas, incluindo três caças franceses Rafale. A Índia não respondeu a essas alegações.

— Perdas fazem parte do combate — disse o Marechal do Ar AK Bharti, da Força Aérea Indiana (IAF), na semana passada, citado pela BBC, recusando-se a comentar a alegação paquistanesa. — Atingimos os objetivos que selecionamos e todos os nossos pilotos estão de volta em casa.

Alguns observadores enxergaram nisso um exemplo do crescente poderio militar de Pequim. No entanto, outros especialistas foram mais cautelosos: a falta de informações confirmadas e o alcance limitado dos combates dificultam determinar a capacidade dos equipamentos chineses.

À BBC, o coronel aposentado do Exército de Libertação Popular da China, Zhou Bo, disse que "o combate aéreo foi uma grande propaganda para a indústria de armas chinesa", acrescentando que, "até agora, a China não teve oportunidade de testar suas plataformas em situações de combate".

De todo modo, os confrontos foram "uma oportunidade excepcional" para a comunidade internacional, já que permitiram comparar "o material militar chinês no campo de batalha com o ocidental (indiano)", segundo Lyle Morris, do Asia Society Policy Institute.

Investimento alto

A China investe anualmente centenas de bilhões de dólares em defesa, mas ainda está muito atrás dos Estados Unidos como exportador de armas.

Os drones do gigante asiático são usados em operações antiterroristas e a Arábia Saudita já usou suas armas no Iêmen e na África, disse à AFP Siemon Wezeman, pesquisador do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri).

— No entanto, é a primeira vez desde a década de 1980 que um Estado utiliza grandes quantidades de armas chinesas de muitos tipos em ação contra outro Estado — acrescentou, em referência à guerra entre Irã e Iraque, quando ambos usaram as armas de Pequim.

Opção principal

O Paquistão é responsável por cerca de 63% das exportações de armas chinesas, de acordo com o Sipri. Em combates recentes, Islamabad utilizou aeronaves J10-C Vigorous Dragon e JF-17 Thunder, armadas com mísseis ar-ar. Foi a primeira vez que o J10-C foi usado em combate ativo, disse Yun Sun, do Stimson Center.

Segundo a BBC, as ações da empresa chinesa Avic Chengdu Aircraft, que fabrica o modelo, subiram até 40% na semana passada após o desempenho divulgado do caça no conflito.

As defesas aéreas de Islamabad também usaram equipamentos chineses, como o sistema de mísseis terra-ar de longo alcance HQ-9P, e implantaram radares, drones armados e de reconhecimento.

— Este foi o primeiro combate sustentado em que a maior parte das forças paquistanesas usou armas chinesas e essencialmente confiou nelas como sua principal opção — disse Bilal Khan, fundador do Quwa Defense News & Analysis Group, sediado em Toronto.

A Índia não confirmou que perdeu alguns de seus aviões, embora uma fonte de segurança tenha dito à AFP que três aeronaves caíram em seu território, sem especificar a marca ou a causa. O fabricante do Rafale, Dassault, também não reagiu. Alguns veículos de comunicação citam quedas de aviões no estado de Punjab e na Caxemira administrada pela Índia na mesma época, mas sem confirmações oficiais do governo indiano.

Os Rafale são considerados um dos caças europeus de mais alta tecnologia, enquanto o J10-C "não é nem o mais avançado da China", afirmou James Char, da Universidade Tecnológica de Nanyang, na Singapura.

No entanto, se as afirmações do Paquistão estiverem certas, "isso não deveria surpreender (...), já que o Rafale é um caça polivalente, enquanto o J10-C foi construído para o combate aéreo e também está equipado com um radar mais potente", acrescentou.

Percepção de vitória

Pequim também não se pronunciou sobre as alegações do Paquistão, mas, segundo a BBC, há relatos não confirmados de que as ações teriam causado certo furor nas redes sociais chinesas, inundadas com mensagens nacionalistas, embora seja difícil chegar a uma conclusão com as informações disponíveis.

— No momento, a percepção importa muito mais do que a realidade. Se enxergarmos dessa forma, o principal vencedor é realmente a China — disse Carlotta Rinaudo, pesquisadora da China na Equipe Internacional para o Estudo de Segurança em Verona, à rede britânica.

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